Polícia Civil investiga assassinato de empresário em saída de condomínio na BR-040

Entre 2011 e 2020, Frederico Márcio Arbex foi citado em 31 boletins de ocorrência, seja como vítima ou envolvido


Por Sandra Zanella e Michele Meireles

11/12/2020 às 20h26

Empresário foi morto nesta sexta de manhã, na estrada do condomínio onde morava (Foto: Polícia Militar)

A Polícia Civil investiga o assassinato do empresário juiz-forano Frederico Márcio Arbex, 43 anos, executado a tiros durante uma emboscada, na manhã de sexta-feira (11), em uma estrada vicinal de acesso ao residencial onde morava, próximo ao Mirante da BR-040, na altura do km 796, no Bairro Jardim da Serra, na Cidade Alta, em Juiz de Fora. Fred Arbex, como era conhecido, saía de casa, por volta das 7h, e, antes de chegar à rodovia, foi surpreendido por um caminhão-baú, que trafegava em sentido oposto ao seu e chocou-se de frente contra a caminhonete que dirigia, provavelmente de forma proposital, para parar o veículo. Em seguida, pelo menos um atirador abriu fogo contra a vítima, que morreu no local, nas imediações da entrada dos condomínios Vale e Villagio da Serra. Antes da fuga, os criminosos ainda atearam fogo no caminhão, concluindo de forma cinematográfica um crime ousado e com características atípicas para Juiz de Fora.

O veículo ficou em chamas atravessado no meio da pista, impedindo o trânsito. O empresário foi encontrado por policiais militares caído ao solo, ao lado da caminhonete, já aparentemente sem vida e com perfurações provocadas por arma de fogo. Uma equipe de pronto socorro da Concer prestou os primeiros atendimentos, sendo o óbito constatado. Devido ao risco de explosão, o Corpo de Bombeiros foi mobilizado para combater o fogo e encaminhou duas viaturas ao local. A perícia da Polícia Civil realizou os levantamentos necessários para apuração do caso, e o corpo foi encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal (IML).

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Segundo o subcomandante do 27º Batalhão da Polícia Militar, major Jean Michel do Amaral, a suspeita é que o caminhão tenha sido incendiado para que vestígios fossem apagados. O policial disse que há possibilidade de outros veículos terem participado da ação criminosa. Nenhuma cápsula de munição foi encontrada nas proximidades, e nenhum suspeito foi indicado.

Um porteiro de condomínio próximo ao ponto da execução contou à PM que havia desembarcado de um ônibus às 6h30 na BR-040 e seguido para o trabalho, quando observou o caminhão-baú estacionado na via de acesso. Pouco tempo depois, avistou a caminhonete do empresário trafegando em direção à rodovia e, logo em seguida, escutou o forte barulho de acidente, sucedido de disparos.

O delegado Rodrigo Rolli esteve na cena do crime. Segundo ele, uma das linhas de investigação sobre a motivação para o homicídio é relacionada à contravenção penal de exploração de jogos de azar. Segundo ele, foram apreendidos no local contratos e pen-drive, além de HD externo e celular. Os conteúdos serão analisados pela equipe da especializada. Entre os materiais recolhidos que estariam em poder da vítima também havia, conforme a PM, R$ 5.812 em dinheiro, cem pesos mexicanos, dezenas de folhas de cheque preenchidas, cartões e documentos.

A Tribuna entrou em contato com o advogado da família de Fred Arbex, Eider Cunha Tavares, mas ele informou que não vai se pronunciar sobre o caso por enquanto.

Histórico

Fred Arbex completaria 44 anos no próximo dia 21 (Foto: Reprodução/Facebook)

Fred Arbex completaria 44 anos no próximo dia 21. Nos últimos tempos, ele esteve à frente de bares e casas noturnas na cidade. Segundo levantamento da Polícia Militar, entre 2011 e 2020, o empresário foi citado em 31 boletins de ocorrência, seja como vítima ou envolvido. Em alguns deles, aparece como suspeito de delitos como ameaça; prostituição/exploração sexual de menores de idade em boate; casa de prostituição; exploração de florestas ou de área de preservação permanente; tráfico de drogas; jogos de azar (caça-níqueis); roubo/ violência contra mulher.

Em setembro deste ano, houve solicitação do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), atendendo a requerimento do Ministério Público, para instauração de inquérito policial para investigar possíveis crimes de organização criminosa, eventual lavagem de dinheiro, lesão corporal e utilização indevida de bens públicos, bem como da contravenção de prática de jogos de azar, cometidos, em tese, por um agente público em associação com Frederico Arbex e mais três pessoas.

Também neste ano, houve registro de cinco ocorrências que descrevem desacertos entre terceiros relacionados a terrenos que teriam sido adquiridos pelo empresário em um loteamento na Zona Rural de Chácara.

O 4º Departamento de Polícia Civil de Juiz de Fora foi questionado sobre as apurações que estariam em andamento relacionadas à vítima de assassinato, mas informou que o ordenamento jurídico impõe como dever para a autoridade policial assegurar o sigilo das investigações.

“Outras normas garantem direitos como intimidade, vida privada e inocência, que também devem ser obedecidas. Portanto, em cumprimento às normas, podemos informar que há registros envolvendo a vítima de homicídio e que a Polícia Civil cumpre sua atribuição constitucional de investigar crimes, identificando autoria e materialidade.”

Em outra nota, a instituição reiterou que os trabalhos investigativos para apurar o assassinato de Fred Arbex estão sendo conduzidos por policiais civis da Delegacia Especializada de Homicídios.

Denúncia na Assembleia de Minas

Além de ter sido citado em vários boletins de ocorrência ao longo da última década, o empresário juiz-forano Fred Arbex esteve em 2012 na mira de audiências públicas da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por suspeita de ser o pivô de um esquema de pagamento de propinas a policiais civis e militares para manter o funcionamento ilegal de jogo do bicho e de máquinas caça-níqueis em Juiz de Fora, além de seu suposto envolvimento com exploração sexual.

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A propina, segundo a denúncia, seria paga semanalmente. O esquema só foi abalado quando uma equipe de policiais, que não teria aceitado o suborno, começou a realizar operações para combater o jogo ilegal. A Tribuna acompanhou o caso na época e, nesta sexta-feira (11), buscou informações sobre o desfecho das apurações junto ao deputado estadual Sargento Rodrigues (PTB), que comandou os trabalhos naquela ocasião.

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Segundo ele, o suposto envolvimento do empresário com a contravenção foi exposto durante audiência pública em 28 de maio daquele ano, quando um ex-sócio de Fred Arbex confirmou o pagamento de propina a policiais no esquema de contravenções de jogo do bicho e caça níqueis, exploração sexual e casa de prostituição.

“Recebemos muitas denúncias fortes e contundentes na época. Não chegou a virar CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) porque o Governo atuou e retirou as assinaturas. Tínhamos protocolado 40”, lamentou o deputado, lembrando que a citação do envolvimento de pessoas do primeiro escalão das polícias teria motivado a articulação do Executivo para minar as investigações. Ainda assim, conforme ele, as apurações foram encaminhadas ao Ministério Público, que havia solicitado as gravações da audiência.

Em uma das últimas publicações referentes ao caso, em 30 de outubro de 2012, na TV Assembleia, a notícia era de que Frederico Arbex não havia comparecido à audiência marcada para aquela data. “Ele era o pivô do esquema, mas nunca compareceu”, disse Rodrigues. “Insistimos em várias audiências, coletamos materiais mais que suficientes para a CPI, no entanto, o Governo, em face do envolvimento de policiais, preferiu evitar o desgaste.”

Tópicos: polícia

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