“Nós, profissionais de saúde, somos humanos e susceptíveis às dores e dificuldades da vida”

Por Marisa Loures

08/02/2022 às 07h55 - Atualizada 08/02/2022 às 08h43

Atuando na medicina há mais de 20 anos, Júnia Baesso  estreia na literatura com trilogia que mistura realidade e ficção e traz o lado humano de profissionais da saúde – Foto Arquivo Pessoal

Na medicina, a alergista-imunologista Júnia Baesso Tristão Cotta atua há mais de 20 anos. Domina como ninguém a profissão que escolheu. Mas agora resolveu, também, flertar com outro ofício. Ela é uma leitora voraz. Dizem que, na pandemia, por suas mãos, passaram cerca de cem livros. E, de leitura em leitura, deixou aflorar seu lado escritora, desabrochado na adolescência, quando recebia elogios e mais elogios pelos poemas que escrevia. O incentivo do marido e a obra “A mágica de pensar grande”, de David Schwartz, eram o estímulo que faltava para que ela se entregasse, de vez, à escrita. Nasce, assim, Junia T. Cotta, nome que adotou como escritora.

 “Melodias para Marianna” (353 páginas) marca sua estreia na literatura e inaugura uma trilogia que se completa com “Inspirações para Joanna” e “Artimanhas com Suzanna”.  Misturando realidade e ficção, a autora apresenta-nos três romances em que o conteúdo médico- científico serve de pano de fundo para a história das três irmãs médicas. Como ambientação, ela escolheu, principalmente, o Rio de Janeiro, cidade onde morou e passou muitas férias na infância.  E Júnia faz questão de contar que seu foco era dar destaque para o lado pessoal  de médicos, psicólogos, enfermeiros  e outros profissionais da saúde. 

PUBLICIDADE

 “Na tela se abrem histórias e personagens fictícios, mostrando vivências do cotidiano dessas incríveis mulheres, que, muitas vezes, abrem mão da vida pessoal, de seus anseios e sonhos, para abraçarem as demandas e responsabilidades da profissão que escolheram”, afirma ela, que já disponibilizou o primeiro dos três livros na Amazon, em formato eBook. A previsão é de que “Inspirações para Joanna” seja publicado daqui a dois ou três meses e de que  “Artimanhas com Suzanna” chegue aos leitores no final de 2022.

Júnia revela, no prefácio de “Melodias para Marianna”, que não tem pretensão de ser uma “escritora literária”. Queria apenas “deixar o registro destas três histórias”, mas ela tem se divertido muito escrevendo, e tudo indica que seu flerte com a literatura está só começando.

Marisa Loures – Você diz que não tem pretensão de ser uma “escritora literária” e que queria apenas “deixar o registro destas três histórias”, o que me faz pensar que, talvez, sua experiência com a escrita se encerre com o lançamento desses três romances.  Ou há planos de lançar mais livros? Você se divertiu escrevendo?

Júnia Baesso – Contar estas histórias vindas de experiências vividas e aprendizados, tanto pela convivência com os pacientes e seus relatos, quanto pelo que fui absorvendo com os livros ao longo dos anos, me trouxeram a vontade de deixar estes escritos para meus descendentes. Esta foi a ideia inicial, e se tornou um excelente hobby. Mas confesso que peguei o gosto pela escrita, uma incrível diversão para mim, e estou terminando meu quarto livro. Esse eu escrevi em primeira pessoa, como sendo um médico humanitário, com idas à África e várias atuações nos Médicos sem Fronteiras. A maior parte da história se passa em Angola.

– Apresente  para os leitores a Marianna, a Joanna e a Suzanna. Como é a personalidade de cada uma dessas três protagonistas?

Marianna é uma médica com aguçado senso de humanidade e profissionalismo. Sendo a mais velha das três irmãs, foi a mais atingida pela doença paterna do alcoolismo e a separação dos pais quando adolescente. Concisa, solitária e com baixa autoestima, o que se explica por um sério problema pessoal, vivenciará uma mudança, com música e humor chegando à sua vida.  Já Joanna é uma médica competente e dedicada, vive para o trabalho, pouco se diverte. Muito séria, gênio difícil e de poucos amigos, reside com seu gato preto de estimação. Aprecia filmes de guerra e de terror. Um trauma da juventude a persegue, mas alguns acontecimentos serão inspirações para sua transformação.  E Suzanna é a irmã ruiva, divertida e tagarela. Como pediatra, vivencia muitos casos divertidos, e passa a registrar as tiradas de seus pequenos pacientes para a posteridade. Ao envolver-se com um dentista, passa a conviver com sua inteligente filha, em tratamento de leucemia no Rio de Janeiro, onde residem, mas prestes a ser levada de seu convívio.

– O dia a dia da sua profissão está  nas páginas desses três romances. Como você trabalhou a mescla de realidade e ficção?

Na verdade, comecei pela realidade, fazendo o registro de casos clínicos de pacientes, os mais relevantes e com algum diferencial, como a reação grave a medicamentos, por exemplo. A ficção veio depois, como uma forma de tornar o livro também uma distração.

– E percebo que você teve o cuidado de deixar o texto leve, oferecendo ao leitor uma escrita simples e cativante. Para quem se aventurava, pela primeira vez, na escrita de um romance, foi desafiador?

Foi sim, sem dúvida. Aprendi muito e venho aprendendo a cada dia, em como, na atualidade, a leveza faz a diferença. No mundo da multiplicidade de informações, da dinâmica e da escassez de tempo, optei por fugir dos textos muito descritivos e pesados, objetivando o divertimento. Ler para mim é também uma forma de lazer.

– Seus livros dão destaque à vida pessoal de profissionais da saúde, e muitas pessoas parecem esquecer que médicos e enfermeiros também têm suas dores. No primeiro, por exemplo, encontramos os gostos, as dores e os sonhos da Marianna, uma dermatologista. Para você, era importante trazer esse lado humano desses profissionais que ficam na correria entre consultórios e plantões de hospitais?

Sim, certamente. Nós, profissionais de saúde, somos humanos e susceptíveis às dores e dificuldades da vida, ainda mais no mundo insano em que estamos vivendo. Então procurei ressaltar esse nosso lado, de pessoas que têm suas particularidades e seus percalços. 

O conteúdo continua após o anúncio

– Sabendo da sua trilogia, lembrei-me de uma entrevista que li há alguns anos com duas escritoras inglesas que, na época, haviam lançado um livro com indicações de romances para curar enfermidades. Elas defendem que a ficção serve de terapia para tratar diversas condições. Como você vê essa questão? A literatura, realmente, pode ser uma importante aliada na cura de vários males?

Penso que sim, bem como diversos autores, sem especificar os de autoajuda. Ler um bom livro de ficção é terapêutico, assim como assistir a um filme de comédia e dar boas risadas. O livro tem o poder de lhe transportar a outros mundos, a belas paisagens e a encantadores ou intrigantes cenários. Viajar com a leitura é uma terapia, até mesmo pela abdução de sua própria realidade.

“Melodias para Marianna” (353 páginas)

Autora: Junia T. Cotta

Disponível na Amazon.

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade pelo seu conteúdo é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir postagens que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.



Leia também