A polêmica dobradinha

Um caso de amor e ódio nas mesas dos bares e botequins

Por Airton Soares

23/09/2020 às 23h46 - Atualizada 24/09/2020 às 16h35

Foto: Jr Faria

Há quem não queira nem ouvir o nome que se dá ao prato nos botequins: bucho! Outros salivam só de lembrar da iguaria, de tanto que gostam do guisado que leva o miúdo bovino cozido com o inseparável feijão e outros ingredientes saborosos.

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Curioso é que a receita não é nacional, como muitos poderiam imaginar. Na Europa, há muito tempo, os miúdos bovinos são aproveitados nas mais variadas formas de preparo. Seja na Espanha, Itália, França ou em Portugal – responsável por trazer a receita pra cá -, ninguém despreza essa parte do boi que, inegavelmente, dá um baita trabalho para preparar, mas que entrega uma textura que nenhuma outra parte do animal tem.

O preparo envolve horas de limpeza, lavando-se as peças sucessivas vezes, escaldando e aplicando-se limão e até fubá para retirar impurezas e gordura excessiva. Verdade é que muitos matadouros e frigoríficos já entregam a dobradinha processada, valendo-se de equipamentos como centrífugas e ofertando as peças embaladas e alvejadas. Ainda assim, nos restaurantes elas são cuidadas com muita preocupação pelos cozinheiros, visando oferecer uma dobradinha com sabor e aroma que agradem aos clientes.

E as mais valorosas cozinheiras dão o toque necessário para transformar o prato outrora odiado num suculento e saboroso cozido cheio de pedaços, com direito ao feijão branco, bacon em quantidades generosas e muita linguiça. O toque final se dá com uma cobertura de cebolinha na hora de servir e algumas gotas de uma boa pimenta para aquecer o paladar.

 

O Bar Dias conta com uma versão premiada: a Dobradinha da Rainha foi ao pódio em segundo lugar no concurso Comida di Buteco de 2013 e desde então atrai uma legião de fãs ao bar. Nesse preparo, ela é servida ao molho de tomate e linguiça calabresa. Lá também há a dobradinha com feijão branco numa versão servida em caneca ou copo, fumegando de tão quente, e ainda a versão à milanesa, que é empanada e frita, sendo picada posteriormente e servida numa porção crocante aos clientes.

 

No Empório do Sabor, no Bairro de Lourdes, a dobradinha é oferecida num caldo e com o tradicional feijão branco, e o Thiago Nonato me contou que ela é cozida lentamente com tomate e cebola para adquirir uma textura bem espessa, finalizada com cebolinha pra arrematar a receita. Quem já conhece os pratos do bar, que é o atual campeão do Comida di Buteco, já pode imaginar o quanto é boa essa receita.

Mas pra quem prefere o prato numa boa refeição para o almoço, num restaurante ou em casa mesmo (basta pedir pelo delivery), pode contar com ela todas às quartas-feiras lá no Restaurante da Cris, onde a dobradinha figura neste dia como atração principal. Cortada em quadradinhos, ela também chega à mesa com muito bacon e linguiça fina. Servida em porção generosa, tem no preço acessível outro ótimo atrativo. Acompanhado de um arroz branco, farofa e um angu molinho é garantia de “endireitar” qualquer nariz torcido para o prato.

Então é isso: seja no botequim ou no restaurante, num caldo ou num guisado caprichado, não deixe de experimentar a dobradinha! Vamos juntos?!

 

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Bar Dias

Rua Luiz Rocha 2 – Santa Terezinha – Tel.: 3224-9914

 

Empório do Sabor

Rua Henrique de Novais 166 – Lourdes – Tel.: 3236-7760

 

Restaurante da Cris

Rua Américo Lôbo 2.321 – Progresso – Tel.: 3225-7590 – App: Ifood

Butecos de JF

Butecos de JF

Airton Soares é gestor público por formação acadêmica mas, por opção e gosto, é conhecido como apreciador da cozinha de raiz, com experiência comprovada e acumulada na cintura. Já foi jurado em diversos concursos de gastronomia, é colunista do Tribuna de Minas, tem programa na rádio Transamérica JF e é dono da fanpage @butecosdejf, onde conta com mais de 100 mil seguidores que acompanham as dicas e comentários sobre comidas, bebidas e bares desse rotundo entusiasta da culinária simples e saborosa, segundo ele, a mais gostosa de todas!

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