Vó Filó vai atrás da Esperança em terceiro livro de série criada por Magda Trece
Com certa frequência, escuto de escritores de literatura infantil que passam aqui pelo Sala de Leitura que Magda Trece é de uma gratidão sem tamanho e que é uma das principais referências, aqui na cidade, quando o assunto é contação de histórias e livro voltado para os pequenos. Também acompanho o trabalho que ela desenvolve e vejo o encanto que ela provoca não só em alunos, mas também em professores. Estes não poupam elogios às maravilhas da Vó Filó. É por isso que, hoje, esta coluna está diferente. Convidei quatro autoras de Juiz de Fora que escrevem ou já escreveram para crianças e que têm forte atuação na área da educação – Lauriana Paiva, Juliana James, Maria Helena Sleutjes e Marisélia Souza – para capitanearem esse bate-papo com a criadora da Filomena. É uma homenagem nossa a nós, professores, neste 15 de outubro.
Magda lançou mais um título na última quinta-feira. “A esperança de Vó Filó” (Gryphon Edições, 28 páginas) é a terceira publicação da série “Maravilhas de Filó” e já chegou com metade da tiragem de mil exemplares vendida. Mais mil livros estão sendo providenciados para as escolas que quiserem adotá-la, e outros mil para um projeto da Lei Rouanet. “A Vó Filó descortinou o meu olhar, ela me permitiu observar detalhes que passavam despercebidos, me permitiu brincar, pular e deixar livre a criança que sempre viveu em mim. Ela me trouxe reconhecimento público em vida, e isso não tem preço. Tenho recebido homenagens maravilhosas em eventos literários e em escolas, o que tem me emocionado profundamente”, conta a escritora e contadora de histórias que, agora, tem duas mascotes – a Esperança e a Lili Lilás – para acompanhá-la em suas andanças.
O dia do lançamento desse novo trabalho foi mágico. Palavra usada por quem esteve no Colégio dos Santos Anjos. Primeiramente, os leitores de Filomena conheceram o clipe que a vovô ganhou, com direção de Juliana James, que também divide a autoria da letra da canção com Magda e Rogério Nascimento. Depois, foi o momento de contar a nova história da Vó. Em um dos pontos mais emocionantes desse dia tão especial, Maria Eduarda de Almeida Pires, ex-aluna do colégio, fez uma homenagem aos mestres. Por fim, a garotada que participou do clipe colocou um “agarradinho de Esperança” no coração dos professores. Eles, em retribuição, jogaram “esperança” nas crianças em forma de bolas verdes e brancas. Por todos os lados, havia olhos marejados de lágrimas.
Na conversa que Magda teve com Lauriana, Juliana, Maria Helena e Marisélia, ela falou sobre a nova obra, o trabalho que desempenha na formação de leitores e de novos escritores, a importância da literatura infantil e suas próximas maravilhas. Ah, também deixou uma mensagem para nós, os professores, lembrando-nos de sempre estarmos acompanhados de sonhos e fantasia, dois ingredientes necessários a quem quer tocar os corações dos alunos.
Juliana James – A vó Filó é uma supercaçadora de maravilhas, que vem encantando a todos por onde passa. Nesse livro novo, ela vai acolher em sua casa a Esperança. De onde veio essa inspiração? Você pensa que, na vida real, a esperança pode estar perdida também?
Há um bom tempo, desejava arrumar uma mascote para a personagem Vó Filó, mas estava resistente a aceitar cachorrinhos, gatinhos, tartarugas, que são lindos, queridos e maravilhosos, mas a Vó precisava de algo exótico, diferente, impactante, afinal, ela é singular. Então veio a Esperança. Quanto a ela estar perdida na vida real, depende. A esperança vive nos corações e cada um alimenta seu coração com suas escolhas. Em muitos casos, infelizmente, ela está perdida sim, mas, no meu, ela reina soberana, pois tenho a deliciosa mania de acreditar que a vida é bela e que o bem sempre vencerá o mal.
Juliana James – É inegável o magnetismo que você tem com as crianças e também com os professores. Seus livros são queridos e adotados em muitas escolas. Qual o seu segredo? Existe algum método ou técnica que você usa na hora de escrever suas obras?
Não. Sem métodos ou técnicas. Sou apenas movida à emoção, e, sempre que estou escrevendo, penso em “tocar corações”. Vou tentar exemplificar através de um fato ocorrido: eu recebi uma “encomenda” de uma professora, em que ela solicitava que eu inserisse em um livro vários conteúdos que ela sempre precisava trabalhar com as crianças. Anotei todos os dados e fui para casa. Comecei a escrever e rabiscava. Tentava de novo e rabiscava. Na terceira vez, larguei a caneta e o papel e fui dormir. Três dias depois, busquei nas minhas memórias pessoais a resposta, e, quando veio a lembrança, veio o sorriso nos lábios e o livro “se jogou” inteirinho no papel em branco. Aí, sim, fui inserindo o que ela pediu. Mas precisei buscar no meu coração. Não consegui fazer de “fora para dentro”, precisei fazer de “dentro para fora”. Por isso que a maioria dos meus livros tem minhas
características.
Lauriana Paiva – Conheci você pessoalmente em 2017, quando eu começava a construção da personagem principal da série “Diários da professora Bela”, que lancei neste ano. Você foi uma das primeiras pessoas a escutar meu sonho de transformar a série em realidade e também as dificuldades em torno da publicação de uma obra como autora independente. Por isso, digo que, além de formar uma geração de leitores em mais de uma década de produção literária, tem ajudado a formar, também, a nova geração de escritores da nossa cidade. Gostaria que avaliasse a importância do seu trabalho na formação tanto de leitores quanto de escritores.
Tudo o que eu faço é sempre seguindo o meu coração e com a certeza de que, ajudar o outro, é necessário e urgente num mundo tão individualizado. Se tenho 11 anos de estrada literária e um amigo começou esse caminho agora, vou (se ele me permitir) passar para ele os meus erros e os meus acertos. Divido minhas experiências, não para que sejam seguidas, mas para servirem de parâmetro para as decisões que eles irão tomar. Sou uma “incentivadora de sonhos”, pois acredito que os sonhos não são “viagens”, eles são viáveis. As pessoas é que não acreditam na força dos seus sonhos. E todos os escritores que eu incentivei trouxeram riqueza para a literatura. Eles só precisavam de alguém que falasse: “vai”. Quanto à formação de leitores, tem acontecido algo extraordinário: as pessoas leem meus livros e se tornam Caçadores de Maravilhas! Isso é real e lindo. Elas me mandam fotos abraçando árvores, mandam mensagens com sombrinhas diferenciadas. Na Fliminas (Feira Literária de Minas Gerais), a escola Francisca Gomide levou várias “Filozinhas” para o palco e arrancou lágrimas da Vó Filó. Então, acredito que essas pessoas foram “tocadas” pelos meus livros, e o meu texto disparou um gatilho que as faz associar elementos do livro com a Vó.
Lauriana Paiva – Ao ler seu livro, como professora que sou, já no título, “A Esperança de Vó Filó”, lembrei-me de uma passagem de um dos nossos maiores educadores, Paulo Freire. Ele nos ensinou que “ai de nós educadores se deixarmos de sonhar sonhos possíveis”. Dentro desse contexto, que mensagem você deixaria para nós, professores, neste dia dedicado a nós?
Alessandra Roscoe, no livro “Receita para bem crescer” presenteou-nos com uma receita maravilhosa e peço licença para fazer uma “adaptação” para responder a sua pergunta: Professores queridos, plantem nos seus quintais pés de fantasia. Não saiam de casa sem colocar, nos bolsos, fios invisíveis e agulhas de tecer sonhos. Nas suas mochilas, sempre cheias de testes, giz e preocupações, coloquem suas asas dobráveis para os voos imprevisíveis do coração, pois vocês podem ser a única esperança de uma criança em determinado dia. Então, estejam preparados para tocar o coração dessa criança com o requinte de cuidado, carinho e magia que ela merece. E gratidão a cada um de vocês que conseguem fazer maravilhas com meus livros.
Maria Helena – Por que trabalhar com literatura infantil nas escolas?
A infância é a fase na qual pais e educadores têm a chance de construir o conceito de “hábito” de forma atrativa, prazerosa e significativa. Isso é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. A última pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada em 2015 pelo Instituto Pró-Livro (IPL), mostra que a sala de aula é o segundo lugar onde as pessoas costumam ler livros, depois de casa. Para transformar a leitura em algo espontâneo e permanente, é preciso que as escolas, sendo locais favoráveis, estimulem e construam esse hábito saudável.
Maria Helena – De que forma a literatura infantil amplia o universo da criança e até lhe permite uma leitura sobre o mundo?
Já dizia o psicólogo Lev Vygotsky, em sua obra “O desenvolvimento psicológico na infância”, que “a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista”. Por isso, sendo a leitura um estimulante à imaginação, ela ajuda na construção dos pensamentos lógico e crítico da criança, fatores fundamentais para o desenvolvimento da sensibilidade com a qual ela irá compreender a realidade, e da sua percepção de mundo.
Marisélia Souza – Conversando com professores ou crianças em escolas ou em feiras de livros, o que mais tem surpreendido a Vó Filó?
A qualidade dos projetos literários desenvolvidos pelos professores e escolas. Não me canso de me emocionar com as maravilhas apresentadas por eles, e sempre conseguem arrancar lágrimas dos meus olhos. O encantamento dos professores e alunos pelas histórias é altamente gratificante. Eles, realmente, “vivem a história” e transformam a escola em um lindo cenário.
Marisélia – Você é uma caçadora de maravilhas. Além da Esperança, qual maravilha pretende alcançar nesta caminhada?
Eu escuto muito adulto que vai à biblioteca, e, ao pegar um livro dos Pingos ou da série Vaga-lume, sempre demonstram alegria e dizem: eu adorava ler esse livro. A maior maravilha que posso alcançar nessa caminhada é, no futuro, uma das minhas crianças de hoje dizerem que a Vó Filó foi marcante na infância delas. A série “Maravilhas de Filó” tem data marcada para terminar, e eu já estou em pânico com a aproximação do fim. Ela é composta por sete livros que simbolizam as sete maravilhas do mundo e as sete cores do arco-íris. Significa que faltam apenas quatro livros para fechá-la. Mas já estou com planos maravilhosos para essa avó que ganhou os corações de adultos e crianças.
“A esperança de vó Filó”
Autora: Magda Trece
Editor: Gryphon Edições, 28 páginas
Trecho de “A esperança de vó Filó”
Por Magda Trece
“Um certo dia… ou melhor, no dia certo, Vó Filó acordou com suaves, mas insistentes batidas na janela.
Olhou rapidamente para o relógio, que marcava 6h da manhã.
__ Ora… ora… quem poder ser a essa hora?
Sorriu com a rima feita sem querer.
Ao abrir a janela, uma invasão de borboletas tomou conta do seu quarto.
Eram dezenas de borboletas… “trocentas” borboletas… borboletas de todas a cores e tamanhos.””