Governo não vê risco de greve de caminhoneiros

Lideranças de diversas regiões estiveram reunidas com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas


Por Felipe Frazão, Mariana Haubert, Tânia Monteiro e Camila Turtelli (Agência Estado)

22/04/2019 às 21h15- Atualizada 22/04/2019 às 21h19

O porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não vê risco de uma nova greve geral de caminhoneiros. “Ele (o presidente) está confiante de que não haverá uma parada por parte dos caminhoneiros”, disse.

Na semana passada, líderes dos caminhoneiros autônomos, insatisfeitos com o pacote anunciado pelo governo e com o aumento de 10 centavos no preço do diesel, agendaram uma paralisação para o dia 29 de abril: “A expectativa do governo, que mantém diuturnamente canal de ligação aberto com a categoria, é de que não há motivos para essa paralisação.”

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A avaliação do governo é que o principal problema dos caminhoneiros é a falta de fretes, já que empresas começaram a montar a própria frota para burlar a exigência de pagar o preço mínimo do frete, uma das medidas adotadas pelo ex-presidente Michel Temer para colocar fim à greve de maio do ano passado.

Segundo o porta-voz, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) faz acompanhamento cerrado e análises de risco e há convicção do presidente do “espírito patriótico” dos caminhoneiros. “Com base nesse espírito patriótico que o presidente, somando-se ao acompanhamento realizado por outros órgãos do governo, entende que no momento as condições para estabelecimento dessa parada não se fazem presentes.”

Nesta segunda-feira (22) lideranças de diversas regiões do país estiveram reunidas por mais de três horas com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. A intenção dos representantes era cobrar do governo o cumprimento da tabela de preço mínimo do frete, a fiscalização do dispositivo e também a adoção de um gatilho que atrele alta do diesel ao piso do transporte.

Greve

O risco de uma paralisação fez com que Bolsonaro ligasse ao presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, e pedisse que suspendesse o reajuste no preço do diesel. No dia, a petroleira teve perda de R$ 32 bilhões no seu valor de mercado porque o mercado reagiu mal ao que considerou uma intervenção. Na semana passada, Castelo Branco anunciou aumento de R$ 0,10 no litro do diesel. Horas antes do anúncio, o Planalto anunciou uma série de medidas , como linha de crédito do BNDES para manutenção dos veículos e R$ 2 bilhões para manutenção das estradas.

Nesta segunda-feira (22), os representantes dos caminhoneiros afirmaram que a realização de uma nova greve, como a que foi realizada em maio do ano passado com diversas consequências para a economia do país, estava nas mãos do governo que deveria responder às reivindicações. “A resposta de paralisação ou não vai ser do governo”, disse Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, líder da categoria, antes de participar de reunião no Ministério da Infraestrutura.

O presidente da CNTA, Diumar Bueno, que também participou da reunião de ontem, afirmou que a paralisação ou não dos caminhoneiros vai depender do que o ministro sinalizar. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) emitiu nota no feriado de Páscoa afirmando que, ao consultar sua base, formada por 140 sindicatos, 9 federações e uma associação colaborativa, identificou que o reajuste do diesel “reacendeu uma insatisfação generalizada na categoria, que está impaciente, à espera de uma resposta do governo”.

Audiência com ministro tem choro, ameaça e reclamação

O encontro dos caminhoneiros com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, foi regado a reclamações, ameaças e até choro. Em vídeos que o Estado teve acesso, os representantes cobraram do ministro a aplicação do piso mínimo do frete e uma solução para os constantes aumentos do diesel. Eles ouviram de Freitas que a variação do combustível não será mais problema quando os reajustes forem repassados de forma imediata para o piso, o que deve ocorrer em breve.

Na reunião, conturbada em alguns momentos, motoristas relataram ao ministro as dificuldades do dia a dia e os problemas financeiros decorrentes da falta de frete e dos “baixos valores pagos no mercado”. Em determinado momento, um deles chegou a chorar ao dizer que não “estava cumprindo com suas obrigações em casa” por não conseguir pagar as contas em dia. E emendou: “Só quero dignidade para trabalhar”.

Com Wallace Landim, o Chorão, fora da reunião, os representantes fizeram questão de dizer que o governo está negociando com as pessoas erradas. “Chorão não nos representa. Ele é motorista de van, não de caminhão”, esbravejou um dos representantes, no vídeo.

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Divisão

Nas últimas semanas, houve um racha entre os caminhoneiros. Uma parte acredita que a única forma de o governo ouvir suas queixas é fazendo uma nova paralisação. Nesse caso, a data marcada é dia 29 de abril.

Do outro lado, estão aqueles que preferem aguardar mais um tempo e continuar negociando com o governo melhorias para os caminhoneiros. Por trás da decisão, está a delicada situação financeira dos motoristas que estão endividados e não podem deixar de faturar neste momento. Outra explicação é que os caminhoneiros não querem atrapalhar o início de governo de Jair Bolsonaro (a maioria votou nele para presidente). Uma greve atrasaria ainda mais a lenta recuperação econômica do país e prejudicaria ainda mais a categoria. A briga entre os dois grupos de caminhoneiros tem provocado uma série de ameaças, inclusive de morte, por meio de áudios e conversas de WhatsApp.

Tópicos: greve

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