Movimento no comércio cai após decreto da Prefeitura

Tribuna foi às ruas nesta quinta-feira para verificar situação do setor, um dia após publicação de norma que traz novas restrições devido à pandemia do coronavírus


Por Leticya Bernadete

19/03/2020 às 15h57- Atualizada 19/03/2020 às 23h50

Um dia após a publicação do decreto da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) que traz restrições ao setor privado e proíbe o funcionamento de shoppings centers e centros comerciais, a Tribuna foi às ruas da cidade nesta quinta-feira (19) para verificar a movimentação. O comércio registrou queda na demanda nos últimos dias, entretanto, as ruas centrais demonstravam grande fluxo de pessoas, apesar das orientações de isolamento social, recomendado pelas autoridades de saúde para evitar propagação do coronavírus.

Apesar de orientação para isolamento social, movimento nas ruas era grande na manhã desta quinta-feira (Foto: Leonardo Costa)

O decreto do Executivo institui situação de emergência em saúde pública, aumentando as restrições na cidade para evitar aglomerações. No caso das limitações ao setor privado, as exceções são as farmácias, clínicas de atendimento na área de saúde e supermercados. Mas a publicação gerou dúvidas quanto ao funcionamento do comércio de rua e das galerias. Em galerias como Pio X e Marechal Shopping, conforme observado pela reportagem, o funcionamento foi parcial, com algumas lojas fechadas e outras abertas.

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A queda na movimentação no comércio vem sendo sentida desde sábado (14), segundo a gerente da loja Cinderela Calçados, Memorina Rosa Ferreira. O clima é de preocupação entre os funcionários por conta do coronavírus. “O prefeito decretou que os shoppings fechassem, mas as lojas a céu aberto ficassem abertas. Eu não sei qual é a diferença entre uma pessoa e a outra, entre um funcionário do shopping e um funcionário de uma loja a céu aberto. Para mim, todo mundo é um ser humano.”

Nesta semana, o movimento caiu ainda mais. “Teve uma queda bem precisa a partir de terça-feira (17)”, conta a gerente da Ótica Precisão, Vanessa Gravina. “O pessoal está inseguro de estar vindo para a rua”. A loja fica localizada na Galeria Pio X e, segundo Vanessa, os estabelecimentos foram orientados quanto ao decreto da PJF a não funcionarem a partir desta sexta-feira (20).

Em entrevista ao programa Pequeno Expediente da Rádio CBN Juiz de Fora nesta quinta, o prefeito Antônio Almas foi questionado sobre a situação do comércio de rua e das galerias com a publicação do decreto. O chefe do Executivo reforçou a orientação sobre isolamento social. “Se eu ficar em casa, não há comércio que vai continuar atuando. Por que que eu vou estar com minha loja aberta se não tem para quem vender? Então, a primeira grande resposta – isso mata qualquer interpretação jurídica de que se a galeria é ou não é comércio de rua – nós precisamos fazer funcionar, hoje, só aquilo que é estritamente necessário para nossa sobrevivência.”

Tendência a fechamento

Na manhã desta quinta, lojas localizadas em galerias amanheceram com as portas fechadas (Foto: Leonardo Costa)

De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), Emerson Beloti, a publicação do decreto, de fato, gerou dúvidas quanto ao funcionamento de alguns estabelecimentos. Porém, o fechamento do comércio, como um todo, deve ser uma consequência. “Os centros comerciais são lugares fechados, onde tem aglomeração de pessoas. Se confundiu isso com o centro comercial da cidade, então uma parte do comércio nem abriu em função dessas informações. De qualquer forma, nós acreditamos que isso vai ser uma tendência.”

Com isso, o Sindicomércio tem se reunido com o setor jurídico para verificar questões trabalhistas por conta desta possibilidade. “Nós estamos conversando, justamente, porque cuidamos da parte trabalhista com o sindicato dos empregados. Temos que dar segurança ao empregado e, ao mesmo tempo, para a empresa, porque nós vamos ficar fechados por um determinado período, da mesma forma que outros setores.”

Shoppings deixaram de funcionar nesta quinta

Em virtude do decreto do Executivo, os shoppings localizados em Juiz de Fora já interromperam o funcionamento nesta quinta-feira. Em contato com a reportagem, a assessoria de comunicação do Independência Shopping informou que todas as lojas permanecerão fechadas, enquanto os serviços de alimentação e farmácia funcionarão em esquema de delivery.

Já o Shopping Jardim Norte publicou nota em suas redes sociais informando que o fechamento seguirá por tempo indeterminado. Apenas serviços essenciais, como a loja dos Supermercados BH, a Farmácia Pague Menos, e a Clínica Ser e Vacinas.com terão o funcionamento mantido. As operações de alimentação irão funcionar em plataformas de delivery.

O Santa Cruz Shopping também acatou a medida e suspendeu suas atividades até que haja novas determinações ou recomendações do Poder Público. Estabelecimentos essenciais como praças de alimentação, serviços de saúde, Correios e casas lotéricas terão o funcionamento facultativo. Para as lojas de alimentação, o serviço de delivery estará em operação entre 10h às 23h, com entrada exclusiva pelo setor de carga e descarga, situado na Rua Francisco Maia.

No Mister Shopping, fica mantido o acesso do público às clínicas de saúde em funcionamento. Na manhã desta quinta, as lojas do centro comercial já amanheceram fechadas.

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Decreto restringe funcionamento de bares e restaurantes

O decreto veda, também, o funcionamento de academias de ginástica, casas noturnas e bares e congêneres. No caso de restaurantes, os mesmos podem funcionar se, na organização de suas mesas, for observada a distância mínima de dois metros entre elas, dando preferência à entrega à domicílio. Também está proibida a realização de eventos e atividades com a presença de público, ainda que previamente autorizados, que envolvem aglomeração de pessoas. Assim, não poderão ser realizadas atividades como eventos desportivos, religiosos, shows, feiras, circos, eventos científicos, passeatas e similares.

O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Juiz de Fora emitiu nota orientando seus associados a acatarem a determinação do Executivo, “entendendo que o momento é de preservação do bem maior que é a vida humana”. “A categoria sofrerá intensamente a repercussão deste difícil momento epidêmico por que passa o país, prevendo demissões, inadimplência e fechamento de vários estabelecimentos, confiante pois que venceremos mais esta batalha.”

O setor também vem sentindo queda na demanda desde o final de semana, como foi observado por Paulo Oliveira, proprietário da Rellicário Brigaderia e Café. Segundo o empresário, a diminuição na movimentação levou o estabelecimento a dar férias coletivas para todos os funcionários, a princípio, por 15 dias. A empresa passa a funcionar apenas por meio de delivery. “É um momento de muita incerteza e muita insegurança. Se a gente tivesse uma data para saber quando vai acabar tudo isso, mas não tem, não existe essa data”, desabafa. “Se um funcionário, por exemplo, pega o coronavírus, de qualquer forma, nós vamos ter que fechar, então, nesse momento, é melhor cada um ficar em casa.”

Tópicos: coronavírus

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