Rumores de nova greve causam corrida aos postos em JF

Entidades de caminhoneiros descartam nova greve, mas admitem manifestação dia 12 de setembro, em Brasília


Por Bárbara Riolino e Michele Meireles

03/09/2018 às 08h00- Atualizada 03/09/2018 às 12h39

Nas primeiras horas da manhã desta segunda, filas eram observadas nos postos de JF (Foto: Leonardo Costa)

Neste fim de semana, uma nota supostamente distribuída por uma entidade de caminhoneiros, sobre uma nova greve da categoria, causou apreensão. As informações, distribuídas via rede social e aplicativos para celular, embora não reconhecidas pela própria categoria, motivaram os juiz-foranos a uma verdadeira corrida aos postos desde a noite do último domingo (2). A situação ocorre no momento em que o etanol tinha o melhor preço comparativo em 15 anos no município. Já há postos sem combustível na cidade.

Na manhã desta segunda-feira (3), havia falta de combustível, principalmente etanol, em diversos postos da cidade. Em um estabelecimento comercial na BR-040, altura do Bairro Barreira do Triunfo, Zona Norte da cidade, por volta das 6h, só havia gasolina aditivada, vendida a R$ 5 o litro. No local, o etanol acabou ainda durante a madrugada, período que uma longa fila se formou às margens da rodovia. Leitores relataram, ainda, que encontraram longas filas em postos da Cidade Alta, Bandeirantes e na região central. Na Zona Norte também houve filas para abastecer.

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No Posto Romualdo, área central de Juiz de Fora, o movimento se intensificou ainda no domingo, por volta do meio-dia. Durante o início da manhã desta segunda-feira, a fila de espera para abastecer era de aproximadamente 20 minutos. No local, a gasolina comum era vendida durante a manhã, a R$ 4,69, e o etanol a R$ 2,69 cada litro. De acordo com o gerente Rafael Moraes, os preços não foram reajustados e um novo caminhão deve chegar à cidade nesta segunda para reabastecer o posto, dentro do que já estava previsto.

“Eu estava com um quarto do tanque e resolvi completar de forma preventiva. Recebi várias mensagens apontando que teria greve, e como preciso do carro para trabalhar, preferi não arriscar”, disse o gerente de operações Carlos Dalton.

Já o auxiliar de lavanderia Celso Luís da Silva colocou R$ 30 de etanol para garantir. “Ouvi o boato e resolvi colocar um pouco para não ficar na mão.”

 

Fila também em posto de combustíveis na Avenida dos Andradas (Foto: Carolina Leonel)

Em um posto na Avenida Brasil, o aposentado Jorge Pereira resolveu completar o tanque, com receio de o combustível acabar. O bombeiro de aeronáutica Gustavo da Silva é outro que resolveu não ariscar. “É um boato que acabou virando verdade, no sentido de faltar gasolina.” No local, por volta das 9h30, havia apenas a gasolina aditivada, vendida a R$ 4,99 o litro. A previsão no local era que um caminhão de combustíveis chegue entre o fim da tarde e o início da noite desta segunda-feira.

Leitores relataram filas também nos postos da Zona Norte. Na região, o movimento maior foi registrado na noite de domingo. Grandes filas se formaram, também, em estabelecimentos do Acesso Norte. Já nos postos da Avenida Deusdeth Salgado, Zona Sul da cidade, o movimento era tímido durante a manhã de segunda.

Postos fechados na manhã de segunda-feira

A reportagem flagrou postos fechados em alguns pontos da cidade. Na Avenida Brasil, próximo à Regional Leste, e na mesma via, na esquina com a Rua Benjamin Constant, dois estabelecimentos estavam fechados. Segundo o frentista do último, todo o estoque acabou por volta da meia-noite, e não havia previsão para chegar um novo carregamento. Em um posto no Bairro Vila Ideal, gasolina e etanol acabaram ainda no domingo, por volta das 22h. Segundo um frentista, o etanol deve chegar ainda hoje, mas a gasolina não foi comprada, com receio de o combustível ficar preso na estrada, em uma eventual paralisação.

Categoria em JF e no Estado descarta greve esta semana

Em entrevista à CBN, o presidente da Federação dos Trabalhadores Autônomos de Carga de Minas Gerais, Gilmar Ferreira de Carvalho, descartou que esteja sendo arquitetada uma nova greve para os próximo dias. Segundo ele, as informações que circularam foram boatos. “Embora a primeira greve, em maio, tenha sido toda feita via WhatsApp, com lideranças espalhadas por todos Brasil, essas informações que circularam no fim de semana são falsas. Não queremos confronto e nem aterrorizar, só que seja cumprido o que foi acordado”, disse.

Gilmar Ferreira destacou que o Governo está descumprindo do acordo feito com a categoria, que previa um novo aumento para o diesel apenas para dezembro deste ano. “Isso traz uma descrença na palavra que foi dada, até mesmo sobre nosso grande ganho que é o piso do frete. Sem esta realidade, não conseguimos sobreviver. A categoria ficou assustada. Vamos agora para cima da ANTT, para que haja uma fiscalização ativa em relação a este aumento do diesel, para que seja agregado ao valor do piso mínimo do frete”, finalizou.

O Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviário de Juiz de Fora também descartou qualquer possibilidade para uma nova greve. “O que temos visto são notícias falsas que espalham esse terrorismo. Realmente o diesel e o petróleo aumentaram, mas temos a lei que foi criada em consequência da greve em maio”, ressalta o dirigente do órgão, Eduardo de Souza.

Movimento dia 12
Representante dos caminhoneiros em Juiz de Fora, José Fabiano da Silva descartou qualquer paralisação esta semana.

“Esta questão de greve, a liderança desconhece. Tem muita gente aproveitando da situação para promover o caos, mas não compactuamos com isso.”

Mesmo assim, ele não descartou uma paralisação semana que vem, esta sim, já anunciada. “Isso é fato. Pode acontecer, devido a não fiscalização da ANTT aos transportadores com relação à tabela mínima do frete. A agência regulamentou a lei, mas não criou mecanismos para fiscalizar sua aplicação. Devido a isso, podemos, sim, fazer uma mobilização.”

Procon está atento a preços abusivos

Ainda nesta manhã, a Tribuna ouviu relatos de consumidores sobre postos que já teriam alterado o preço cobrado pelos combustíveis. Procurada, a Agência de Proteção ao Consumidor de Juiz de Fora (Procon/JF) informou estar de olho quanto à abusividade nos valores e que, até o momento, não havia registrado queixas. Contudo, o órgão reiterou que conta com a participação da população para autuar estabelecimentos infratores conforme orienta o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Logo, o Procon/JF solicita que as denúncias sejam realizadas por meio dos telefones 3690-7610 ou 3691-7611.

A agência reiterou que não há nenhum indício de paralisação. “As equipes de fiscalização do Procon vão percorrer todos os postos da cidade, a fim de evitar o aumento indevido e abusivo dos combustíveis.”

Corrida aos postos demonstra a força das ‘fake news’

O boato difundido pelas redes sociais e aplicativos de mensagens durante o final de semana, que culminou na corrida aos postos de combustíveis na manhã desta segunda, demonstrou a força das “fake news” nos dias de hoje. Na visão do professor de comunicação e coordenador do projeto de pesquisa “Fake News em tempos de midiatização da sociedade” do Centro Universitário Estácio, Vitor Lopes Resende, a propagação dos rumores está ligada a dois fatores: a velocidade da informação por meios desses dispositivos e as pessoas quem repassam essas informações.

“Muitas dessas notícias falsas e boatos chegam até nós por meio de pessoas que a gente confia, como parentes. E quando refere-se a uma situação de temor na qual a gente já passou recentemente, com a real falta de combustíveis em muitas cidades, toca em um pensamento coletivo, que muitas vezes é o de medo e o de incerteza. Como a checagem dos fatos não é tão simples, já que os meios tradicionais costumam fazer esse trabalho de forma mais apurada e atenciosa, o que demora um pouco para surgirem as notícias verdadeiras, as pessoas acabam acreditando e repassando esses boatos”, ressalta.

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No entanto, ao receber uma fake news como esta, o pesquisador aponta que há meios de identificar a veracidade dos fatos, além, claro, de checar com as fontes mais confiáveis como os portais de notícias tradicionais. “Eu recebi uma dessas mensagens e, anexado a ela, foram anexados documentos atribuídos a entidades como a União dos Caminhoneiros do Brasil (UDC) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que dão embasamento às notícias falsas. Só que, se você prestar atenção na forma como esses documentos foram escritos, bem simples e passíveis de serem produzidos por qualquer pessoa. Um deles, inclusive, nem é assinado e não tem data. Estes dois fatores já sinalizam para o cidadão que pode se tratar de uma notícia falsa”, orienta.

Justiça determina que Whatsapp e operadoras informem dados de usuários

A Justiça determinou que o WhatsApp e duas operadoras de telefonia celular forneçam os dados cadastrados dos titulares e número do IP (Internet Protocol), no caso do WhatsApp, de três números de celular responsáveis por espalhar fake news. A notícia, divulgada pelo Tribuna de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), diz que a decisão liminar foi tomada pelo juiz Eduardo Veloso Lago, titular da 25ª Vara Cível de Belo Horizonte na última quinta-feira (30). A ação é movida pelo candidato a deputado estadual a reeleição, Luiz Sávio de Souza Cruz. Caso as empresas descumpram a decisão, o juiz fixou multa diária de R$ 250, limitada a R$ 5 mil. Embora não tenha ligação direta com o caso do fim de semana, a decisão do TJMG chama atenção pelo fato de a propagação da fake news poder ser responsabilizada.

Conforme o processo, a defesa do candidato alega que ele tem sido vítima de notícias falsas, que vêm sendo difundidas por meio do aplicativo WhatsApp. A mensagem que estava circulando continha foto em um folheto com uma conversa inverídica, de cunho difamatório. Ainda segundo o processo, os usuários dos três números de telefone utilizados para propagar a mensagem foram os responsáveis por iniciar a disseminação, já que as mensagens não contavam com a marcação de “encaminhada”. A defesa do candidato pediu, ainda, bloqueio dos números de celulares apontados na plataforma. Entretanto, esse pedido foi negado. O juiz avaliou que o pedido é “descabido, uma vez que atingiria terceiros estranhos à lide”. No despacho em que determinou que empresas forneçam os dados, o juiz alegou ser “imperativo o combate às chamadas fake News”. Para motivar a decisão, o magistrado citou a Constituição da República e a Lei 12.965/2014 _ Marco Civil da Internet _, que determinam que os provedores armazenem e disponibilizem, mediante decisão judicial, registros de conexão e de acesso a aplicações de internet.

Outras entidades desconhecem greve

De acordo com informações da Agência Estado, entidades representativas dos caminhoneiros, como a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam)- a principal liderança da greve de maio – e sindicatos de diversas regiões do país, não reconhece a convocação, feita pela União dos Caminhoneiros do Brasil (UDC).

Wallace Landim, conhecido como Chorão, um dos principais líderes da greve dos caminhoneiros realizada em maio, descartou a possibilidade de nova paralisação da categoria nesta semana. Conforme a reportagem da Agência Estado, Chorão disse que a próxima manifestação da categoria está convocada para o dia 12 de setembro, quando está previsto um protesto em frente à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em Brasília. Eles irão cobrar fiscalização para o cumprimento do tabelamento de frete.

A matéria aponta, ainda, que o presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens no Estado do Pará (Sindicam-PA), Eurico Tadeu Ribeiro dos Santos, afirmou que “oportunistas” estão usando o nome da categoria. Segundo ele, não há neste momento perspectiva de greve semelhante à ocorrida em maio. “O governo fez a parte dele, criou todas as condições, criou a tabela do frete”, afirmou. “Tem gente usando a categoria para se promover.”

Reajuste nos fretes é anunciado pela ANTT

Segundo a Agência Estado, a ANTT informou que vai ajustar a tabela de preços mínimos de frete. A causa seria por conta da alta recente de 13% no preço do diesel nas refinarias. Nesta segunda-feira, está prevista uma reunião entre técnicos da agência e o ministro do Transportes, Valter Casimiro Silveira, para definir a calibragem do reajuste.

Uma lei sancionada em 8 de agosto estabelece que uma nova tabela de preços deve ser publicada toda vez que o diesel variar mais do que 10%. A expectativa é de que os ajustes sejam anunciados em poucos dias.A categoria reclama também que a ANTT precisa fiscalizar a aplicação da tabela por parte dos contratantes, o que não estaria ocorrendo em várias partes do País. A ANTT argumenta, no entanto, que precisa de uma regulamentação específica para poder fiscalizar os preços cobrados no transporte de cargas. Isso demanda discussões com todos os envolvidos e abertura de consulta pública, cujo prazo pode chegar a 60 dias. Na prática, a fiscalização não começará imediatamente.

 

Tópicos: greve

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