José Geraldo Heleno lança tradução de tragédia de Sêneca para o português
O autor e professor mineiro José Geraldo Heleno, a partir desta quinta-feira, 25, integra a Academia Juiz-forana de Letras, e a cerimônia de posse está programada para as 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes. Durante o evento, Heleno ainda faz o lançamento de “Hércules no Eta: uma tragédia estoica” (Editora Dialética: 248 páginas), que chega às prateleiras trazendo uma importante contribuição para os Estudos Clássicos, uma vez que, segundo o autor, consiste na primeira tradução da tragédia de Sêneca para a língua portuguesa.
“A tragédia ‘Hércules no Eta’ narra a trajetória desse semideus, a partir de suas peripécias de herói sem limite, que é a lei de si mesmo. A certa altura de sua saga, ele perde a esposa Dejanira que, Inconformada com a relação do marido com a amante Íole, se mata. Um manto impregnado de veneno, a ele mandado inadvertidamente por Íole, faz seu corpo começar a se desintegrar. Neste momento, ele solicita que seus servos o levem para o alto do monte Eta, onde o herói, deitado sobre uma fogueira, se oferece em sacrifício a seu pai Júpiter. Seu corpo vira cinzas e sua alma sobe para as regiões celestes”, adianta Heleno, que fez a tradução da obra diretamente do latim e entrega ao público uma edição bilíngue (latim/português).
José Geraldo Heleno é de Cipotânea/MG, mas é um velho conhecido do meio literário e acadêmico aqui da cidade, pois ele é ex-professor de latim e de Literatura Latina da Universidade Federal de Juiz de Fora. Foi lá que ele também se graduou em Letras, seguindo, depois, para um mestrado em Teoria Literária na Universidade Federal do Rio de Janeiro e um doutorado em Estudos Clássicos, pela Universidade de São Paulo. Aliás, “Hércules no Eta” nasceu primeiro como tese de doutorado defendida em 2006. “Café carinho” (1993) e “Medra em frestas” (2013) estão entre seus cinco livro já lançados.
Marisa Loures – “Hércules no Eta: uma tragédia estoica” foi traduzido direto do latim. Qual é o principal desafio na tradução como essa?
José Geraldo Heleno – É a primeira tradução em língua portuguesa. Este é o primeiro desafio. Além disso, toda tradução supõe conhecimento da cultura de origem e cultura do destino do texto a ser traduzido. No caso de uma tragédia produzida num contexto filosófico, supõe ainda conhecimento do pensamento do autor.
– Você menciona na introdução do livro que não existe um consenso sobre a atribuição da autoria dessa obra. No entanto, você manteve a missão de fazer a tradução à luz do pensamento estoico de Lúcio Aneu Sêneca. Quais são as principais contribuições desse filósofo para a literatura e a cultura latina?
–Primeiro, sobre a autoria. Entre as obras de Sêneca, há outras que já foram atribuídas a ele e que hoje são tidas como apócrifas. Sobre “Hércules no Eta”, as opiniões dos especialistas se dividem. O ser uma tragédia estoica ou não independe da autoria, por isso, mantive a proposta da tese, que é demonstrar como a filosofia estoica se encontra diluída nela. A importância principal dessa tradução é oferecer, pela primeira vez, em língua portuguesa, acesso a essa obra clássica latina, e sublinhar a contribuição de Sêneca na preservação do pensamento estoico, de Roma até nossos dias, considerando-se que elementos dessa filosofia estão presentes em toda nossa cultura, especialmente na moral cristã.
– Já ouvi de tradutores que é um desafio lidar com textos produzidos em outra época. E aí o profissional fica entre modernizar e arcaizar. Como encontrar o equilíbrio?
– É uma dificuldade realmente conservar a fidelidade ao original sem comprometer a clareza. Eu procurei preservar um certo equilíbrio: manter fidelidade ao pensamento do autor, mesmo com o sacrifício de alguma fluidez do texto.
– “Hércules no Eta” tem muito a dizer aos nossos tempos?
– Com certeza, tem. Além do conteúdo filosófico e dos subsídios à compreensão da moral ocidental, o próprio procedimento do autor Sêneca é uma lição de como se influenciar em textos de outra cultura sem dar as costas à cultura local. Nessa tragédia, ele consegue se inspirar num mito grego e reescrevê-lo dentro dos gostos do espectador romano.
– E como o público de hoje recebe a obra de Sêneca?
– Não existe em lugar algum um público único e homogêneo. Se o texto for encenado ou for dado a ler a um público não especializado, haverá choque de cultura e estranhamento por parte do leitor/espectador. O texto, como ele está publicado, é indicado a especialistas ou iniciados na cultura latina. Não é por acaso que a publicação é em edição bilíngue.
– Hoje é a posse na Academia Juiz-forana de Letras. Como você se sente?
– Eu sinto muita coisa. A começar pela gratidão àqueles que apresentaram, convidaram e aprovaram meu nome e minha obra à AJL. A posse como membro de uma academia de Letras é sempre sentida como um reconhecimento por parte de escritores mais experientes. Quando esse reconhecimento parte de uma entidade do porte da Academia Juiz-Forana de Letras esse sentimento é ainda mais intenso.
“Hércules no Eta: uma tragédia estoica”
Autor: José Geraldo Helena
Editora Dialética: 248 páginas
Lançamento: 25 de agosto, às 19h, no Mamm.
O livro pode ser adquirido no site da Editora Dialética.