Mito

Por Bruno Stigert

18/12/2022 às 07h00 - Atualizada 17/12/2022 às 09h52

Mitos são representações fantasiosas e alegóricas utilizadas pelos homens para dar algum sentido aos fenômenos da natureza. Na Ciência Política, o conceito de mito é utilizado para se referir a promessas falsas. Vale lembrar, ainda, o significado de mitomania, que se traduz como hábito patológico de mentir ou pessoa que mente compulsivamente. Diante do quadro desenhado, parece-me possível concluir que mito ou a mitologia flertam com a mentira e a fantasia a todo tempo ou pelo menos com a criação de supostas verdades. Aliás, nunca é tarde para lembrar João 8:32: “conhecereis a verdade, e a verdade os libertará”.

Mitos ocupam espaços importantes e determinantes em sociedades carentes de direitos que viabilizam a liberdade real, notadamente os direitos sociais à educação e à alimentação. Esse grau de vulnerabilidade expõe as pessoas às falsas promessas e supostas representações divinas/mitológicas na vida social, ou seja, verdadeiros messias.

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Dizia Freud, em apertada síntese, que quanto mais fraco, inculto e solitário for o sujeito, maior será seu desejo de participar de movimentos autoritários que prometem redimi-lo de sua insignificância, pequenez e frustrações. Nesse momento é possível perceber que a criação de mitos é uma fuga eficaz para sujeitos em busca de propósito, mas que permanecem incultos e vulneráveis a crerem em possíveis mitos salvadores e heroicos.

Insisto no que já venho repetindo aqui em colunas passadas. As diversas vulnerabilidades socioeconômicas brasileiras, somadas a uma confusa secularização (na verdade o movimento parece ser na direção contrária), permitiram o surgimento de um extremismo forte, campo fértil para mitos e messias salvadores.

Esse recrutamento sugere que indivíduos vulneráveis ao extremismo não são necessariamente ignorantes ou ingênuos. São pessoas motivadas por redes sociais (família, amigos ou comunidade global) e que se sentem isoladas no interior da sociedade em que vivem. Anseiam por propósito e empolgação. São sujeitos atravessando conflitos de identidades, buscando reputação ou satisfazer uma compulsão por ação. Muitos são escolarizados, porém subutilizados, nutrindo uma falsa noção de segregados por seu status social. Sentem-se maltratados por seus pares e pelo governo. Portanto, os recrutados, quando avistam um mito capaz de abraçar esse sofrimento por indeterminação, lutam por ele como se fosse a única salvação possível para suas frustrações.

O mito contemporâneo brasileiro se converteu em “Lame duck” e deverá seguir o curso dos mitos na história, de suposto mito salvador a um falso messias. O Brasil flertou forte com a mitomania e quase ignorou o alerta daquele pensador que me fugiu o nome e que dizia assim: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

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Bruno Stigert

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