Rodoviários paralisam ônibus e anunciam greve para a próxima semana

Categoria fez manifestações nesta quinta após assembleia de negociação do acordo coletivo; trabalhadores denunciam tentativa de acabar com obrigatoriedade da função de cobrador de ônibus


Por Carolina Leonel (colaborou Nayara Zanetti, estagiária supervisionada por Eduardo Valente)

20/01/2022 às 16h31- Atualizada 21/01/2022 às 07h49

Trabalhadores do transporte coletivo de Juiz de Fora promoveram manifestações nesta quinta-feira (20), no Centro da cidade. Com cartazes e faixas, a categoria denunciou uma tentativa, na avaliação deles, de exclusão da função de cobrador nos ônibus. O ato foi motivado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Juiz de Fora (Sinttro), que anuncia greve da categoria a partir da próxima quinta (27), caso as reivindicações dos trabalhadores não sejam atendidas. As passeatas ocorreram no período da manhã e da tarde, entre as avenidas Barão do Rio Branco e Getúlio Vargas, e teve a adesão dos trabalhadores que estavam em atividade no momento. Durante o ato, os rodoviários estacionaram coletivos nas faixas exclusivas aos ônibus nas duas avenidas, provocando transtorno aos passageiros e longa espera nos pontos. Apesar de a pista de veículos de passeio não ter sido interditada, os carros trafegavam de forma mais lenta que o habitual, já que a paralisação do transporte coletivo causou reflexos em todo o trânsito da cidade. Os pontos de ônibus ficaram lotados de passageiros, cuja espera por um coletivo, no fim da tarde, chegou a durar mais de duas horas.

A paralisação dos rodoviários pegou os populares desprevenidos. As aglomerações eram comuns nos locais de embarque, especialmente da Avenida Getúlio Vargas. Ângela Belmiro Sales, 44 anos, é cuidadora de idosos e trabalha em um hospital na Avenida Deusdedit Salgado. Ela deveria ter chegado no trabalho às 17h, mas neste horário ainda aguardava aflita o fim da manifestação e o retorno da circulação dos ônibus. “Fomos pegos de surpresa. Isso vai me prejudicar e também a outra profissional que está me aguardando chegar e tem que ir embora. Eu acho que a manifestação é um direito deles (da categoria), mas não podem nos pegar de surpresa, porque temos de nos preparar, muitos de nós estamos indo para o trabalho e não conseguimos nos programar com antecedência”, disse.

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Foto: Fernando Priamo

O protesto foi pacífico e acompanhado pela Polícia Militar nas duas ocasiões. Os trabalhadores estenderam faixas e cartazes com dizeres como “ônibus sem cobrador vai parar” e “queremos reajuste salarial já!”. Na parte da manhã, por alguns minutos, o trânsito na Avenida Rio Branco chegou a ser interrompido a partir da Rua São Sebastião, causando reflexos em todo o entorno. Por volta das 11h, os motoristas deixaram a via e seguiram para a Avenida Getúlio Vargas, onde permaneceram por cerca de 40 minutos, também impedindo o tráfego na faixa dos ônibus. O ato foi encerrado após sindicalistas subirem a Rua Halfeld até a Câmara Municipal. Já na parte da tarde, o ato durou mais de duas horas, encerrando-se por volta das 18h20.

Categoria teme a perda de mais de mil postos de trabalho

Conforme o vice-presidente do Sinttro, Claudinei Janeiro, assembleias para concretizar um novo acordo coletivo estão em andamento ao longo desta semana. Durante estas negociações, foi apresentada, ainda segundo o sindicato, a intenção dos empresários de remover do contrato a cláusula que prevê a obrigatoriedade de cobradores nos ônibus – o que tem causado indignação na categoria. O sindicato informa que mais de mil postos de trabalho estão ameaçados caso tal exigência seja retirada do acordo. Além disso, os trabalhadores questionam a proposta de 4% de reajuste salarial. “Nossos motoristas e cobradores estão há dois anos sem receber aumento. Por isso, o que pedimos é um reajuste de 15%. Por todas estas razões, votamos o indicativo de greve a partir de quinta-feira. O edital será lançado nos próximos dias”, informou à reportagem.

O presidente do Sinttro, Vagner Evangelista Correa, também denunciou a situação da frota no município. “Estamos há dois meses falando com a Prefeitura sobre a situação de manutenção dos ônibus. Outro dia, um veículo (perdeu os freios) desceu direto a ladeira e bateu em uma casa”, disse, em alusão ao acidente registrado no último dia 10, na Cidade Alta.

Respostas

Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) se manifestou a respeito da possibilidade, anunciada pela categoria, de extinguir a função de cobrador de ônibus no sistema. O Executivo garantiu que “nunca fez esta proposta” e que, em pactuação com as empresas e em lei aprovada pela Câmara, “não haverá perda de nenhum posto de trabalho”. Afirmou ainda que “se alinha com a defesa do trabalho e dos trabalhadores”.

Também em nota, a Astransp informou que as empresas seguem negociando com o sindicato. “Já existe, sim, uma promessa de reajuste de 4% a partir de janeiro, mas as empresas haviam acenado para estudar a majoração deste índice. Esta decisão, foi adiada, no entanto, em razão da interrupção do pagamento do subsídio pelo município.” Sobre a questão dos cobradores de ônibus, a associação que representa as empresas informou que “não há cláusula de fim de função na atual proposta de negociação do ACT. Apenas não há inclusão de texto que trate de garantia desta questão. Negociação segue por parte das empresas, não há motivo para convocação de greve.”

A categoria, entretanto, pleiteia que a cláusula garantindo a obrigatoriedade da função de cobrador seja mantida no novo ACT. Na avaliação do sindicato, a não inclusão do texto poderá abrir brechas para que as empresas deixem de contratar trabalhadores para esta função, aumentando a sobrecarga do motorista que, nesse caso, acumulará dupla função, e colocando em risco os passageiros. Além disso, os rodoviários almejam que a PJF apoie a manutenção da obrigatoriedade da função.

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Tópicos: greve

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