JF tende a fechar o ano com menos mortes violentas

De janeiro a outubro deste ano, levantamento da Tribuna aponta 78 mortes, enquanto em igual período do ano passado foram 113


Por Marcos Araújo

07/12/2018 às 07h00

Juiz de Fora tende a fechar o ano de 2018 com queda no número de mortes violentas. A cidade acumulou 78 mortes entre janeiro e outubro deste ano, de acordo com levantamento da Tribuna, que leva em conta os homicídios consumados e casos em que a vítima tem o óbito confirmado nos hospitais, assim como latrocínios e feminicídios. O montante representa recuo de 30% nos casos, uma vez que, no mesmo período de 2017, 113 mortes foram registradas. A tendência de queda é confirmada pela Polícia Civil, por meio das estatísticas da Delegacia Especializada em Homicídios. Nos dez primeiros meses de 2018, a unidade recebeu 76 casos para instauração de inquéritos. No ano passado foram 105, o que significa uma redução de 27%. A estatística da Polícia Civil é diferente dos números do jornal, porque leva em consideração o número de crimes registrados, enquanto a Tribuna considera o número de vítimas, uma vez que houve ocorrências que resultaram em mais de uma pessoa morta.

Os dados da Polícia Militar também revelam a diminuição em Juiz de Fora e nos 85 outros municípios da Zona da Mata, que compõem a 4ª Região de Polícia Militar (4ª RPM). Até 31 de outubro deste ano, foram registrados 60 homicídios consumados na cidade e 160 casos em toda a região. Com base no Armazém de Informações do Sistema Integrado de Defesa Social (Sids) verifica-se uma projeção de redução para 2018 de 35,10%, em Juiz de Fora, e de 39,21%, na região. Para a PM, que registra os homicídios consumados quando encontra as vítimas sem vida no local do crime, esses percentuais remetem a índices de 2012.

PUBLICIDADE

A 4ª Região da PM também projeta queda nas taxas de homicídios consumados por grupo de cem mil habitantes. Para o município, o índice vai ficar em 12,87, enquanto na região em 11,61. A corporação comemora as taxas, uma vez que estão abaixo do padrão nacional. De acordo com o Atlas da Violência de 2018, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a taxa no Brasil equivale a 30,3 mortes para cada cem mil habitantes.

Mapeamento de locais de maior incidência de assassinatos

De acordo com um dos titulares da Delegacia Especializada em Homicídios, Rodrigo Rolli, o trabalho de mapeamento dos crimes, que vem sendo realizado pela unidade desde 2014, tem colaborado para o alcance do resultado positivo. Ao longo dos últimos quatro anos, os investigadores identificaram locais de maior incidência de assassinatos, pessoas e grupos envolvidos nos crimes. “Nossa metodologia mapeou as áreas, os autores e os grupos que nos permitem chegar às autorias de forma mais rápida”, ressaltou Rolli, acrescentando que a delegacia também lançou mão de informações que chegaram pelo Disque-Denúncia Unificado (181), do uso de testemunhas veladas durante os inquéritos e do serviço de proteção à testemunha.

O delegado lembra que, há quatro anos, Juiz de Fora tinha um índice de homicídios considerado alto. Em 2014, o ano foi fechado com 141 casos. “Não havia uma estatística fidedigna na cidade em relação ao crime de homicídio, o que nos levou a buscar dados para compor esse mapeamento, nos permitindo conhecer a dinâmica desse crime”, observou o policial, que acrescentou: “O número alto de homicídios no município tem alguma relação com o derrame de armas apreendidas que foram desviadas do Exército Brasileiro entre 2010 e 2012, mas não é o fator principal. A causa mais importante é o tráfico de drogas. Hoje 95% dos casos de homicídios na cidade têm como motivação a disputa pelo tráfico de drogas”, pontua.

Rolli vê maior qualidade nos inquéritos atuais (Foto: Marcelo Ribeiro)

Por meio das informações coletadas e organizadas, os policiais conseguiram perceber pontos que precisavam de intervenção maior, como os bairros Parque das Torres (Zona Norte), Santa Rita, Santa Cândida e São Benedito (Zona Leste) e vilas Olavo Costa, Ideal e Furtado de Menezes (Zona Sudeste). “Havia uma guerra “louca” com relação ao tráfico de drogas, e o homicídio em alta escala acontecia, pois não havia uma devida repressão. Começamos a trabalhar, e nosso lema era tirar os autores da zona de conforto, fazendo repressão e contando com o apoio da Justiça para a expedição dos mandados de prisão e de busca e apreensão. Houve operações nas quais cumprimos entre 15 e 18 mandados em uma única viatura”, afirmou Rolli.

O delegado ressalta que, antes da adoção dessa nova metodologia, os policiais tinham que apagar incêndio. “Havia uma quantidade enorme de crimes. Enquanto uma equipe estava na ocorrência num bairro, acontecia mais uma em outro bairro. Assim, o inquérito era quantitativo, sendo instaurados para apurar quantidade. Agora, temos a qualidade desses inquéritos, dando a autoria dos casos e conseguindo as provas. Com mais qualidade, as condenações estão acontecendo. Assim, temos que ressaltar o trabalho do Ministério Público e do Tribunal do Júri, que colaboram para essa redução das mortes e para mais segurança à sociedade.”

Melhora no índice de apuração dos inquéritos

Atualmente, a Delegacia Especializada em Homicídios é dividida em áreas. As regiões Sul, Cidade Alta e Norte têm crimes investigados sob a responsabilidade do delegado Armando Avolio, que está à frente de 46 casos. Segundo Avolio, apenas três do total estão ainda sem a identificação da autoria dos crimes. “Mas já temos a linha de investigação de todos esses homicídios, com informações que nos levarão aos responsáveis pelos crimes. Temos feito o monitoramento das áreas de mais confrontos entre bairros, de maior incidência de tráfico de drogas, identificação de autores contumazes, de grupos e de membros desses grupos.

Assim, pedimos a prisão deles para a Justiça, a fim de retirá-los de circulação. Nosso objetivo é evitar a continuação desses conflitos e a prática dos homicídios”, destaca Avolio, acrescentando que a formação da sua equipe, em 2017, contribuiu para que mais casos fossem apurados. “Somamos com a equipe que já existia, e isso tem colaborado para a queda dos números, já que são mais policiais trabalhando nas ocorrências”, ressaltou.

Avolio afirma que uma dificuldade deparada pelos policiais durante os inquéritos é encontrar testemunhas. “Geralmente, esses grupos são muitos temidos nos bairros, fazendo as pessoas terem medo de passar as informações”, pontua o delegado, acrescentando que essa situação tem sido contornada com o uso de testemunhas veladas.

O conteúdo continua após o anúncio

Já as zonas Nordeste, Leste, Sudeste e Centro ficam a cargo do delegado Rodrigo Rolli, que recebeu 30 casos e já tem 28 apurados. O índice de apuração do total de registros, conforme os dados apresentados pela unidade policial, beira a 90%. “É difícil ainda dizer que vai haver a diminuição de fato dos assassinatos daqui para frente, mas existe uma tendência de queda, que pode ser concretizada também com as prisões que vêm sendo realizadas. Hoje os autores de homicídios identificados estão presos ou foragidos. Nosso compromisso maior não é a redução dos números, mas dar resposta rápida à sociedade e efetivar a prisão dos criminosos.”

PM foca em prevenção e repressão criminal

Para os índices positivos, a Polícia Militar aponta entre as suas principais ações: análise criminal, na qual trabalha com a identificação dos fatores envolvendo a criminalidade e suas variáveis, orientando a gestão policial para resultados, direcionando os recursos para os locais e horários que demandam atenção. Outro fator destacado é o trabalho realizado pelo Grupo Especial de Policiamento em Área de Risco (Gepar). “O grupo tem o objetivo de realizar o policiamento em áreas de risco, visando à prevenção e repressão criminal de forma qualificada, especialmente os homicídios. O monitoramento dos principais autores de assassinatos é mais uma ação apontada pela corporação como primordial para a queda dos números. A Polícia Militar busca identificá-los, mantendo um banco de dados atualizado com fotos e endereços, organograma e mapas dos locais de atuação para subsidiar uma repressão qualificada, realizando operações, buscas e cumprindo mandados de busca e apreensão ou prisão”, ressalta o assessor de comunicação organizacional da PM, major Jovanio Campos.

No período de janeiro a outubro de 2018, foram 60 homicídios consumados em Juiz de Fora. Em 41,6% desses registros, ou seja, em 25 deles, a PM identificou os autores no boletim de ocorrência e prendeu em flagrante os autores em 18,3% (11) dos casos. A apreensão de armas de fogo, principal para a prática do homicídio, também teve papel preponderante para o recuo dos casos. De janeiro a 31 de outubro deste ano, em Juiz de Fora, foram apreendidas 245 armas de fogo e, na 4ª RPM, um total de 1.038. Além dessas ações, a PM ainda destaca o combate ao tráfico de drogas. No município, foram registradas 843 ocorrências de prisão de traficantes e outras 1.890 na 4ª RPM.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.