Troca da AstraZeneca pela Pfizer ainda não é cogitada em Juiz de Fora

Especialista diz que estudos aprovam a intercambialidade, mas acredita que demora na cidade ainda não prejudicaria a eficácia final da imunização


Por Carolina Leonel

29/09/2021 às 08h06- Atualizada 29/09/2021 às 08h10

Diante das sucessivas faltas de doses de AstraZeneca em Juiz de Fora, como nesta terça (28), dia em que a imunização precisou ser paralisada ao longo do dia, a Tribuna voltou a questionar a Secretaria de Saúde se a pasta cogita usar o imunizante da Pfizer para a segunda aplicação da AstraZeneca na população que está com dose em atraso – o que já acontece em alguns municípios do país. A pasta municipal não retornou o questionamento nesta terça. Entretanto, no último dia 16, em nota encaminhada à Tribuna, a secretaria informou que o Município, até então, não havia recebido “nenhuma orientação por parte do Ministério da Saúde, nem do Governo do Estado, em relação a aplicação do imunizante Pfizer como segunda dose da AstraZeneca. Ambos indicam a intercambialidade apenas em situações especiais, como evento adverso”, citou no texto.

Em nota encaminhada à Tribuna, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) esclareceu, nesta terça, que segue as diretrizes do Ministério da Saúde para a operacionalização da vacinação contra a Covid-19, e que, de maneira geral, não se recomenda a intercambialidade de vacinas para a Covid. No entanto, citou exceções. “Quando não for possível administrar a segunda dose da vacina com o mesmo fabricante da primeira, seja por contraindicações específicas ou por ausência daquele imunizante no país (exemplo, indivíduos que receberam a primeira dose de uma vacina Covid-19 em outro país e que estarão no Brasil no momento de receber a segunda dose), poderá ser aplicado imunizante de outro laboratório. A segunda dose deverá ser administrada no intervalo previamente aprazado, respeitando-se o período adotado para o imunizante utilizado na primeira dose”, informou. A SES ainda informou que os indivíduos que receberem vacina no esquema de intercambialidade deverão ser orientados a respeito das limitações referentes aos dados existentes e do perfil de risco-benefício.

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Apesar de o Governo de Minas Gerais não ter orientado a vacinação da segunda doses da AstraZeneca com a Pfizer, no caso específico de falta de doses daquele imunizante, a intercambialidade já é verificada no estado. Desde o último sábado, o município de Montes Claros, no Norte de Minas, tem ofertado à população a opção facultativa de imunização com a Pfizer “enquanto houver a falta de vacinas para segunda dose do imunizante da AstraZeneca”, afirmou em nota divulgada em canais oficiais de comunicação. A Prefeitura daquela cidade também informou que, para a decisão, seguiu orientação técnica da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros. A intercambialidade das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca também foi adotada pelo Governo de São Paulo no início deste mês, diante da falta deste imunizante.

Especialistas apontam intercambialidade em situações graves

Coordenador do Departamento de Imunoterapia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, o médico alergista e imunologista Fernando Aarestrup afirma que há estudos robustos em relação ao aumento da proteção vacinal com a segunda dose da Pfizer. “Hoje nós temos estudos feitos na Europa e também nos Estados Unidos mostrando que a segunda dose da Pfizer, associada à primeira da AstraZeneca, tem uma proteção espetacular, inclusive superior às duas doses da AstraZeneca ou às duas doses da Pfizer.” Para o especialista, além de ser uma situação viável, deveria ser, inclusive, uma estratégia de saúde para aumentar ainda mais a proteção das pessoas.

Entretanto, o atraso verificado atualmente em Juiz de Fora para a aplicação da segunda dose da AstraZeneca – cerca de uma semana – é considerado aceitável pelo médico. “Acredito que a gente tenha de fazer a intercambialidade em situações específicas, caso demore muito tempo (para a situação ser regularizada). Mas o intervalo de uma ou duas semanas de atraso é aceitável.”

O pediatra e infectologista Mário Novaes também tranquiliza a população em relação ao atraso para o recebimento da segunda dose. Apesar de não ser ideal, a demora em algumas semanas, na opinião dele, não prejudica a eficácia final da imunização. “O intercâmbio entre doses deve ser feito somente diante de uma falta grave ou situação grave. Nós não estamos vivendo, atualmente, uma situação de altíssima demanda. Então, esse atraso de uma semana ainda é aceitável. A pessoa não vai perder a primeira dose por isso. Assim que ela receber a segunda dose do mesmo imunizante, a imunidade volta a subir novamente.” Conforme o médico, a falta deste imunizantes tem sido verificada inclusive em outros países. “Isso porque o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) está em falta no mundo. (Mas) Isso deve ser normalizado em curto tempo.”

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Tópicos: coronavírus / vacina

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