Cartunista torna ciência atraente por meio de HQ

Autor das “Cientirinhas”, Marco Merlin fala sobre suas bem-humoradas criações gráficas em mesa nesta quinta-feira (22), na UFJF


Por Mauro Morais

21/11/2018 às 07h00

Marco Merlin desperta o interesse pela ciência por meio de suas tirinhas (Foto: Divulgação)

Tão pequenina, como pode suportar tanto. A formiga suporta até cem vezes o próprio peso, ensina a tirinha mais recente publicada pelo cartunista Marco Merlin no site do podcast (programa virtual em áudio) Dragões de Garagem. Hilária, a 119ª criação da série “Cientirinhas” brinca com o universo das redes sociais ao associar uma formiga sedentária com recalque de outra, da mesma espécie, se exercitando ao carregar uma grande folha e postando o esforço no Instagram. Ao fazer a divulgação de um fato científico, o artista de Belo Horizonte faz humor sofisticado. “É um equilíbrio sempre complicado, porque se eu fizesse tirinhas apenas focado na transmissão do conhecimento científico, não seria uma tirinha, mas um pequeno artigo ilustrado. O que faz com que a tira tenha o alcance que tem é o humor. Costumo dizer que o humor é a isca, o anzol.

(Foto: Reprodução)

Muitas vezes um saber científico relativamente árido só desperta interesse quando tem uma piada no final. Acho fundamental encontrar uma maneira de envolver o fato da ciência da tira com algum tipo de identificação pessoal com o que está sendo falado. As pessoas precisam se enxergar de alguma forma naquilo, se familiarizar com o conhecimento e torná-lo relevante na vida delas. Meu foco é permitir que as pessoas se identifiquem com a tira, fazendo com que a ciência seja algo mais próximo”, comenta Merlin.

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Ao lado da PhD em teologia e podcaster Tupá Guerra, também colaboradora do Dragões de Garagem, e de Vinicius Marangon e Lucas Miltre, do canal Cura Quântica, o cartunista integra a mesa-redonda das 15h da sexta edição do Fala Ciência!, curso de comunicação pública da ciência e tecnologia. O evento acontece nesta quinta, 22, das 9h às 17h, no Centro de Ciências da UFJF, promovido pela Rede Mineira de Comunicação Científica (RMCC), com inscrições on-line pelo portal da universidade. Em foco estará a importância da sedução para temas espinhosos, gesto que Merlin domina em suas tirinhas semanais. Da diferença entre a cobra-coral e a cascavel, passando pelos hábitos do pássaro conhecido como Tesourinha, e chegando ao alerta sobre a eficácia das vacinas, “Cientirinhas” explora um vasto campo equilibrando-se entre o complexo e o acessível.

“A maior parte das ideias sou eu quem propõe. O Dragões de Garagem tem uma equipe multidisciplinar, com biólogos, físicos, químicos, matemáticos. Temos um canal interno de discussão, e quase todas as ideias trago com meu conhecimento genérico, de um leigo bem informado, escrevo um roteiro e submeto à equipe. Às vezes, passa um erro conceitual qualquer, ou algo que precisa ser melhor explicado, e eu corrijo. Uma vez aprovada, executo a tirinha”, conta Merlin, que privilegia as curiosidades e novidades da ciência. O que fisga sua atenção pode também fisgar a de seus leitores. “A vantagem de ter a mim como leigo é que justamente consigo fazer a ponte do universo tecnicamente correto para uma linguagem mais acessível para o público em geral, do qual faço parte. Às vezes enxergo potencial comunicativo em coisas que, para um cientista, seria uma linguagem muito árida.”

‘Há espaço e interesse do público’

(Foto: Reprodução)

Formado em artes plásticas, Marco Merlin é ilustrador e quadrinista freelancer e começou a produzir webcomics (quadrinhos on-line) em 2011, ainda sem regularidade. “De uns anos para cá, eu vinha, cada vez mais, me interessando por divulgação científica, lia pelos bons canais de comunicação e tinha vontade de participar de alguma forma. Mas não sou cientista, não tenho conhecimento técnico. No final de 2015, conheci o trabalho do Dragões de Garagem, um podcast de divulgação científica, e me identifiquei com o que eles estavam fazendo”, conta o cartunista, que logo sugeriu produzir tirinhas para divulgar e atrair público para as edições do podcast. Em janeiro de 2016, iniciou o trabalho que acabou ganhando vida própria. “As Cientirinhas são um trabalho de amor à causa, como o do pessoal do Dragões de Garagem, que fazem o podcast sem fins lucrativos, por amor à ciência, num misto de hobbie e dedicação a um assunto pelo qual considero que as pessoas precisam se interessar mais”, avalia.

A interação com o público das Cientirinhas é prova de um interesse crescente pela ciência. “É interessante ver que muitas vezes um assunto na tirinha serve de porta de entrada para as pessoas. Às vezes, não entendem a piada por falta de um conhecimento científico específico e, quando perguntam, alguém sempre responde. Alguns dizem que conheciam o fato científico mas descobriu um detalhe através das tirinhas. Num campo mais geral, tenho visto cada vez mais publicações surgindo a partir de quadrinhos de divulgação científica. A Cientirinhas acabou servindo como uma forma de introdução de certos assuntos de ciência, com os quais não temos muito contato, mas pela isca do humor acabamos nos interessando.”

6º FALA CIÊNCIA!
Nesta quinta (22), das 9h às 17h, no Centro de Ciências da UFJF (Campus Universitário)

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Tópicos: arte

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