Espaços culturais de JF estão à disposição do município

Servidores da Funalfa também podem ser chamados a outros setores públicos da cidade, que possam precisar diante do cenário de crise


Por Mauro Morais

31/03/2020 às 07h00- Atualizada 31/03/2020 às 07h35

“É certo que neste momento a cultura agoniza. Mas mais certo ainda é que ela não morre”. A afirmação é do diretor geral da Funalfa, Zezinho Mancini, reconhecendo o grande impacto para o setor cultural da chegada e disseminação da Covid-19 no Brasil. Publicada nesta segunda (30), uma nota técnica produzida pela Confederação Nacional de Municípios orienta gestores culturais no combate ao novo coronavírus e admite o delicado momento pelo qual enfrenta todo o setor. Diretrizes como o fechamento dos espaços culturais públicos e cancelamentos das atividades já haviam sido tomadas pela Funalfa, fundação que responde pelas ações municipais de cultura em Juiz de Fora.

“Caso seja possível, o órgão gestor municipal de cultura pode promover o acesso on-line ao acervo desses equipamentos culturais, bem como organizar atividades artístico-culturais”, indica o documento assinado pela analista técnica Ana Clarissa Fernandes a respeito de outro gesto também já adotado pela Funalfa ao propor um tour-virtual pelo Museu Ferroviário e o uso da tag #ViralizaCultura para ações on-line. Estreitar a relação com o mundo virtual, no entanto, ainda é um desafio mais complexo que Mancini reconhece propício para o momento. “O setor da cultura brasileiro se adaptou muito pouco à internet e a todos os benefícios vindos da tecnologia. De maneira geral, consumimos arte estrangeira (ou viabilizada por empresas estrangeiras) e, enquanto artistas, nos limitamos a ter redes sociais mais ou menos atualizadas. Há um mercado com potencial enorme a ser explorado por todos os nichos artísticos. Esta é a grande oportunidade que temos para nos dedicarmos a desbravar este território. Familiar, mas ao mesmo tempo desconhecido”, pontua o gestor.

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Teatro Paschoal Carlos Magno, o maior teatro da Prefeitura, pode ser utilizado em caso de necessidade. (Foto: Marcelo Ribeiro/ Arquivo TM)

Espaços e servidores à disposição

A nota técnica que defende a inclusão das pastas de cultura nos gabinetes municipais de crise aponta, ainda, a possibilidade de disponibilização de espaços e servidores da cultura para setores públicos que necessitem de locais e equipe em suas novas configurações. De acordo com Zezinho Mancini, em Juiz de Fora tanto servidores quanto espaços estão a disposição do município. “Até agora não surgiram demandas pelos nossos espaços, mas servidores específicos foram convocados para trabalhar em outras secretarias. Houve, inclusive, o caso de uma servidora que já no primeiro dia pediu para ser transferida momentaneamente para a SDS, que realiza um importante trabalho com a população de rua. Obviamente, foi liberada. Ela tem ajudado a equipe de abordagem a servir o almoço destas pessoas”, conta o diretor geral da Funalfa.

“Até agora não surgiram demandas pelos nossos espaços, mas servidores específicos foram convocados para trabalhar em outras secretarias”

Com a equipe em teletrabalho, segundo Mancini, “há quem estude legislações próprias da cultura, quem busque referências em outras secretarias e fundações, quem aproveite para sistematizar o atendimento da Funalfa. Nossa ideia é aproveitar a ‘pausa’ para deixar a casa em ordem, conseguindo atender melhor às demandas que surgirão ao final desse período”. Ainda, a fundação trabalha para colocar em prática propostas como a de um questionário de indicadores culturais, do portal da Funalfa, de fóruns virtuais com a classe artística e de um incremento nas iniciativas virtuais dos espaços. “Temos uma equipe muito criativa e que tem sabido aproveitar bem a oportunidade de passar mais tempo na frente do computador. Estamos ligados às boas práticas e conseguindo executar com agilidade, sem burocracia, o que consideramos ser primordial na primeira fase desta crise”, elogia o gestor.

‘Estamos ilhados’, diz diretor da Funalfa

Quando a tempestade passar, será tempo de reerguer o que existia ou erguer o que nunca nem chegou a existir? Será momento de reinventar ou resgatar velhas práticas? De acordo com a nota técnica da Confederação Nacional de Municípios, é importante que cada cidade brasileira crie seus próprios planejamentos a curto, médio e longo prazo. “Longo prazo, não (temos)”, admite Zezinho Mancini, para em seguida explicar: “Infelizmente, apesar de todo o esforço, temos sérias restrições que limitam alcance e abrangência das nossas ações. O nosso pacto federativo deixa retida a maior parte do recurso público na União e nos Estados e enormes responsabilidades sobre os ombros do município, que é onde estão as maiores necessidades, por ser onde vivem as pessoas.”

“A Secretaria Especial de Cultura não apresentou até o momento nada que fizesse diferença para os artistas e produtores dos municípios médios como o nosso, e o Secretário de Cultura do Estado pediu afastamento do cargo na semana passada. Estamos ilhados e precisamos cuidar imediatamente do presente”

Num momento que exige ações conjuntas e articuladas, país e Estado enfrentam descompassos nos setores culturais. Enquanto na esfera federal a gestora é uma recém-chegada – a atriz Regina Duarte -, no âmbito estadual o gestor sequer existe. “A Secretaria Especial de Cultura não apresentou até o momento nada que fizesse diferença para os artistas e produtores dos municípios médios como o nosso, e o Secretário de Cultura do Estado pediu afastamento do cargo na semana passada. Estamos ilhados e precisamos cuidar imediatamente do presente. Há ainda a peculiaridade da instabilidade gerada pelo vírus. A cada dia, precisamos nos atualizar sobre suas implicações em escala global, nacional, estadual e local. Isso dificulta a enxergar um horizonte distante, pois tudo muda a todo momento. Não há, por exemplo, em lugar algum, uma previsão realista de quando voltaremos a sair de casa, ir ao cinema, ao teatro, às casas de show”, aponta Mancini, afirmando estar conectado com outras realidades, de outras cidades do país. “Essa troca tem sido fundamental para enxergar que estamos todos em condições muito semelhantes. Não acredito que este seja um momento de busca por protagonismo nem ações heroicas.”

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Tópicos: coronavírus

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