Exposição nos Correios reflete a potência das subjetividades

Mostra é produzida por espaço de arte contemporânea de Rio das Ostras


Por Mauro Morais

08/08/2018 às 07h00- Atualizada 30/08/2018 às 16h32

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Detalhe de “Azul”, de Selma Jacob (Foto: Divulgação)

Ainda que a vivência da contemporaneidade seja uma experiência universal, a expressão que dela nasce e sobre ela é feita, gera dissonâncias. Nada é o mesmo no hoje, dizem os trabalhos que ocupam, a partir deste sábado, 11, a galeria do Espaço Cultural Correios em Juiz de Fora. Distintas entre si, e por isso reunidas, as obras de dez artistas de origens e processos quase antagônicos dissertam sobre os vãos nos quais produzimos o pensamento do mundo.

Sem título, a agigantada tela de mais de um metro de comprimento pintada em tinta acrílica por Silvia Neves faz referências ao excessos do agora. “Esse meu trabalho para a exposição trata dos acúmulos. É em grande formato e reúne cores e elementos em profusão. Estou falando dos excessos na contemporaneidade. Proponho uma sensação de opressão diante dele, por conta desse exagero”, pontua a artista. Em contraposição está a síntese de Bet Katona. “Ela trabalha com a economia, de espaços, elementos e cores”, pontua Silvia.

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Detalhe de “Autorretratos de uma artista contemporânea”, de Fava da Silva (Foto: Divulgação)

E não se trata do exercício superficial das antíteses. “Intersubjetividades”, a exposição que permanece em cartaz na cidade até 25 de setembro, faz-se como uma reflexão sobre a harmonia. “O recorte dessa exposição parte de um texto do Jacques Derrida (filósofo franco-argelino), ‘Do espírito’. Ele vai numa linha daquilo que absorvemos, mas que não absorvemos objetivamente”, enuncia Silvia, para em seguida completar: “A curadoria não quis, por exemplo, uma exposição que limitasse a criação e cada artista, mas unir obras que tivessem dissonâncias entre si.”

Para o curador Áureo Guilherme Mendonça, professor de teoria e crítica da arte na Universidade Federal Fluminense (UFF), a investigação da mostra se faz nos caminhos da arte que levam ao impensado. “A intersubjetividade se constrói também no transdisciplinar, no contra-senso; temos que exercitar nosso olhar para saber captar as partículas invisíveis em que estamos mergulhados. A arte pode ser esse instrumento para decodificar o mundo à nossa volta. Para refletirmos, repito, sobre o impensado. Estamos vivendo um grande momento kairós e a arte pode se transformar na placa que aponta para a direção correta na hora de escolhermos nosso caminho. Afinal, o intersubjetivo em nós é o que nos dá aderência à esse mundo, o que abre nossas caixas secretas e nos liga de forma espontânea com o outro”, destaca Mendonça em texto de apresentação da exposição.

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Obra “Descanso do pincel”, de Reitchel Komch (Foto: Divulgação)

Intercâmbio Rio das Ostras – Juiz de Fora

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Acrílica sobre tela sem título, de Sílvia Neves (Foto: Divulgação)

Realizada pelo Ateliê Casa 404, primeira galeria de arte contemporânea não-institucional de Rio das Ostras, a exposição reúne referenciais de uma cidade que se abre, pouco a pouco, para o fazer do presente. Desdobramento de um programa que convida artistas cariocas para exporem na cidade da Baixada litorânea fluminense, “Intersubjetividades” chega a Juiz de Fora após passar por Niterói. “Nossa proposta é fazer a interiorização da arte contemporânea. O Ateliê realiza, em parceria com o curso de produção cultural da UFF, uma seleção de artistas para participarem das exposições que produzimos”, explica Silvia Neves, artista e coordenadora da Casa 404. “Fora do eixo institucional é o Ateliê que mais tem movimentado a cena contemporânea. Existe um número grande de artistas na cidade, e a cena está se aquecendo”, comenta ela.

“Temos uma visão de que a produção de arte contemporânea fica muito restrita aos grandes centros e nós temos a proposta de levar para os interiores a produção do centro, fomentando um diálogo e formando uma rede. É importante que os artistas do interior se vejam motivados a produzir. Propomos a dinamização do cenário contemporâneo”, discute Silvia, acentuando as dissonâncias presentes entre o interior vivenciado por sua Rio das Ostras e o interior de Juiz de Fora. “O perfil de Juiz de Fora é muito diferente do de Rio das Ostras. Já tem um dinamismo muito maior que o daqui, que tem 140 mil habitantes. Para nós, essa exposição confere uma visibilidade muito maior, com um público que baliza as escolhas de mercado e de cena. Aí é muito mais plural do que aqui. Para nós será um bom termômetro do trabalho que fazemos.”

INTERSUBJETIVIDADES
Abertura neste sábado, 11, às 15h. Visitação de segunda a sexta, das 10h às 17h30, no Espaço Cultural Correios de Juiz de Fora (Rua Marechal Deodoro 470 – Centro). Até 25 de setembro.

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Tópicos: arte

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