Brumadinho, até quando?

Por Marcos Araújo

30/01/2020 às 07h15 - Atualizada 29/01/2020 às 18h33

Completou-se um ano do rompimento da barragem de Brumadinho no último sábado. A cidade mineira, a 65 quilômetros da capital Belo Horizonte, sempre foi conhecida no Brasil e no exterior por abrigar o museu a céu aberto de Inhotim, com um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes, os quais já tive o privilégio de conhecer. Todavia, o município agora é reconhecido no noticiário como o lugar onde aconteceu uma das maiores tragédias da história da mineração. Naquele 25 de janeiro de 2019, às 12h28, quando trabalhadores estavam em horário de almoço no refeitório da empresa, a represa estourou, cobrindo com milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério tudo que encontrou pela frente.

A ruptura resultou em uma catástrofe de grandes proporções, considerada como um desastre industrial, humanitário e ambiental, com números oficiais de 270 mortos, mas para as famílias esse total é de 272, pois havia duas mulheres grávidas entre as vítimas. E claro que há as sequelas permanentes para o ecossistema. A cidade teve sua rotina completamente transformada e perdeu 1% de sua população. Mais de 365 dias depois do rompimento, muitas pessoas ainda sofrem e lutam para enterrar seus familiares.

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Para aqueles que perderam seus entes que ainda estão desaparecidos, a cada novo corpo encontrado, a cada sepultamento, há uma volta àquela data fatídica. É como se, ao olhar para os novos caixões descendo na sepultura, houvesse a interiorização, muitas vezes difícil de aceitar, da morte, mesmo que o corpo não tenha sido encontrado. Para essas pessoas, existe um luto incompleto, incerto, já que muitos familiares relatam que o seu dia a dia, que precisou seguir em frente, é permeado pela ansiedade de escutar o telefone tocar com a informação de encontro do parente perdido. Eles sabem que essa notícia será a mais triste, mas também é a mais aguardada.

Para os que sobreviveram ao rompimento, a vida corre em suspenso. Há muitos relatos daqueles que ainda não conseguiram superar os traumas, a maneira bruta como foram atravessados pela onda de lama. A impunidade, para eles, é o principal elemento que deixa suas vidas agarradas ao passado. É como se a história de cada um tivesse sido roubada, para jamais ser recuperada. O rompimento da barragem em Brumadinho não foi a repetição de uma tragédia, existe outro nome para o que ocorreu. Três anos antes aconteceu em Mariana, com 19 mortes, mas pouco foi feito pelas autoridades. Omissão tem sido a palavra de ordem em casos assim e de outros tipos também aqui no Brasil.

No caso de Brumadinho, para os crimes ambientais e de falsificação de documentos, 13 pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal, e as investigações sobre as mortes ainda prosseguem. É muito difícil pensar que a atividade de mineração vai acabar, mas precisa ser mudada, abrindo espaço para o respeito aos seres humanos e ao meio ambiente. A vida deve estar em primeiro lugar, para que também não seja minerada como os minérios que garantem lucros para essas grandes empresas. Para a população de Brumadinho, o luto é permanente, gritando por justiça. Até quando?

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Marcos Araújo

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