Lavatórios instalados em bairros de JF conscientizam população sobre higiene

Pias comunitárias chamam a atenção para a importância da limpeza das mãos


Por Renan Ribeiro

19/07/2020 às 07h00

Enquanto o mundo todo aguarda o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a Covid-19 e tratamentos que ajudem a reduzir os efeitos mais graves da doença, as principais orientações das autoridades de saúde para a prevenção ao contágio são o reforço da higiene das mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social. Entre as iniciativas que reforçam a importância dessas ações e incentivam que as pessoas adotem esses hábitos em Juiz de Fora, a instalação de dois lavatórios para as mãos nos bairros Dom Bosco e Parque Burnier se destaca, em uma campanha nomeada por um ditado que resume muito bem o ato: Uma Mão Lava a Outra (#umamaolavaaoutra).

O projeto é da organização global Habitat para a Humanidade Brasil, que trabalha com a promoção da moradia como um direito humano fundamental. No período da pandemia, entretanto, a entidade lançou ações com foco na prevenção do coronavírus, com soluções voltadas para locais em que há algum tipo de vulnerabilidade. A iniciativa de impacto social ATOS Colaborativos de Juiz de Fora entrou na seleção proposta pela organização nacional e foi contemplada com recursos para instalar dois lavatórios na cidade.

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Localizados no Dom Bosco e no Parque Burnier, equipamentos colaboram para a prevenção ao coronavírus (Foto: Fernando Priamo)

De acordo com a coordenadora da ATOS Colaborativos, Ana Paula Luz, a partir daquele momento, começou a busca por parcerias com outras organizações que já possuem um diálogo com a população. A ideia era a de que os próprios moradores indicassem qual solução seria mais viável para a localidade em que vivem. “Precisávamos saber qual seria a localização mais adequada, de modo que os próprios moradores pudessem fazer o uso e cuidar melhor do equipamento, além da montagem e instalação.” Em cada uma das localidades, a ATOS Colaborativos teve o apoio de projetos já existentes na região. Eles ajudaram a chegar em qual seria o melhor ponto para a instalação, de acordo com as necessidades específicas de cada localidade.

‘Escolha estratégica’

No Bairro Parque Burnier, na Zona Sudeste, a X-Lab Juiz de Fora colaborou com a execução do serviço. A pia comunitária foi instalada em um espaço em que há encontros e, geralmente, a formação de aglomerações. Já no Bairro Dom Bosco, na Cidade Alta, a instituição foi auxiliada pelo Grupo Dom e pelo Projeto Armagen. Neste local, o lavatório foi instalado no ponto final do transporte coletivo, onde as pessoas podem descer e higienizar as mãos antes de acessar o bairro.

“A escolha dos locais é estratégica. Os lavatórios ficam em locais com grande fluxo de pessoas. No Dom Bosco, como sabemos que o transporte público tem alto potencial de incidência de contaminação, a ideia é que a higiene minimize os riscos na chegada. No Parque Burnier o uso é diferente, muitas crianças passam pelo local, por exemplo, então, há um outro tipo de relação”, explica Ana Paula.
Na divisão das tarefas, a organização ficou responsável pela logística, pelo gerenciamento da obra, orçamento, cronograma, compra dos materiais e definição da mão de obra. As parceiras colaboraram com a execução do serviço.

Manutenção

A interlocução com os moradores foi fundamental, conforme Ana Paula, porque eles farão a manutenção do equipamento, tanto na reposição do sabonete, quanto dos 240 litros de água que o reservatório comporta.

Em um primeiro momento, o morador responsável em cada ponto receberá um auxílio financeiro para arcar com o custo da água e do sabão. Mas há a intenção de fazer a mediação com a Prefeitura, para que ela forneça o recurso hídrico. Por meio de uma avaliação, feita nos dois locais, foi levantado que o volume de água do recipiente precisa ser reposto uma vez por semana. Para facilitar o processo, o projeto também disponibilizou mangueiras para os responsáveis.

Esforço de conscientização

Ao lado dos reservatórios consta uma placa com orientações sobre a forma correta de lavar as mãos. Durante a instalação, a ATOS Colaborativos também atuou na conscientização da comunidade, de acordo com Ana Paula Luz, principalmente conversando com as crianças, para que elas atuem como multiplicadoras das informações. A expectativa, segundo ela, é dar visibilidade ao hábito de higiene.
Para Ana Paula, o equipamento, por si só, gera curiosidade e atrai a atenção, o que pode ajudar a despertar o interesse pela informação e para o ato de lavar as mãos. “A expectativa é a de que as pessoas consolidem essa consciência sobre a importância de manter as mãos limpas para evitar a contaminação pelo coronavírus e por outras contaminações que também possam surgir. ”

Além disso, o vínculo entre o lavatório e a população é importante, porque está relacionada à ideia de pertencimento. “O sentimento de pertencimento é essencial para os trabalhos que fazemos na ATOS Colaborativos. Não adianta fazermos algo que seja do nosso interesse, e a população não se sentir parte daquilo. Além disso, esse sentimento é essencial, porque os moradores vão fazer a manutenção do equipamento.”

A avaliação e o acompanhamento do uso também estão previstos, para que seja possível fazer adequações, caso surja oportunidade de levar a instalação para outros pontos da cidade.

Arte

Outra ideia que surgiu, durante a execução, sugerida pelo Projeto Amargen, foi de trazer a arte para ação. No Dom Bosco, a artista Clarisse Hermont foi convidada a graffitar o reservatório da pia comunitária. “Foi escolhida uma imagem que faz referência ao movimento Vidas Negras Importam, o que causa muita identificação nas pessoas”, pontua Ana Paula. No Bairro Parque Burnier, o convidado foi o artista Igor Tenxu. “Ele trabalhou com uma ideia de aquário, já que lá temos muitas crianças. Realmente virou um atrativo e potencializou o objetivo do equipamento, criando interesse e dando uma visibilidade maior”, diz a coordenadora.

Foto: Fernando Priamo

Trailer para pessoas em situação de rua

Outra iniciativa que se destaca pela preocupação com a higiene de pessoas em situação de vulnerabilidade é o Trailer do Banho Solidário Vicentino, uma ação da Sociedade São Vicente de Paulo. Desde o dia 24 de junho, a unidade móvel estaciona em pontos da cidade e oferece às pessoas em situação de rua a oportunidade de tomar banho, higienizar as mãos, pegar uma roupa limpa e se alimentar. A ideia para a iniciativa nasceu durante a execução do trabalho voluntário que leva alimentação em ronda noturna para a população em situação de rua.

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“Numa certa noite fomos interpelados por uma peregrina chamada Carla, que disse que não queria comida naquele dia. Ela estava menstruada, suja, e tomava banho no cemitério, em torneirinhas que foram lacradas, ou em um supermercado”, conta o coordenador do projeto, Vanderson Magalhães. Os voluntários trabalharam com aquele questionamento na cabeça e passaram 11 meses pensando em como poderiam atender a essa necessidade. Foram feitos estudos que levavam em conta a quantidade de água gasta em um banho, o tempo médio de duração e outras questões. Era necessário ter um sistema de transporte adequado e, assim, surgiu a ideia do trailer.

Vanderson conta que a ideia inicial, de dois banheiros na estrutura, precisou passar por adequações. “Temos três, por conta da Lei de Acessibilidade, porque temos pessoas cadeirantes em situação de rua. Os banheiros têm água quente, aquecida por gás, gerador para as luzes e também disponibilizamos kits com bucha, toalha, xampu.” Segundo ele, o projeto tem alvará para estacionar em oito pontos da cidade. Os testes foram realizados e tiveram sucesso. Ao todo, são cerca de 30 banhos até agora.

Como boa parte das pessoas que trabalham nesse projeto estão na terceira idade e, portanto, fazem parte do grupo de risco, jovens voluntários são bem vindos para colaborar. A Sociedade recebe doações de todo tipo de material de higiene e limpeza, alimentos e insumos como gasolina e gás para o funcionamento do trailer, cobertores e roupas em bom estado. A iniciativa também recebe roupas íntimas, mas pede que esses artigos, se possível, sejam novos.

Os interessados em colaborar podem entrar em contato por meio do telefone (32) 3212-2453. As doações também podem ser feitas no Conselho Central, que fica na Avenida Brasil 2500, Bairro Vitorino Braga. Os plantões de doação funcionam às segundas, quartas e sextas-feiras, de 15h às 17h. Lá eles também têm um varal solidário, em que as pessoas em vulnerabilidade podem pegar roupas, papel higiênico, água, álcool, entre outros materiais.

A organização também recebe doações em dinheiro, por meio da conta corrente do Conselho Central Santo Antônio, no Banco Santader: agência – 3499; conta corrente – 13000272-6.

“Queremos cuidar deles da melhor forma possível, oferecer a eles um belo trabalho, uma caridade estruturada, onde, por meio da dignidade de um banho, eles possam sair bem cuidados e seguir o destino deles”, acrescenta Vanderson, que ainda reforça que a preocupação com a higiene, nos tempos da pandemia, é uma constante. Por isso, também são oferecidas garrafas com água, sabão, álcool e máscaras nesse contato.

Tópicos: coronavírus

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