UFJF recruta voluntários para teste de vacina BCG no combate à Covid-19

Em Juiz de Fora, os pesquisadores buscam, ao menos, 400 voluntários para integrar o estudo


Por Leticya Bernadete

06/04/2021 às 16h55- Atualizada 06/04/2021 às 19h59

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em colaboração com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está conduzindo uma pesquisa para avaliar a eficácia da vacina BCG contra o agravamento de quadros da Covid-19. A partir desta semana, os pesquisadores estão convocando voluntários para colaborarem com o levantamento. Os participantes irão passar por entrevistas e testagens sorológicas e, caso sejam selecionados, serão vacinados com a BCG e acompanhados ao longo de seis meses.

Para o estudo, a instituição está selecionando pessoas que tenham entre 20 e 50 anos; morem com profissionais de saúde ou militares (incluindo bombeiros) em atividade; não tenham sido infectadas pelo coronavírus; não tenham sido vacinadas contra a Covid-19 (nem estejam próximas de receber a vacinação); não estejam grávidas ou amamentando; não tenham diabetes ou hipertensão descontroladas; e não possuam doenças ou alergias graves.

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Os profissionais que ainda não foram imunizados contra a Covid-19 também podem participar do levantamento. As inscrições podem ser realizadas on-line, tanto pelo e-mail bcgcovid.fiocruz.jf@gmail.com quanto pelo WhatsApp, pelo número (32) 99826-8179. Estes canais podem ser acionados também em caso de dúvidas.

Em um primeiro momento, os voluntários passarão por uma entrevista e coleta de amostra sanguínea. Com o material, a equipe de cientistas irá verificar a presença de anticorpos contra a Covid-19, o que irá demonstrar se os participantes contraíram a doença e foram assintomáticos. A entrevista e a coleta de sangue para testagem será repetida a cada dois meses entre os selecionados.

Após a seleção, eles serão separados, por meio de um sorteio, em dois grupos distintos. Os integrantes de um deles receberão a vacina BCG, enquanto nos demais será aplicado placebo. Os participantes só saberão em qual grupo foram alocados no final dos estudos.

Caso algum participante apresente sintomas suspeitos para a Covid-19 ao longo dos seis meses do levantamento, o mesmo deve comunicar à equipe científica. Os pesquisadores irão orientá-lo e acompanhá-lo durante a manifestação da doença.

Seleção de voluntários

O estudo com a BCG já vinha sendo conduzido no Brasil pela Fiocruz, que, inicialmente, iria recrutar voluntários entre os profissionais de saúde que estavam mais expostos ao risco de infecção. Com o início da vacinação da categoria contra a Covid-19, bem como devido a problemas de liberação de verba para iniciar o projeto anteriormente, a pesquisa passou a ser direcionada aos familiares próximos desses trabalhadores. “Nós estamos focados nos familiares porque são pessoas com as quais esses profissionais de saúde convivem, ou militares e bombeiros, que, pela natureza da própria profissão, acabam se expondo mais ao risco”, explica a pesquisadora Kézia Scopel, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF, que integra o estudo juntamente com a professora Sandra Tibiriçá.

De acordo com a cientista, a pesquisa tem se voltado para as faixas etárias mais baixas considerando que o acompanhamento deve ser feito por, pelo menos, seis meses, e por ainda não haver perspectiva para vacinação deste grupo com os imunizantes específicos da Covid-19. Como destacado por Kézia, a participação na pesquisa não impede que os voluntários recebam a vacina contra a doença, caso esta seja disponibilizada durante o período de vigência do estudo. A única exigência é comunicar os cientistas com antecedência. Mesmo neste caso, o acompanhamento do voluntário continua até o final do levantamento.

“A pesquisa não é impeditiva para tomar a vacina da Covid-19, caso ela chegue para o participante. É um ponto muito importante, porque às vezes o indivíduo deixa de participar da pesquisa achando que não vai poder tomar a vacina contra a Covid, mas ele pode, sim. Caso isso aconteça, nós passamos a investigar uma outra pergunta. Por exemplo, será que a BCG potencializa a resposta da vacina contra a Covid? São outras questões que podemos estudar.”

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Mesmo quem já tomou a vacina BCG na infância pode fazer parte do projeto, de acordo com Kézia. “Existem vários trabalhos mostrando que a revacinação com BCG é utilizada, inclusive, para tratamento de outras doenças, então não tem problema em tomar novamente”.

BCG pode estimular sistema imunológico

De acordo com a pesquisadora Kézia Scopel, o objetivo do estudo é investigar se a BCG estimula o sistema imunológico a se preparar contra o agravamento da infecção pela Covid-19. Neste caso, seria pelo processo chamado de “imunidade treinada”, considerando que há outras investigações que apontam um possível “papel protetor” da BCG. “Essa hipótese vem de um estudo que foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores estrangeiros que mostrou que, naqueles países que têm na sua dinâmica a vacinação com BCG, as pessoas adoeciam e agravavam menos do que aqueles países que não adotam a vacinação com BCG. Demonstrando que, possivelmente, a BCG pode ter um papel nessa prevenção do agravamento (da Covid-19)”, explica. Países como Austrália e Holanda contam com estudos voltados para avaliar o papel da revacinação com BCG na proteção contra a forma grave da Covid-19.

No Brasil, o levantamento com a BCG está ocorrendo em outras cidades polos, como Manaus, Belém, Rio de Janeiro e São Paulo. Em Juiz de Fora, os pesquisadores buscam, ao menos, 400 voluntários para integrar o estudo. “Desde que a pessoa se insira dentro dos critérios, estipulamos cerca de um mês para realização da amostragem dos interessados em participar da pesquisa. Iniciamos agora o recrutamento, e já devemos começar, entre o final dessa semana e a semana que vem, as coletas e as vacinações”, conta. A vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin) é referência mundial no combate à tuberculose e é obrigatória para crianças recém-nascidas no Brasil desde 1976.

Tópicos: coronavírus / vacina

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