“As crianças sabem que não existe ‘feliz para sempre’”, destaca Juliana James
O novo livro da professora e escritora juiz-forana Juliana James é “O segredo do cofre verde” (Paratexto, 28 páginas), que tem ilustrações da fotógrafa e artista visual Taís Marcato. Eu já recebi o meu exemplar, mas o lançamento oficial acontece mesmo é no próximo domingo, 07, às 10h30, no Teatro Paschoal Carlos Magno. Então, já sei como é essa nova aventura criada por Juliana, e ela que me perdoe, pois aqui vai um spoiller. Sabe com quem ela aprendeu a contar histórias? Certamente, com o avô Chico. Esse era um exímio contador de causos. A menina Juliana e seus primos e primas passavam horas e horas ouvindo o que ele narrava. E foi aí que surgiu o mistério do tal cofre verde. É claro que para conhecer o segredo e, de quebra, visitar as memórias da autora, você vai ter que ler o livro.
“Meu avô morreu quando eu tinha 11 anos e foi a primeira vez que me deparei com a morte. Nós éramos muito próximos, ele era divertido, carinhoso e adorava contar histórias. Desde 2013, eu venho publicando e contando minhas histórias para muitas crianças e sempre me lembro dele. Foi daí que surgiu o desejo de falar sobre a nossa relação e assim ter a oportunidade de oferecer ao leitor uma narrativa que pudesse acolher, falar do luto de forma natural e mostrar uma possibilidade de lidar com ele”, revela a escritora, confirmando que o amor pela arte que desenvolve foi estimulado pela família. No entanto, a entrada no teatro aos 6 anos de idade, o convívio com professores que fizeram a diferença na vida dela, o contato com a literatura e com a música, tudo isso foi fundamental na formação dela e nas escolhas que ela fez na vida.
Nessa nova obra, a autora também leva as crianças para dentro do livro. Isso porque, enquanto percorrem as lembranças da garota que cresceu marcada pela obra “A pequena vendedora de fósforos”, de Hans Christian Andersen, elas são convidadas a decifrar alguns enigmas para descobrir o código que abre o cofre. Além disso, a meninada ainda é levada a uma reflexão sobre saudade, perdas e valores pessoais. Quem quiser participar do lançamento, basta dar um pulinho no Teatro Paschoal Carlos Magno. Já sei que vai ter música ao vivo com Pedro Esteves e, claro, histórias. Juliana garante que essa contação vai ser bem diferente.
Marisa Loures – Juliana, neste novo livro, você convida o leitor a viajar por suas memórias de infância. Quais são suas principais lembranças desse período?
Juliana James – Marisa, tive uma infância muito gostosa. Lembro-me do tempo que passava ouvindo as histórias do meu avô, as brincadeiras com meus primos e primas… Era na casa da minha bisavó que a família se reunia e ficava todo mundo em volta da mesa comendo e conversando! São muitas lembranças boas que vêm com cheiros, sabores e também muita saudade.
– Basta ler “O segredo do cofre verde” para descobrir que Hans Christian Andersen e Maria Clara Machado fizeram parte da sua infância. Quais outras leituras da época de meninice te acompanham até hoje?
– Ah! Eles fazem parte da minha vida!! Eu adoro apresentar essas histórias aos meus alunos de Teatro e Escrita Criativa. Gosto muito de conhecer novos autores, novas histórias, mas não tem como largar histórias belíssimas como “A pequena vendedora de fósforos”, um dos clássicos de Hans Cristian, e tantos outros!
– Por falar nessas suas referências de infância, hoje, como autora, provavelmente, você retorna a essas leituras com um novo olhar. Como é essa experiência?
– É uma experiência rica e lúdica, pois, mais do que mergulhar na boa literatura, fica clara a importância das experiências vividas na infância para o nosso desenvolvimento humano, a nossa formação como pessoa. Neste ano, eu fiz com meus alunos de teatro “A Bruxinha que era boa”, da Maria Clara Machado, e estou ensaiando “Pluft, o fantasminha.” Eu adoro ler os livros infantis e revisitar histórias que já li e transformá-las em peças de teatro ou contacões de histórias.
– Há histórias que nos marcam para sempre, e você foi marcada por “A pequena vendedora de fósforos”. O que Hans Christian Andersen fez que te pegou de jeito com esse livro?
– Acho que esse livro me ajudou a ter consciência sobre a morte, mesmo que fosse algo muito superficial na época. Ele me ajudou a naturalizar essa passagem da vida e, quando meu avô morreu, eu olhei para o céu e procurei por estrelas… mas o leitor precisa ler o livro o do Hans ou meu para entender melhor o que quero dizer sobre as estrelas.
– Aliás, você diz no livro que, quando lê essa história, é como se o autor te pegasse pelas mãos e te conduzisse por todos os cenários. Você se sente dentro da história. É isso que você também almeja fazer com seu leitor?
– Quando me sinto dentro de uma história a ponto de não querer largar o livro e não conseguir parar de ler é bom demais! Foi assim quando li recentemente “Torto arado”, do Itamar Vieira Junior. E sim, gostaria que o meu leitor vivesse essa experiência, e mais, que revisitasse as suas memórias.
– Você conta que, diferentemente dos contos de fadas, o final de “A pequena vendedora de fósforos” não é feliz. No entanto, esse fim te encantou. Precisamos mostrar para as crianças que nem sempre o “feliz para sempre” acontece?
– Eu acho que a história me tocou porque eu consegui me colocar no lugar da personagem, senti frio com ela, fiquei triste por ela, senti a dor da saudade e entendi que estamos todos de passagem e que, ao mesmo tempo que pode ser triste, pode ser belo e natural, porque tudo é vida. Eu acho que as crianças de hoje já sabem que não existe “feliz para sempre” e, sim, infinitas possibilidades de finais ou não finais. O que precisamos, talvez, é mostrar a elas que a arte e a literatura estão aqui para nos provocar, nos inspirar, nos fazer pensar de outras formas por meio dos personagens e também para nos acolher… E quem sabe nos direcionar a descobrir o segredo de um cofre! Você já pensou sobre o que será que pode ter de tão valioso dentro desse tal cofre verde?
“O segredo do cofre verde”
Autora: Juliana James
Ilustradora: Tais Marcato
Editora: Paratexto (28 páginas).
Lançamento: domingo, 07 de agosto, às 10h30, no Teatro Paschoal Carlos Magno.