Polícia Civil alerta para golpe de clonagem do WhatsApp

Só na Zona Sul e Cidade Alta, são em média dois casos por dia; saiba como realizar procedimento simples de segurança no aplicativo


Por Sandra Zanella

29/04/2019 às 19h14- Atualizada 30/04/2019 às 15h03

Segundo delegado Eurico da Cunha Neto, os criminosos obtêm dados da vítima, por meio de uma conta de telefone interceptada ou de um anúncio, por exemplo, adquirem um novo chip e conseguem usar o WhatsApp com o mesmo número e perfil (Foto: Olavo Prazeres)

A Polícia Civil alerta para um golpe de clonagem do aplicativo WhatsApp que tem sido praticado em Juiz de Fora e em todo o país. Só na Zona Sul e Cidade Alta, são em média duas ocorrências por dia, mas o número pode ser muito maior, levando-se em conta as outras regiões da cidade e as subnotificações de casos. De acordo com o titular da 1ª e 2ª Delegacias, Eurico da Cunha Neto, os criminosos obtêm dados da vítima, por meio de uma conta de telefone interceptada ou de um anúncio, por exemplo, adquirem um novo chip e conseguem usar o WhatsApp com o mesmo número e perfil. Com isso, ele se passa pela pessoa, conversa com os contatos dela e pede algum tipo de ajuda financeira, alegando precisar fazer um depósito ou outra transação bancária. Quando o aplicativo é instalado em outro aparelho, o usuário original não consegue mais acessar o programa. No entanto, até ele descobrir que aquele problema aparentemente técnico se trata de um golpe, pode ser tarde demais. Além disso, como a maioria possui uma vasta agenda, não é tão simples assim avisar a todos.

Segundo delegado Eurico da Cunha Neto, os criminosos obtêm dados da vítima, por meio de uma conta de telefone interceptada ou de um anúncio, por exemplo, adquirem um novo chip e conseguem usar o WhatsApp com o mesmo número e perfil (Foto:Para evitar a fraude, o delegado orienta os usuários a realizarem um procedimento simples de segurança no próprio aplicativo. Nos celulares IOS, basta colocar na tela do WhatsApp, clicar em “ajustes”, “conta” e “verificação em duas etapas”. Já no sistema Android, deve-se entrar nas “configurações”, clicando nos três pontinhos que aparecem no canto direito da tela, seguindo também para “conta” e “verificação em duas etapas”. A partir deste ponto, nos dois modelos, o programa vai pedir a criação de uma senha ou “PIN” com seis dígitos, e também um e-mail, que servirá para recuperar esses números, em caso de esquecimento. “Existe uma forma muito fácil de se prevenir desse golpe. É uma segurança do próprio aplicativo. Quando você troca de celular, ele vai te pedir essa senha, e o bandido não vai tê-la”, destaca o titular da 1ª e 2ª Delegacias, responsável por investigar crimes de 82 bairros.

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“Esses golpes que envolvem a clonagem de números de celulares e, principalmente, de WhatsApp apareceram há alguns meses e vêm se intensificando. Em alguns deles conseguem clonar o número e o WhatsApp, em outros, apenas o aplicativo. Não posso determinar se existe má-fé de alguém das operadoras ou se elas são vítimas também. O fato é que os criminosos pegam seus dados, principalmente nome, CPF e número, e vão até uma agência de operadora pedindo para habilitar um novo chip. Com isso, eles têm acesso não só ao seu WhatsApp, mas à toda sua lista de contatos e às últimas conversas. A partir daí, seu programa para de funcionar”, explica Eurico.

Segundo ele, os golpistas verificam quem são as pessoas mais próximas e íntimas das vítimas para terem mais chances de o plano dar certo. “Eles olham com quem você mais está conversando e tem contato, como pai e mãe. Se passam por você e pedem dinheiro. Como o WhatsApp é ‘seu’, a chance de desconfiarem é menor. Quando você descobre que seu aplicativo não está funcionando e se dá conta do que está acontecendo, tem uma dificuldade muito grande de avisar a todos, porque você também não tem mais seu WhatsApp. Se seu número estiver clonado, pior ainda, porque não consegue ligar para as pessoas. Mesmo que possa ligar, quantos contatos você tem?”, dimensiona o delegado.

Eurico avalia que a prevenção é o mais importante, já que os crimes de estelionato são de “difícil e lenta apuração”.

“Normalmente, essas contas são de outros estados, e os criminosos usam dados falsos. As pessoas precisam tomar cuidado para não caírem em golpe e terem prejuízo, porque, depois disso, a recuperação financeira, principalmente, é muito difícil, assim como a identificação do golpista. Os crimes de internet são mais complicados porque a pessoa pode agir de qualquer lugar. Tentamos investigar, mas, normalmente, é um beco sem saída.”

O delegado acrescenta que as operadoras também podem ser responsabilizadas, já que poucas seriam as exigências na hora de solicitar um novo chip. “Existe realmente uma falha. Ainda que esse desvio tenha acontecido nos Correios, por exemplo, quando pegam uma conta de telefone com os dados da vítima, teriam que ver se de fato quem está solicitando o chip é mesmo a pessoa.”

Mulher é vítima do golpe após postar telefone em anúncio

A esteticista Gláucia Soares Pereira, de 47 anos, não chegou a ter prejuízo financeiro, mas, desde que foi vítima do golpe, na última quinta-feira, teme que algum de seus contatos não tão próximos possa ter caído no estelionato. Ela acredita que teve seu WhatsApp clonado após postar seu número de celular em um anúncio de venda feito por ela em um site.

Antes de perder o acesso ao aplicativo, a mulher chegou a receber uma mensagem do golpista, com a logomarca da empresa de comércio eletrônico como perfil. No texto, o estelionatário se passava por funcionário da página de anúncios e dizia estar entrando em contato para ajudar na verificação de conta, alegando terem sido detectadas suspeitas de duplicidade na plataforma. Em seguida, o criminoso orientou Gláucia a repassar para ele o número que ela receberia por SMS. “Eu ainda estava conversando com ele no WhatsApp quando a mensagem chegou. Dormi preocupada aquela noite, porque só depois a ficha caiu de que aquilo era estranho. Quando eu acordei, meu aplicativo já não funcionava mais. Eu tentava fazer a atualização, mas o programa sempre pedia mais tempo para tentar novamente. De duas, chegou a 12 horas o período de espera.”

O número repassado por ela possivelmente seria a autorização para habilitar o WhatsApp em outro aparelho. Mas a esteticista só teve certeza de ter caído em um golpe após ligar para sua filha. “Eu disse que meu WhatsApp não estava mais funcionando, e ela falou: ‘Mas mãe, você está conversando comigo agora’. Desci correndo, porque ela mora embaixo da minha casa, e vi meu perfil com minha foto. Fiquei assustada.” Depois de avisar aos mais íntimos sobre a fraude, a mulher procurou a Polícia Militar no São Mateus para registrar boletim de ocorrência, buscou a cópia do documento na delegacia e ainda teve que ir em uma loja da operadora para explicar o problema e pedir para reabilitar o aplicativo em seu celular, com o consequente cancelamento do programa na plataforma do golpista.

Enquanto avisava aos amigos e colegas de trabalho, a vítima recebeu alguns textos que já haviam sido enviados de forma criminosa a eles, na tentativa de obter lucro financeiro. Em uma das conversas, o golpista dizia: “Você tem aplicativo do banco no celular, está funcionando normal aí? Estou tentando acessar meu app aqui e não estou conseguindo.” Pelo menos duas tentativas continham o mesmo teor. Em uma terceira, o estelionatário mudou um pouco o texto sobre o tema: “Eu só tive um problema aqui no banco, minha conta bloqueou desde ontem, vai liberar só amanhã, preciso até fazer alguns pagamentos aqui, vou até te pedir um favor, você consegue fazer pra mim, amanhã te devolvo sem falta, os valores mais o da farmácia, aí te passo a conta do favorecido para transferir, pode ser?”

O conteúdo continua após o anúncio
Uma das vítimas que teve o WhatsApp clonado recebeu mensagens do estelionatário que se passava por funcionário de uma página de anúncios e dizia estar entrando em contato para ajudar na verificação da conta
A vítima também detectou que alguns textos já haviam sido enviados de forma criminosa para pessoas da sua lista. Nestas mensagens, o golpista tentava obter lucros financeiros (ver mensagens acima à esquerda)

A vítima acredita ter errado ao postar seu número de telefone no anúncio, pois depois observou que a maioria dos anunciantes conversava com os interessados apenas pelo aplicativo de mensagem da própria página. Apesar de já ter enfrentado muitos transtornos em um curto intervalo de tempo, a esteticista ainda não descarta sofrer prejuízos futuros. “Trabalho com estética há 25 anos, e tenho clientes há 25 anos.”

A OLX, usada pela esteticista para publicar o anúncio, esclareceu que a atividade da empresa consiste na disponibilização de espaço para que usuários possam anunciar e encontrar produtos e serviços de forma rápida e simples. “A OLX reforça que está sempre à disposição das autoridades para colaborar no que for necessário para a apuração dos fatos. O objetivo da empresa é que os usuários tenham a melhor experiência possível e, por isso, envia mensagens informativas esclarecendo que a solicitação de códigos de confirmação/códigos de segurança, dados cadastrais e pessoais não é uma prática adotada pela OLX em nenhuma situação. Esta informação também está disponível nas páginas de ajuda do site, além de outras dicas para o momento da negociação.”

Entre as recomendações está nunca compartilhar os códigos de validação e segurança que chegam em seu celular, além de verificar a origem de um link e se o mesmo é confiável antes de clicar. A OLX informa não ser necessária validação com código de segurança para utilização do chat da plataforma. A empresa nunca pedirá informações que permitam acesso à sua conta via chat, telefone, SMS, WhatsApp e redes sociais. Mais informações estão disponíveis no link http://go.olxbr.com/dicas-vender-olx . “Vale lembrar que a OLX  também disponibiliza um botão de denúncia em todos os seus anúncios e contatos no chat, possibilitando que qualquer pessoa denuncie eventuais práticas irregulares ou conteúdos indevidos”, finalizou a empresa em nota.

Tópicos: polícia

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