Combustível ainda poderá faltar em JF nesta terça-feira

Apesar de Sindtanque-MG declarar estado de greve desde a meia-noite desta segunda, entidade garantiu que a entrega dos combustíveis ocorrerá normalmente


Por Bárbara Riolino, Eduardo Valente, Michele Meireles e Vívia Lima

03/09/2018 às 21h22- Atualizada 03/09/2018 às 21h46

Longas filas de veículos se formaram ao longo do dia em estabelecimentos de Juiz de Fora. Um dos pontos flagrados pela Tribuna foi na Avenida Brasil, no Poço Rico (Foto: Leonardo Costa)

Após a alta procura dos motoristas por combustível, a terça-feira (4) poderá ser de escassez de combustível em alguns postos de Juiz de Fora. Desde o último domingo, a busca por gasolina e etanol fez com que zerasse o estoque em alguns estabelecimentos logo no início da manhã desta segunda (3). Motoristas fizeram filas para garantir o abastecimento, após circular nas redes sociais uma nota, supostamente distribuída por uma entidade de caminhoneiros, informando sobre uma nova greve convocada para 9 de setembro. No entanto, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), principal liderança da greve de maio, e alguns sindicatos da categoria não reconhecem a convocação.

Com o aumento da demanda, alguns postos da cidade aumentaram o preço dos combustíveis, como um estabelecimento da Avenida Brasil, no Poço Rico. A gerente administrativa Marcela Dias informou que a gasolina comum estava custando, nesta segunda, R$ 4,69, e o etanol, R$ 2,69 – ambos com acréscimo de R$ 0,10 por litro. “O aumento se deu em parte para frear o consumo e garantir o estoque, mas também devido ao repasse (de preços), uma vez que os combustíveis sofreram aumento ao sair das refinarias”, afirmou a gerente, acrescentando que os valores deverão ser praticados também nesta terça. Até o final desta edição, era esperado que uma nova remessa de combustível fosse entregue no estabelecimento, que ficou sem estoque já no início da manhã.

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A situação foi verificada também no Posto Terra Brasilis, no Bairro São Pedro, na Cidade Alta. Por volta das 16h30, já faltava combustível e não havia previsão para o recebimento de nova remessa. Já no Posto Santa Rita, na Vila Ideal, desde a noite de domingo não era possível adquirir etanol e gasolina. No Posto Petrobras, no Bairro Poço Rico, havia somente diesel na tarde desta segunda. Devido à procura, acabaram os estoques de gasolina e álcool por volta das 10h desta segunda. A reportagem também flagrou postos fechados em alguns pontos da cidade. Na Avenida Brasil, próximo à Regional Leste, o movimento foi encerrado. Em outro posto, na mesma via, na esquina com a Rua Benjamin Constant, o estoque acabou por volta da meia-noite e não havia previsão para chegar um novo carregamento. Já em uma unidade do Bairro Vila Ideal, a gasolina e etanol acabaram ainda no domingo, por volta das 22h.

Em nota, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) se manifestou sobre a corrida aos postos. Conforme a entidade, a intensa busca por combustível pode acelerar a baixa no estoque dos estabelecimentos, “pois, apesar de possuírem estrutura de armazenamento, alguns postos não se prepararam para receber grande demanda em um espaço curto de tempo”, diz o documento. A situação ocorre no momento em que o etanol tinha o melhor valor comparativo em Juiz de Fora em 15 anos. Entretanto, segundo a entidade, os produtos deverão ser repostos ainda nesta quarta-feira, uma vez que não há movimento grevista nem qualquer dificuldade de os combustíveis saírem das refinarias e chegaram aos estabelecimentos.

Procon está atento a preços abusivos

Diante da grande procura por combustíveis e do aumento de preços, a Agência de Proteção ao Consumidor de Juiz de Fora (Procon/JF) informou estar de olho quanto à abusividade nos valores e reiterou que conta com a participação da população para autuar estabelecimentos infratores, conforme orienta o Código de Defesa do Consumidor (CDC). O órgão solicita que denúncias envolvendo abusividade nos preços sejam realizadas por meio dos telefones 3690-7610 ou 3691-7611. A agência reiterou que não há nenhum indício de paralisação e que os postos serão fiscalizados “a fim de evitar o aumento indevido e abusivo dos combustíveis.”

Categoria fará paralisação no dia 12 e protesto em Brasília

A própria categoria não reconhece o movimento e descarta greve, mas sinaliza uma possível paralisação no dia 12 deste mês, com protesto em Brasília, mas sem afetar o abastecimento. “Embora a primeira greve, em maio, tenha sido toda feita via WhatsApp, com lideranças espalhadas pelo Brasil, essas informações que circularam no fim de semana são falsas. Não queremos confronto e nem aterrorizar, só que seja cumprido o que foi acordado”, afirmou o presidente da Federação dos Trabalhadores Autônomos de Carga de Minas Gerais, Gilmar Ferreira de Carvalho, em entrevista à rádio CBN.
Segundo ele, o Governo está descumprindo acordo que previa um novo aumento para o diesel apenas para dezembro deste ano. “Isso traz uma descrença na palavra que foi dada, até mesmo sobre nosso grande ganho que é o piso do frete. Sem esta realidade, não conseguimos sobreviver. A categoria ficou assustada. Vamos agora para cima da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre), para que haja uma fiscalização ativa em relação a este aumento do diesel, para que seja agregado ao valor do piso mínimo do frete.”

O Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviário de Juiz de Fora também afasta qualquer possibilidade de nova greve. “O que temos visto são notícias falsas que espalham esse terrorismo”, ressalta o dirigente do órgão, Eduardo de Souza. Já o representante dos caminhoneiros em Juiz de Fora, José Fabiano da Silva disse que, na próxima semana, haverá paralisação da categoria, já anunciada, devido à não fiscalização por parte da ANTT em relação à tabela mínima do frete. “Esta questão de greve, a liderança desconhece. Tem muita gente aproveitando da situação para promover o caos, mas não compactuamos com isso.”

Tanqueiros entram em estado de greve pela redução do preço

Apesar de o Sindicato dos Transportadores de Combustíveis e Derivados do Petróleo de Minas Gerais (Sindtanque-MG) declarar estado de greve desde a meia-noite desta segunda, a entidade garantiu que a entrega dos combustíveis está ocorrendo normalmente. A explicação dos caminhoneiros que transportam diesel e gasolina, conhecidos como tanqueiros, é que está havendo a negociação com as distribuidoras e com o Governo federal. Eles querem o cumprimento da Lei 13.703/2018, conhecida como Lei do Frete, e a redução do preço do diesel e, caso não cheguem a um acordo sobre as reivindicações, poderão cruzar os braços.

Caminhões com combustível chegaram à cidade nessa segunda-feira (Foto: Leonardo Costa)

O sindicato pede que o Governo volte a reduzir o óleo diesel, que sofreu reajuste na última sexta-feira (31), com aumento de 13 %, mesmo depois de se comprometer a não reajustar o produto até dezembro. Como condição, a contrapartida era que os caminhoneiros pusessem fim ao movimento grevista que durou onze dias em maio e teve como consequências bloqueios em rodovias, desabastecimento de alimentos e outros produtos essenciais.
Já a ANTT informou que vai ajustar a tabela de preços mínimos de frete. Uma lei sancionada em 8 de agosto estabelece que uma nova tabela deve ser publicada toda vez que o diesel variar mais do que 10%. A expectativa é de que os ajustes sejam anunciados em poucos dias. A agência argumenta, no entanto, que precisa de uma regulamentação específica para poder fiscalizar os preços cobrados no transporte de cargas. Isso demanda discussões com todos os envolvidos e abertura de consulta pública, cujo prazo pode chegar a 60 dias. Na prática, a fiscalização não começará imediatamente.

Corrida aos postos demonstra a força das ‘fake news’

O boato difundido pelas redes sociais e aplicativos de mensagens durante o final de semana demonstra a força das “fake news”. Na visão do professor de Comunicação Vitor Lopes Resende, coordenador do projeto de pesquisa “Fake News em tempos de midiatização da sociedade”, do Centro Universitário Estácio, a propagação dos rumores está ligada a dois fatores: à velocidade da informação por meios desses dispositivos e às pessoas que repassam essas informações.

“Muitas dessas notícias falsas e boatos chegam até nós por meio de pessoas que a gente confia, como parentes. E quando refere-se a uma situação de temor na qual a gente já passou recentemente, com a real falta de combustíveis em muitas cidades, toca em um pensamento coletivo, que é o de medo e o de incerteza. Como a checagem dos fatos não é tão simples, já que os meios tradicionais costumam fazer esse trabalho de forma mais apurada e atenciosa, o que demora um pouco para surgir as notícias verdadeiras, as pessoas acabam acreditando e repassando esses boatos”, ressalta.

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No entanto, ao receber uma fake news como esta, o pesquisador aponta que há meios de identificar a veracidade dos fatos, além, claro, de checar com as fontes mais confiáveis como os portais de notícias tradicionais. “Eu recebi uma dessas mensagens e, junto com a ela, foram anexados documentos atribuídos a entidades como a União dos Caminhoneiros do Brasil (UDC) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que dão embasamento às notícias falsas. Só que, se você prestar atenção na forma como esses documentos foram escritos, (vai ver que foram feitos de forma) bem simples e passíveis de serem produzidos por qualquer pessoa. Um deles, inclusive, nem é assinado e não tem data. Estes dois fatores já sinalizam para o cidadão que pode se tratar de uma notícia falsa”, orienta.

Polícia Federal irá investigar mensagens falsas de greve

A pedido do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, a Polícia Federal irá investigar as mensagens que circularam pelo WhatsApp com informação falsa sobre a greve dos caminhoneiros, de acordo com a Agência Estado. “Desmentida pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), entre outras representantes da categoria, as mensagens se enquadram na categoria de fake news e seus autores e veiculadores podem responder por crime contra a economia popular e por publicidade enganosa”, diz a nota divulgada nesta segunda-feira pelo Ministério da Segurança Pública.

O ministério afirmou que a notícia causou “transtorno à população, prejuízo ao mercado produtor e de serviços”, constituindo grave fator de desestabilização e com grande potencial para provocar desordem pública. A nota destaca também que a pena total para quem cometer este tipo de crime além de ferir o Código de Defesa do Consumidor (CDC), no sentido de promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva é de detenção de 4 anos e 9 meses até 18 anos mais pagamento de multa.

Tópicos: greve / transporte

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