Que gente é essa?
Que gente é essa que se posta em frente a hospitais e, recebendo dinheiro público, não deixa o povo falar de suas dores? Que gente é essa que se esconde atrás de doutrinas religiosas, mas não se compadece das mazelas dos mais pobres? Que gente é essa que, mesmo dando a cara a tapa, se coloca na frente de uma câmara de vídeo e, com o dedo em riste, tenta impedir um cidadão de falar de seu sofrimento, ao mesmo tempo que também tenta embargar a imprensa no seu papel de mostrar o mal funcionamento de serviços públicos?
Que gente é essa de rostos tão comuns, que caminha despercebida entre nós, corrompendo nossa sociedade sob o manto de cidadão de bem? Ao ver a cara dos “guardiões” da prefeitura do Rio de Janeiro na televisão, logo pensei sobre qual seria a diferença entre eles e nós. Seria possível reconhecê-los? Assemelham-se com a gente. Parecem-se com o nosso povo. Um povo sofrido. Inclusive, pelas suas feições é bem provável que já tenham passado pelas mesmas dores. Mas agem como abutres por um naco de carniça, fazendo valer o “salve-se quem puder”, que vigora no cenário político e já se estende para as mais diversas camadas da sociedade.
O que dizer de políticos que engendram e bancam uma organização como essa? Desses já não esperamos mais nada e qualquer coisa que se possa falar deles parecerá redundante. É triste ter que pensar assim, mas o Brasil que se apresenta diante de nós não deixa outra alternativa (digo isso torcendo para estar errado).
O trabalho desses “guardiões”, como mostra os jornais, é organizado por grupos de WhatsApp. Aliás, esse aplicativo tem sido pródigo quando o assunto é falcatrua. Por meio de troca de mensagens, os funcionários da prefeitura são distribuídos por unidades de saúde municipais com o objetivo de fazer uma espécie de plantão.
Em duplas, eles tentam atrapalhar reportagens com denúncias sobre a situação da saúde pública e intimidar cidadãos para que não falem mal do poder executivo municipal. Algo que parecia, até então, inimaginável, mas que, na realidade atual, faz todo o sentido.
Esse episódio nos faz despertar para o cerceamento ao direito às denúncias sobre a precariedade de serviços públicos, como também do direito de as pessoas se informarem a respeito de temas de interesse público.
Diversos órgãos ligados à imprensa e à atuação de jornalistas advertiram que essa conduta adotada pela prefeitura do Rio não é isolada, mas se caracteriza como uma política que vem se repetindo, com a finalidade de constranger jornalistas e cidadãos. É um tipo de operação que passa por cima de princípios constitucionais, ferindo direitos da população e da administração pública, com o intuito de barrar o exercício de uma imprensa livre, o que é fundamental em uma democracia.
De “guardiões” que zelam pela permanência de malfeitos, já estamos fartos. Almejamos, com urgência, o surgimento de novos depositários de confiança, que renovem a fé na nossa gente!