Mesmo com pandemia, TSE mantém calendário eleitoral

Prazos estão mantidos, e mudanças, sugeridas pelo ministro da Saúde, dependem de aval do Congresso Nacional


Por Renato Salles

24/03/2020 às 06h59- Atualizada 24/03/2020 às 07h41

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não trabalha com a hipótese de postergação dos prazos válidos no atual calendário eleitoral que antecede os sufrágios municipais marcados para outubro. A possibilidade já vem sido aventada diante da paralisia em vários setores provocada pela pandemia da Covid-19 e das recomendações de autoridades de saúde e sanitárias que levaram à suspensão de várias atividades, incluindo as do próprio TSE, que adotou regime de plantão extraordinário para prevenir contágio pelo coronavírus. “O TSE está atento e analisa o cenário atual com cuidado e atenção”, diz nota encaminhada pelo tribunal à Tribuna nesta segunda-feira (23). O texto reforça ainda que “de acordo com a Secretaria Geral da Presidência do TSE, o cronograma eleitoral está sendo cumprido e que, até o momento, o calendário eleitoral não sofreu alterações.”

Na semana passada, a presidente do TSE e ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, já havia afirmado não ser possível modificar a data-limite para filiação a um partido político com vistas às eleições municipais de 2020, por se tratar de prazo previsto em legislação federal, necessitando, portanto, de alteração da norma legal. Assim, tal prazo está mantido e se expira em 4 de abril. Para embasar sua opinião, Weber lembrou que o prazo de seis meses antes das eleições é previsto na Lei das Eleições (Lei 9.504/1997) e “é insuscetível de ser afastado pelo Colegiado”. Assim, uma postergação dependeria de uma alteração da norma legal.

PUBLICIDADE

A despeito da posição firme do TSE sobre o tema, algumas vozes favoráveis e contrárias à possibilidade de postergação do processo eleitoral que marcará a sucessão nos municípios brasileiros têm se manifestado. Também na semana passada, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em reunião virtual com prefeitos, defendeu o adiamento do pleito, cujo primeiro turno está marcado para o dia 4 de outubro, em decorrência da pandemia de coronavírus. Para Mandetta, o foco deve estar totalmente voltado para as ações de enfrentamento à Covid-19. “Tem prefeito pensando em eleição e oposição cobrando medidas mais duras, porque está pensando em eleições”, afirmou.

A fala provocou reação quase instantânea do presidente da Câmara Federal, o deputado Rodrigo Maia (DEM), que já antecipou posição contrária à possibilidade. “A discussão de adiar as eleições é completamente equivocada. Nestes próximos meses, o nosso foco deve e será, certamente, do Poder Executivo, do Parlamento e do Judiciário, o enfrentamento a essa crise, com os Três Poderes trabalhando de forma unida”, afirmou.

Em meio aos posicionamentos distintos, o vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, que assume a presidência do tribunal em maio, foi taxativo ao dizer que cabe ao Congresso Nacional qualquer mudança no calendário eleitoral. “A Constituição prevê a realização de eleições no primeiro domingo de outubro. A alteração dessa data depende de emenda constitucional. Portanto, não cabe a mim, como futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, cogitar nada diferente nesse momento. É papel do Congresso Nacional deliberar acerca da necessidade de adiamento, inclusive decidindo sobre o momento adequado de fazer essa definição”, disse, por meio de nota.

Charlles, Lafayette e Margarida consideram discussão precoce

Com o assunto em voga, a Tribuna ouviu os quatro deputados federais que têm domicílio eleitoral em Juiz de Fora, e três deles defenderam visões similares às manifestadas pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Não é hora de discutir esta questão. Neste momento, o foco deve ser outro e também no combate ao coronavírus. O Mandetta deveria estar mais concentrado na gestão da saúde pública”, considerou Margarida Salomão (PT). A petista, todavia, não descarta uma reavaliação do calendário eleitoral diante de um possível agravamento da crise provocada pela pandemia. “Neste caso, podemos nos manifestar.”

Posicionamento similar também é compartilhado por Lafayette Andrada (Republicanos). O deputado afirmou que já manteve conversas com colegas e acredita que a maior parte da atual legislatura entende que “ainda é cedo para tomar uma decisão sobre o assunto”. “Ninguém sabe quanto tempo vai durar esta crise. Ainda é muito cedo”, disse o parlamentar, que ainda acredita em um recuo da pandemia com a possibilidade de avanços nas pesquisas por medicações e novos tratamentos.

Outro que considera a discussão precoce é Charlles Evangelista (PSL). “Temos que esperar mais um pouco”, afirmou à Tribuna. Em caso de o adiamento se fazer necessário, ele defende que os atuais mandatos de prefeitos e vereadores sejam prorrogados de forma a unificar os processos eleitorais com os pleitos municipais sendo realizados em 2022, conjuntamente aos sufrágios que escolherão presidente, vice-presidente, governadores, vice-governadores, senadores e deputados federais e estaduais. “Isto resultaria em economia no Fundo eleitoral”, avaliou.

Júlio defende adiamento

Dos quatro deputados da cidade, o único que saiu em defesa do adiamento das eleições de outubro foi Júlio Delgado (PSB), que afirmou que seu partido foi um dos primeiros a levantar o tema, provocando ainda a manifestação do ministro Luís Roberto Barroso. “Já estamos com o calendário eleitoral vigente. Não defendo a prorrogação de mandato de ninguém. Quanto mais eleições, melhor. Mas com as prioridades voltadas para o coronavírus, não há condições de fazer eleições”, pontuou o deputado, que defende o direcionamento do fundo eleitoral para o enfrentamento da Covid-19. “O que custa adiar para o ano que vem, fazer as eleições em janeiro, no recesso da Justiça, dar celeridade à prestação de contas, e os eleitos tomarem posse em março? Temos que priorizar a questão da saúde neste momento”, afirmou.

O conteúdo continua após o anúncio

Um possível adiamento do processo eleitoral poderia resultar na prorrogação do mandato do atual prefeito de Juiz de Fora, Antônio Almas (PSDB). Ainda sem confirmar publicamente a possibilidade de tentar a reeleição, Almas não comentou sobre a extensão de seu período à frente do Município e afirmou que o foco de momento é o combate ao avanço do coronavírus na cidade. De certa forma, os quatro deputados federais ouvidos pela reportagem estão inseridos no processo sucessório da cidade. Margarida Salomão já anunciou sua pré-candidatura à PJF; enquanto o PSL, de Charlles Evangelista, deve lançar a deputada estadual Sheila Oliveira (PSL) na disputa; o PSB, de Júlio Delgado, já trabalha o nome do empresário Wilson da Rezato (PSL); e o Republicanos, de Lafayette Andrada, aposta em uma novata e deve formalizar a delegada Ione Barbosa como postulante ao Poder Executivo municipal.

Tópicos: coronavírus

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.