Membro da LeiaJF, a poetisa Ana Paula Torquato traz sugestão de leitura para os dias de folia
A intenção da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz e Fora sempre foi dar visibilidade ao autor local. Além, é claro, incentivar a leitura. Por isso, em 2019, ela resolveu investir no mundo digital. Lançou o primeiro livro no formato e-book, através da Amazon. “Arte em prosa e verso” (254 páginas), organizado por Artur Laizo, traz criações de 25 autores aqui da cidade (Alberto Pinto, Alessandra Rivelli, Alice Gervason, Ana Paula Torquato, Artur Laizo, Denise Doro, Emanuelle Ferrugini, Ester Aguillar, Maga San, João Peçanha, José Renato Amorim, Jorge Lenzi, José Pimentel de Medeiros, Leila Barnosa, Mariselia Souza, Marisa Timponi, Luciane Fontes, Maria Aparecida Resende Lacerda, Maurilio Nogueira da Silva, Ramon Brandão, Rogério Tadeu, Regina Mirian Alves dos Santos Pinto, Telma Regina da Silveira Nogueira, Valéria Magalhães e Vanda Ferreira). São poemas, contos, trovas, haicais e aldravias disponíveis para deleite do leitor. A novidade é que até o dia 21 de fevereiro, como sugestão de leitura para o carnaval, a obra está disponível gratuitamente.
“Cada autor se expressou conforme sua preferência, sem limites temáticos. Assim, é possível conhecer cada um de nós em essência. O leitor poderá viajar por um mundo de amor, reflexão, viagens e aventuras, diárias. A variedade de gênero textual permite ao leitor conhecer, em um único livro, diversas possibilidades de leitura. Um conto hoje, uma crônica amanhã, uma poesia ao amanhecer, e que tal, uma aldravia para adormecer, ou um haicai ao entardecer? Queremos que o leitor aprecie no seu tempo. E, após a leitura, que tal deixar um comentário para nós? Você, leitor, conhece a LeiaJF?”, indaga a poetisa juiz-forana Ana Paula Torquato, convidada do Sala de Leitura desta terça-feira.
Ana Paula é autora dos livros “O ter e o ser” e “Se unem, mas nem sempre se sentem”. É membro da Academia de Letras da Manchester Mineira e do grupo Café Com Poesia (e Arte). Para breve, planeja o lançamento de um livro infantil que aborda a importância da amizade, empatia e amor.
Marisa Loures – Quem é Ana Paula Torquato?
– Quando paramos para pensar, é que percebemos como é difícil olharmos para nós e nos definirmos. Acredito que essa dificuldade esteja associada a admitir que somos luz e sombras, temos muitas qualidades assim como temos os nossos defeitos, somos uma construção em busca do melhor que pudermos ser. Digo no plural, porque o que seria eu (quem seria eu), se não fossem os meus ancestrais, e mais recente, as quatro mulheres Torquato que me criaram. Ana Paula Torquato é uma menina sonhadora, teimosa, uma moça curiosa e uma mulher corajosa, determinada e que ama descobrir novas possibilidades através do aprendizado. Uma mulher que, entre as infinitas possibilidades do universo, sabe que pode, de grão em grão, contribuir com o outro, através de suas ações!
– Quando você se descobriu poeta?
– Sempre fui mais da escrita do que da fala, e sempre encontrei na arte uma forma de manter meu “equilíbrio”, controlar minhas ansiedades e, muitas das vezes, encontrar respostas para as diversas questões que me incomodavam, seja desenhando (o que eu fazia na infância) ou tecendo acessórios através do crochê (o que começou na adolescência e perpetua até os tempos atuais). Mas foi na fase já adulta que a poesia surgiu. Sempre brinco que saí das linhas de algodão para as linhas no papel, um rompimento de cascas, uma flor se abrindo, e, nessa estrada, a formação de um novo caminho repleto de essência e sensibilidade. Me descobri poeta em meio às adversidades. Foi ali, naquele momento, quando um filme se passou pela minha mente, como se todos os arquivos estivessem sido acessados, naquele momento, quando tudo o que estava “preso”, nas minhas entranhas, aflorou, trazendo uma nova possibilidade, e uma “nova” Ana, a Ana Poeta. Como eu sou grata por me permitir ser!
– E o que é matéria-prima para sua poesia?
– Como uma vez me chamou um amigo poeta, sou uma “Caçadora de poemas”. Me inspiro em tudo o que observo, sinto e, de alguma forma, me toca. Do amor à dor. Tenho como matéria-prima um pouquinho de tudo: do grão de areia às desigualdades do mundo, do pulsar do coração à folha que cai ao chão, as pessoas ao meu redor, aquelas que pendem doação, até as que estão nã “televisão”. Já até “parei” para conversar com um rio, se olhar bem, sempre tem uma poesia no caminho.
– O poeta deve saber interpretar o seu tempo?
– Somos uma eterna construção e reconstrução, somos ciclos, mudamos a todo momento, e assim se faz com o tempo. Então, sim, o poeta deve saber interpretar o seu tempo, identificar o seu momento. Quantas vezes queremos algo, que não está nosso tempo, porque é preciso esperar pelo tempo certo? Não só o poeta, mas todos possuem o seu tempo, e devem interpretá-lo, percebendo o momento certo, para agir, para realizar, para criar. Me fez lembrar do trecho de uma poesia que escrevi: “ é o tempo que sem/mas nem sempre,/o tempo que se vê”.
– Certa vez, escutei de uma escritora que cada livro de poemas tem um mundo dentro dele. Como é o mundo dos seus dois livros publicados?
– Eu estava em tempos diferentes. O primeiro deles, publicado em 2015 e que está em sua segunda edição “O ter e o ser”, possui um mundo de descobertas, de reflexão acerca do embate eterno, entre o ter e o ser. Nele, as poesias foram publicadas em sua ordem de escrita, e, coincidentemente, de alguma forma, trouxe uma sensação de continuidade, em que uma poesia completa a outra, passeando pela condição humana do existir no mundo, através de pensamento e ideias sobre amor, amigo, família, amizade, a realidade… “nos campos da Fazenda, na penumbra do amanhecer” O segundo deles “Se unem, mas nem sempre se sentem”, publicado em 2017 e com edição esgotada, é um mundo de relacionamentos, casais reais, vidas reais, unidos com amor ou sem, construídos pelo destino, alguns em meio ao preconceito, em meio à dor, outros destruídos pelos mesmos motivos e ainda há aqueles que se sentem, se entendem, mas não se unem. É o amor puro, amor bandido, amor de amigo, amor de irmão. É a vida viva nas entrelinhas de 50 poemas. “eu amo, ele ama, nós amamos”.
– Em 2019, a Liga de Escritores lançou a primeira coletânea de textos como e-book na Amazon. O que representa para o autor que já tem livros físicos publicados seguir para as plataformas digitais? Essa experiência tem dado certo para vocês?
– É um mundo de novas possibilidades, um mercado que tem crescido constantemente. A plataforma digital permite acesso em qualquer lugar do mundo, e, com apenas um clique, você pode se tornar um autor conhecido, saindo das limitações geográficas em que teria com o livro físico, principalmente quando se é um autor independente. Apesar de existirem leitores que não abrem mão do livro físico, sim, é uma experiência que tem dado certo, ainda que, gradativamente.
– E por que essa iniciativa de liberar o livro gratuitamente nesta semana?
– Foi uma iniciativa com intuito de incentivar a leitura e possibilitar o acesso aos nossos escritos. Muitas pessoas não sabem que existem uma variedade de artistas na cidade e muito menos uma Liga de Escritores Ilustradores e Autores de Juiz de Fora. Nosso maior objetivo é atrair o maior número de leitores para essa rica diversidade de textos presentes na Coletânea. Que nossos leitores possam saborear esses escritos, que foram produzidos com muito amor e selecionados com todo carinho para compor a coletânea.
– Em um dos seus poemas que integram essa coletânea, você traz um embate entre o ter e o ser. Eram inquietações suas naquele momento da criação?
– Eram e como eram, estava passando por um período de transformações, ideias que tinha todo o sentido pra mim deixaram de ter sentido nenhum. Estava saindo de um momento em que percebi que não devemos ter e ser, mas buscar o equilíbrio entre o ter e o ser. Não somos um ou outro, mas o eterno equilíbrio entre Ter e Ser. Vivemos uma época repleta de entretenimento e apologia ao materialismo, despertei para uma visão onde fui capaz de separar o necessário e o supérfluo e reconhecer a importância do ser, que quer ter. “Se o Ter é o Ser/ Melhor então não Ser/ Aquele Que quis Ter/ Se perdeu no Ser…”
– O que sonha para a sua poesia?
– Quero, com minha poesia, transformar o outro, assim como fez comigo. Despertar no indivíduo o sentimento de compaixão, realização e um mundo de possibilidade, quero mostrar que cada ser pode ser o que quiser, mesmo que digam o contrário.
Sala de Leitura – Aos sábados, às 10h15, na Rádio CBN Juiz de Fora (FM 91,3).
“Arte em prosa e verso”
Publicação da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz e Fora
Disponível gratuitamente na Amazon até 21 de fevereiro (254 páginas)
Organização: Artur Laizo
Autores: Alberto Pinto, Alessandra Rivelli, Alice Gervason, Ana Paula Torquato, Artur Laizo, Denise Doro, Emanuelle Ferrugini, Ester Aguillar, Maga San, João Peçanha, José Renato Amorim, Jorge Lenzi, José Pimentel de Medeiros, Leila Barnosa, Mariselia Souza, Marisa Timponi, Luciane Fontes, Maria Aparecida Resende Lacerda, Maurilio Nogueira da Silva, Ramon Brandão, Rogério Tadeu, Regina Mirian Alves dos Santos Pinto, Telma Regina da Silveira Nogueira, Valéria Magalhães e Vanda Ferreira.