Rodrigo Alvarez: “Jesus não é dos cristãos apenas. É da humanidade”
Na quarta-feira da semana passada, dia 04 de abril, o correspondente da TV Globo na Europa Rodrigo Alvarez passou por Belo Horizonte para lançar “Jesus – O homem mais amado da história” (Leya, 368 páginas). Recebi o livro e conversei com o autor para o Sala de Leitura. Diferentemente do que muitos podem pensar, não é uma obra voltada, somente, para cristãos. Suas linhas são dedicadas “a todos aqueles que, como Jesus, entendem que o amor ao próximo é a parte mais bonita de nossa existência – e que toda a existência humana, por si só, sempre foi e será sagrada”, escreveu esse que está entre os autores que mais vendem livros de temática religiosa no país.
“Jesus não é dos cristãos apenas. É da humanidade. Então, o livro fala para todos. Isso que é importante ter claro. Não adianta segmentar Jesus. Ele não é um personagem pequeno, que pode ficar restrito a um grupo. É mais do que isso. Ele mudou a história da humanidade, e assim ele é tratado no livro: como o homem mais importante, o homem mais amado da história.”
Alvarez nos entrega essa biografia após ter vivido durante três anos em Jerusalém. Por lá, percorreu os mesmos lugares que Jesus e, nessa nova empreitada, trouxe-nos um trabalho com pesquisas a fontes recentes e a documentos antigos, incluindo pergaminhos que os primeiros bispos da igreja tentaram apagar na fogueira. Ele nos diz que sua intenção, desde o início, foi fugir de interesses políticos e religiosos, olhares repetitivos e sensacionalismos. A disputa com João Batista, o papel de Maria Madalena na vida de Jesus, a visão de Jesus sobre o Apocalipse e a reconstituição, em detalhes, dos últimos passos antes de sua morte são alguns dos assuntos tratados na obra, riquíssima, também, em imagens.
Já no fim de 2017, Rodrigo Alvarez deixou a Globo Livros, pela qual publicou “Haiti, depois do inferno”, os best-sellers “Aparecida”, “Maria” e “Humano demais”, e tornou-se a mais nova aposta da Leya. “Jesus – O homem mais amado da história” é o primeiro livro na nova editora e, a partir daqui, o projeto é investir mais e mais em seu lado escritor.
Marisa Loures – Você volta a lançar um livro com temática religiosa. O que te instigou a se lançar sobre essa história e sobre todas as outras histórias anteriores?
Rodrigo Alvarez – Primeiro, tenho que ter um interesse muito grande sobre o assunto. E eu tenho desde criança, de certa forma, porque, no meu colégio, tive um padre que me contava muitas histórias. E aquilo me interessava muito. Mas, depois disso, o interesse do escritor que se iniciou com o livro “Aparecida”, que eu comecei a pesquisar em 2011, veio crescendo depois que morei em Jerusalém, por experimentar esses lugares todos, viver, ver de perto onde Jesus viveu. Isso me deu uma impressão de que faltava um livro que realmente falasse o que foi a vida de Jesus, indo até aqueles lugares, experimentando aqueles lugares e trazendo para o nosso tempo de hoje uma pesquisa mais atual, obviamente, sem deixar de recorrer aos textos mais antigos. Não só os evangelhos, mas a muitos outros textos que existem e que as pessoas não conhecem. O Jesus que nos chega, hoje, chega muito fragmentado. Então, o livro traz o Jesus completo, a história inteira, sem censura, sem sensacionalismo também e com a delicadeza que merece esse que nós chamamos de o homem mais amado da história.
– A pesquisa para a escrita do livro foi muito rica e contou com consultas a fontes recentes e antigas, incluindo pergaminhos que os primeiros bispos da igreja tentaram apagar. A igreja não reprovou o livro?
– Acho que a maneira respeitosa com que trato todos os temas, a maneira respeitosa com que abordo a história de Jesus Cristo, assim como fiz em “Maria” e no livro “Aparecida”, ao contrário, traz a igreja para perto. A igreja, hoje, não é a mesma igreja que queimava livros nos séculos I, II e III depois de Cristo. Até mesmo depois. A igreja de hoje tem outra visão e entende que existem visões diversas. Não estou aqui trazendo, de novo, sensacionalismos, desafiando. Pelo contrário, estou trazendo diversidade. Acho que isso é bem-vindo. A gente precisa, hoje, de diversidade. O mundo está muito segmentado, fragmentado. Todo mundo defendendo posições muito duramente, e o livro traz doçura em certo sentido. Ele traz as diversas faces de Jesus, mas todas elas são harmônicas. Se você começa a entender mesmo a história de Jesus Cristo, você vai ver que cada momento da história, cada segmento religioso, via Jesus de uma maneira, mas essas maneiras não se confrontam. Elas se complementam.
– Você morou três anos em Jerusalém e percorreu lugares por onde Jesus passou. É possível passar por uma experiência como essa e voltar a ser a mesma pessoa?
– Realmente, transformadora a experiência de viver em Jerusalém e, também, de visitar Jerusalém. Tenho muitos depoimentos de pessoas que vão até lá e voltam transformadas. Claro que a transformação de cada um é muito particular. Para mim, foi uma experiência contínua que durou esses anos em que estive lá e que continua até hoje, porque eu vivia muito perto dos lugares por onde Jesus passou, especialmente, onde Jesus morreu, em Jerusalém. A Via Crucis toda ali. Ainda existem pedras daquela época. Tudo é muito tocante, é muito emocionante, e também faz a gente entender o que foi, de fato, essa história.
– O livro é dedicado a católicos, evangélicos, budistas, enfim, “a todos aqueles que, como Jesus, entendem que o amor ao próximo é o que tem de mais bonito na nossa existência”. O Objetivo maior da obra é falar sobre esse amor?
– O livro não tem o objetivo de trazer essa mensagem de amor, mas ele traz naturalmente, porque essa era a mensagem de Jesus, e é a mensagem mais forte. A que chega até nós. Então, não é que o livro tenha um objetivo, mas, quando você fala de Jesus com clareza, com profundidade, inevitavelmente, o que emerge é o amor. E o amor próximo, né? É importante destacar isso, porque há muita polêmica sobre a relação de Jesus com Maria Madalena. Que fique claro: há muito sensacionalismo. Ainda que eu mostre, no livro, os textos que dão a entender um relacionamento diferente, há inúmeros, aliás, muito mais textos do que esses poucos que têm essa diferença, mostrando o relacionamento de amizade, de fraternidade, entre Jesus e Maria Madalena.
– O livro traz alguma descoberta inédita que possa nos contar?
– A grande descoberta que a gente faz é olhar Jesus de outra forma, olhar para Jesus sem restrições, sem preconceitos, sem tentar defender uma ou outra visão religiosa. É que ele era um homem muito maior do que a gente pode imaginar. Aí dou como exemplos que, naquela época, surgiram inúmeros textos falando de Jesus com visões diferentes, inclusive visões diferentes sobre o rosto dele. Há descrições de Jesus, inclusive, com uma fonte de luz, como se fosse um espírito encarnado por algum tempo que veio viver na terra. Existem tantas visões interessantes e diferentes que a grande descoberta é, a meu ver, você vê Jesus de outras maneiras, muito maior até do que a gente já conhece. Quando você abre o leque, lê tudo, inclusive os textos que foram esquecidos e proibidos, você descobre que existe um homem muito mais complexo e interessante do que a gente podia imaginar.
– E, para escrever esse livro, o escritor e o jornalista trabalharam juntos. Qual o caminho percorrido para alcançar um resultado longe de olhares repetitivos, sensacionalismos e interesses políticos ou religiosos?
– O critério jornalístico permeia o livro e todos os meus livros o tempo todo. A apuração rigorosa, a revisão rigorosa, a citação de fontes quando é necessário, sem que se torne um texto chato, porque é importante que o livro seja muito bom de ler. Então, o tempo todo, você sabe de onde veio aquela informação. Você sabe, com clareza, qual caminho estou percorrendo. O que o sensacionalista faz? Ele pega uma frase solta, num livro antigo, e fala: “de acordo com o pergaminho tal, com o livro tal, o evangelho tal, Jesus fez isso ou aquilo. A gente pode dizer isso.” Aí o cara faz um livro sensacional, mas, quando você vai ver, ele não se sustenta em nada. Ele é uma falsidade destinada a criar sensacionalismos. Com certeza, o critério jornalístico entra com muita força quando pesquiso e faço a apuração, que é longa, para escrever um livro desse. Depois disso, e o tempo todo, tem o escritor. O escritor é diferente do jornalista nesse sentido. O escritor busca uma profundidade, um texto de fôlego, um texto que tem trezentas e tantas páginas, que conta uma história profunda, que é envolvente por si só, porque a história de Jesus é maravilhosa. Então, existe o tempo todo o diálogo entre o critério jornalístico e o estilo literário, a forma de escrever, que é o que eu busco desde que comecei meu primeiro livro.
– O que a mudança de editora implica em sua carreira de escritor?
– A novidade tem sido essa. Um envolvimento muito grande com o projeto de escritor, com o projeto de fazer livros religiosos. Também, paralelamente, com a Leya, estou fazendo meu primeiro livro de ficção, que, em breve, a gente vai lançar. E que é interessante, porque não foge do tema. Pode parecer estranho, de repente, trocar, depois de alguns livros de temas religiosos, e falar de ficção, mas a ficção que estou fazendo é muito baseada em pesquisas também. Já viajei para vários lugares para fazer esse livro que estou escrevendo e que fala sobre uma história que tem relação com a história da humanidade, assim como Jesus cristo. Acho que o momento é de expansão, sem deixar a temática, porque, por exemplo, já tenho um planejamento para continuar o livro “Jesus”. A história que veio depois da morte de Jesus precisa ser contada. Tenho muito interesse em contá-la, acho que ela é tão interessante quanto o antes, em termos de complexidade, de interesse para as pessoas. Com a Leya, agora, estou num projeto muito amplo e numa produção muito rica. Acho que estou num momento muito fértil, e a editora tem me ajudado muito nisso, contribuído com profissionais excelentes e envolvidíssimos com esse projeto. Acredito que as pessoas vão ver isso no livro. Pegando esse livro agora, você sente que ele tem um peso, tem uma beleza.
Sala de Leitura: quinta-feira, 12 de abril, às 9h40, na Rádio Rádio CBN Juiz de Fora
“Jesus – O homem mais amado da história”
Autor: Rodrigo Alvarez
Editora: Leya (368 páginas)