Salas de aula em JF viram dormitórios para pessoas com mais de 50 anos

Abrigo emergencial foi criado na Escola Municipal Dilermando Cruz, na Vila Ideal


Por Sandra Zanella

03/04/2020 às 19h34- Atualizada 03/04/2020 às 19h35

As salas de aula viraram dormitórios, e os espaços antes ocupados por carteiras, agora estão preenchidos com camas. No lugar de crianças e jovens, estão moradores em situação de rua com mais de 50 anos. Desde o dia 31 março, esta é a nova realidade da Escola Municipal Dilermando Cruz, que fica na Vila Ideal, Zona Sudeste de Juiz de Fora. Com a suspensão das atividades curriculares devido à pandemia, o colégio virou casa para pelo menos 30 pessoas em situação de vulnerabilidade social, que estavam ainda mais expostas ao risco de se infectarem pelo novo coronavírus. Dentro do ambiente escolar, os adultos, muitos deles idosos, não recebem apenas quatro refeições diárias e um local seguro para descanso durante 24 horas. Embora não haja ensino de matemática ou português, os “novos alunos” recebem “aulas” sobre a Covid-19, incluindo os cuidados necessários para evitar a contaminação, e têm acesso à higiene, tão fundamental neste momento.

A iniciativa já tem sido vista com bons olhos por moradores da região, e alguns deles já se tornaram voluntários, já que mesmo com toda a infraestrutura oferecida, a própria Prefeitura lançou campanha para arrecadar materiais necessários para manter a saúde da população de rua. Residente da Vila Ozanan, o professor Fernando Seixas Carvalho, 54 anos, é um dos que lidera o recolhimento de donativos, principalmente material de higiene pessoal e de limpeza, como desodorantes, sabonetes, papel higiênico, creme dental, escova de dente e álcool 70%. “É a ação mais bacana que eu vi e ouvi falar nesses dias de isolamento devido à pandemia. A escola é muito próxima do meu bairro e, como já fui professor da rede, isso me deixa muito orgulhoso.” Neste sábado (3), o docente já pretende disponibilizar os primeiros produtos que conseguiu reunir junto a amigos e também desconhecidos, por meio de divulgação nas redes sociais.

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Além da Dilermando Cruz, a Prefeitura também oferece acolhimento para moradores em situação de rua, desde o dia 31 de março, no Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEM). Enquanto na escola municipal o público-alvo são as pessoas com mais de 50 anos já atendidas pela Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), o CEM passa a ser abrigo, durante este período de isolamento social, para as pessoas que normalmente não aderem aos serviços já existentes. No local, que fica na Rua Doutor Prisco Viana, no Centro, há 50 vagas para homens e mulheres, encaminhados durante os serviços de abordagem nas ruas.

Tanto a escola municipal quanto o CEM estão sendo oferecidos à população de rua como atendimento emergencial diante do avanço da nova doença. “O objetivo é conduzir estas pessoas para um novo espaço, onde terão acesso à informação sobre o coronavírus e aos cuidados necessários, como higienização e alimentação. É mais uma possibilidade de ajudá-los a se cuidarem”, destacou a secretária de Desenvolvimento Social, Tammy Claret, por meio da assessoria.

Outras referências

Os moradores em situação de rua também continuam sendo atendidos pela rede de serviços já existente, como na Casa de Passagem para Mulheres, que funciona durante todo o dia, incluindo o pernoite. “Desta forma, as mulheres podem permanecer todo o tempo no local, evitando circulação nas ruas”, destacou a Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS). Também na região central, ainda há o Centro Pop e a Casa de Passagem para Homens. Já a Casa da Cidadania está dando atenção especial aos idosos em situação de rua. Ainda conforme a SDS, a Fundação Maria Mãe, no Ladeira, segue normalmente com as oficinas de inclusão produtiva, divididas em grupos de poucas pessoas, para evitar aglomeração.

Os almoços não estão sendo servidos no Restaurante Popular às pessoas em situação de rua neste período de pandemia. Enquanto isso, dois espaços foram organizados para oferecer as refeições: um no Centro Pop, para os usuários do local, e outro no Centro de Referência em Direitos Humanos, para as pessoas que já fazem uso do restaurante e que foram cadastradas no Centro Pop, mas não aderiram aos demais serviços voltados a esta população. “Todas as unidades que atendem às pessoas em situação de rua já estão organizando espaço de isolamento para aqueles que, vivendo nesta condição, tiverem indicação médica. Além disso, a equipe de abordagem está identificando e orientando as pessoas em situação de rua, que fazem parte do grupo de risco. O trabalho tem a parceria do projeto Consultório na Rua, participando das demandas relacionadas à saúde”, acrescentou a SDS.

Campanha

“Dá para ficar em casa e ajudar quem precisa”, é o lema da campanha da Prefeitura, desenvolvida pelas secretarias de Desenvolvimento Social (SDS) e Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta) para ajudar nos serviços prestados à população de rua durante a pandemia. O objetivo é arrecadar cestas básicas, roupas de cama, toalhas de banho e material de higiene pessoal para essas pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Para evitar filas e aglomerações durante a distribuição e também garantir a fiscalização dos mantimentos e materiais doados, a Prefeitura decidiu centralizar as arrecadações, “fazendo com que cheguem aos que realmente precisam”.

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Para as empresas e entidades que desejarem doar cestas básicas, foi disponibilizado o telefone (32) 2104-7010. O recolhimento é feito por agendamento às terças e quintas-feiras. Já quem desejar disponibilizar roupas de cama, toalhas de banho e material de higiene pessoal para os acolhimentos que recebem os moradores em situação de rua, o contato é (32) 3690-7991. Da mesma forma, o recebimento será agendado a fim de evitar o deslocamento das pessoas.

Tópicos: coronavírus

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