Cobertura vacinal da tríplice viral em JF atinge menor taxa em dez anos

Baixa adesão à vacina, que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, aumenta risco de surtos das doenças e de sobrecarga do sistema de saúde


Por Elisabetta Mazocoli, estagiária sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

25/01/2022 às 07h00- Atualizada 25/01/2022 às 07h27

A cobertura da vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, chegou ao seu menor índice nos últimos dez anos em Juiz de Fora. O percentual de vacinação com as duas doses do imunizante em 2021 foi de 32,38%, com apenas 5.746 doses aplicadas. A adesão a essa vacina, que consta no Calendário Nacional de Imunização, vem caindo desde 2019 (ver arte), situação que preocupa autoridades da área da saúde, já que com menos crianças imunizadas, aumenta a possibilidade de surtos das doenças, em um momento em que o sistema de saúde já está sobrecarregado por conta da pandemia de Covid-19 e dos casos de gripe causados pela H3N2.

Conforme dados do DataSUS, em 2019, a cobertura vacinal com as duas doses da tríplice viral foi de 63,44% do público alvo. Em 2020, entretanto, o percentual caiu para 51,95%, diminuindo ainda mais em 2021. Neste ano, a taxa de imunização com a primeira dose foi de 40,43%, enquanto a segunda dose só foi aplicada em 24,33% deste público, fazendo com que a vacinação atingisse o mai baixo nívei nos últimos anos: 32,38%.

PUBLICIDADE
O percentual de vacinação com as duas doses do imunizante em 2021 foi de 32,38%, com apenas 5.746 doses aplicadas (Foto: Fernando Priamo)

Segundo a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), os baixos índices podem estar relacionados a motivações pessoais dos pais e responsáveis e a campanhas anti-vacinação, assim como vem acontecendo com a vacina infantil contra a Covid-19. No caso da tríplice viral, a pasta pontua que o sucesso dos próprios imunizantes também pode contribuir para que a população não vacine as crianças, já que, de acordo com o órgão, o resultado positivo fez com que “algumas doenças se tornassem desconhecidas para maior parte da população”.

Além disso, a secretaria explica que pode estar acontecendo uma subnotificação das doses aplicadas, “uma vez que com a chegada da vacina contra a Covid-19, o volume de vacinação nas UBSs aumentou muito, não havendo profissionais suficientes para fazer todo o atendimento e ainda subir os dados para o sistema nominal do SUS”. Outro fator importante a ser considerado é que durante a pandemia “muitas pessoas tiveram medo de levar seus filhos a postos de saúde e ficarem esperando nas filas com risco de contaminação”, conforme a pasta.

Ainda de acordo com a nota divulgada pela Secretaria de Saúde, as unidades de saúde, as equipes de agentes comunitários em saúde e da saúde em família já estão realizando campanhas em bairros para lembrar a população sobre a importância de manter a vacinação em dia. A pasta também afirma que “as coberturas vacinais para todas as vacinas vêm caindo desde 2015 nacionalmente, ficando abaixo do preconizado”, mas, mesmo assim, destaca que “o Brasil ainda está acima da média mundial quando o assunto é vacinação”.

Sarampo: altamente transmissível e sequelas graves

Independente dos motivos, a baixa adesão à vacinação representa riscos graves a toda a população. É o que explica o infectologista Mário Novaes: “toda vez que ocorre uma baixa taxa de vacinação, você facilita que a doença se propague. Em um ambiente que já tem Covid-19 e influenza, a volta de doenças da tríplice viral pode ser ainda mais preocupante”. Além dos riscos para a saúde dos indivíduos que se infectaram, um dos principais problemas nesse momento, de acordo com o especialista, seria justamente a lotação do sistema de saúde, já sobrecarregado com a alta demanda decorrente da pandemia.

Em 2016, o sarampo foi erradicado do Brasil, levando o país a ganhar um certificado da OMS com parabenização pelo feito. Dois anos depois, no entanto, o país perdeu a certificação devido a novos surtos da doença. Em 2019, foram 20.901 casos confirmados no país, número que caiu para 8.448 em 2020, mas que voltou a crescer em 2021. Somente até abril de 2021, de acordo com boletim epidemiológico da Fiocruz, foram 9.235 casos confirmados.

Em âmbito nacional, em 2020, 22 milhões de pessoas perderam a primeira dose da vacina, com três milhões de brasileiros a menos recebendo a dose do que em 2019. Para especialistas, o problema, que também abrange a vacinação contra a Covid-19, por exemplo, pode ocasionar o surgimento de doenças mais graves. “Estamos passando por um período de hesitação vacinal, um grande e crescente problema no Brasil. Talvez até por influência externa de outros países”, pontua a imunologista Júnia Cotta. Mário Novaes completa que “ainda que os vírus que são cobertos por essa vacina sejam estáveis e não tenham tanta chance de gerar variantes, várias doenças podem surgir e aumentar os níveis devido às sequelas que ocorrem.”

Apesar de ser uma entre as doenças que as vacinas tríplice e tetra viral protegem, o sarampo é mais preocupante por ser altamente transmissível e não ter tratamento – além de gerar consequências mais graves em crianças. Júnia Cotta explica que a doença pode causar pneumonia grave em crianças pequenas e complicações secundárias, que atingem especialmente imunossuprimidos e crianças com má nutrição. De acordo com ela, esses grupos também têm maior chance de internação.

O conteúdo continua após o anúncio

Locais de vacinação

A Secretaria de Saúde afirma que a população pode se vacinar contra o sarampo, a caxumba e a rubéola em qualquer uma das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município, com exceção daquelas que realizam a vacinação contra Covid-19. A vacina está disponível em duas doses para crianças, na faixa etária de 12 meses até 6 anos, e para os adultos de até 59 anos que não tenham comprovação da vacinação.

Tópicos: vacina

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.