Estado abre procedimento interno para apurar morte na área da penitenciária

Segundo delegado, os policiais penais envolvidos não teriam acionado a PM e a perícia da Polícia Civil; agentes alegam uso de munição não letal na troca de tiros


Por Michele Meireles e Marcos Araújo

01/06/2021 às 12h23- Atualizada 01/06/2021 às 18h25

A Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) abriu um procedimento interno para apurar a morte de um homem de 32 anos durante uma suposta troca de tiros com policiais penais da penitenciária José Edson Cavalieri, localizada no Bairro Linhares, na Zona Leste, no último sábado (29). A Delegacia Especializada de Homicídios investiga as circunstâncias da morte, após tomar conhecimento do caso somente depois que o corpo deu entrada no Instituto Médico Legal (IML), já que os policiais penais não teriam acionado a corporação, nem a Polícia Militar.

O delegado Rodrigo Rolli, responsável pela investigação, quer esclarecer como ocorreu a troca de tiros. Até esta terça-feira (1º de junho), segundo ele, não foram encontradas marcas de projéteis nas paredes do estabelecimento prisional. Além disso, ele quer saber como o morto foi atingido com uma munição letal, uma vez que os agentes alegam ter efetuado apenas tiros de borracha.

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Delgado Rodrigo Rolli investiga morte próximo à penitenciária
Delegado quer entender as circunstâncias que levaram ao disparo contra a vítima fatal (Foto: Arquivo Tribuna/Marcelo Ribeiro)

O delegado aguarda os laudos periciais de local e o exame de necropsia, mas vai ouvir, nos próximos dias os integrantes da equipe do Samu, os profissionais de saúde que atenderam a vítima no HPS, familiares do morto e os policiais penais envolvidos no caso. “O que mais nos espanta é ter um projétil de arma de fogo na cabeça do morto. Vamos fazer a determinação do calibre deste projétil e fazer a microcomparação balística com as armas entregues pelos policiais penais. Ainda estou aguardando o laudo oficial de local e o exame de necropsia. Outras diligências também serão feitas. É uma morte violenta, que ocorreu de forma muito atípica e envolvendo agentes do estado”, comentou.

Após ouvir o delegado, a Tribuna questionou a Sejusp sobre as questões apontadas pela Polícia Civil, como o não acionamento das polícias Militar e Civil ao local, o fato de não ter sido encontrado marcas de projétil na parede do estabelecimento prisional e sobre o projétil de arma letal localizado na cabeça da vítima. Como resposta, a pasta informou que “por meio do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), abriu procedimento interno para apurar administrativamente o ocorrido. O Depen-MG esclarece que está sempre à disposição para fornecer à Polícia Civil informações que possam auxiliar o inquérito policial durante o seu curso.”

Ocorrência registrada como tráfico

Conforme o delegado Rodrigo Rolli, os policiais penais fizeram uma ocorrência de tráfico de drogas sobre o caso, que teve início às 20h50 de sábado e foi encerrada às 7h11 de domingo (30). Apesar de terem encontrado o homem ferido, os agentes não teriam feito o acionamento da PM e da perícia da Polícia Civil, como é de praxe. Eles chamaram o Samu para o resgate do homem, que foi levado para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde morreu à 1h45 de domingo. Até o momento, a Polícia Civil não tem o esclarecimento se ele deu entrada com vida na unidade de saúde.

O homem tinha um ferimento na cabeça causado, a princípio, por um disparo de arma de fogo. O corpo foi encaminhado para o IML para ser periciado. “Foi então que o delegado de plantão tomou conhecimento dos fatos. Os quatro policiais penais foram chamados para prestar depoimento, e a perícia foi enviada ao local dos fatos. Eles alegam que um policial penal viu uma movimentação do lado de fora da cadeia e, em seguida, os suspeitos teriam começado a atirar em direção à muralha. Ele e outros três agentes teriam revidado usando escopetas calibre 12, com munição não letal”, disse o delegado.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado sobre o fato, um policial penal que estava de plantão na unidade observou a movimentação de quatro indivíduos no entorno da penitenciária. O grupo teria realizado disparos em direção ao posto da muralha, fato que levou o policial penal a acionar a central, via rádio. Conforme a ocorrência, ao deslocar-se juntamente com sua equipe para o local, novos disparos foram realizados contra a equipe do sistema prisional.

O documento aponta que foram efetuados pelos policiais penais oito disparos de espingarda calibre 12, utilizando munição menos letal.
Segundo o registro, os indivíduos desconhecidos fugiram atirando contra a equipe de policiais penais e tomaram destino ignorado. Foi realizada a varredura do perímetro pela equipe do sistema prisional, sendo encontrado um indivíduo caído no chão, com sangramento na região da cabeça. Junto dele, foram encontrados e apreendidos quatro pedaços de maconha, conforme apontou o registro.

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O Samu foi acionado, e a equipe prestou os primeiros socorros ao ferido no lugar em que ele foi encontrado. Em seguida, conforme o registro feito pelos policiais penais, o homem foi conduzido com vida, de maca, até a ambulância, onde recebeu atendimento e foi encaminhado para o Hospital de Pronto Socorro (HPS).

Tópicos: polícia

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