Calor incomum
A Europa está enfrentando sua pior seca em, pelo menos, 500 anos, com dois terços do continente em alerta, segundo o Observatório de Secas da Europa, entidade ligada à União Europeia (UE). O relatório divulgado nesta terça-feira (23) afirma que 47% do continente está com claro déficit de umidade do solo, e 17% em estado de alerta de que a vegetação será afetada.
As colheitas de verão foram fortemente atingidas pela seca recorde. Os rendimentos de milho em 2022 foram 16% menores do que a média dos últimos cinco anos, e os de soja e girassol devem cair 15% e 12%, respectivamente.
Já na Ásia, o cenário também é semelhante, com regiões na China e no Japão batendo a máxima histórica de 40,2°C, com o boletim do Instituto Meteorológico do Japão decretando fim do período chuvoso 22 dias antes do previsto. Com a onda de calor em alta, o agronegócio e a pecuária são diretamente afetados.
Nesse sentido, o Brasil poderá se beneficiar do cenário de recordes de temperatura ao redor do mundo. Ao contrário do ambiente de solos secos e pouco férteis, o Brasil está fechando sua colheita 2021-2022 com recorde histórico no setor de grãos e sucesso em grande parcela das colheitas, com previsões otimistas já para a próxima safra.
Como consequência, teremos países afetados pelos fenômenos climáticos criando maiores laços em busca da proteção alimentar, como já está ocorrendo no caso da China com milho e soja brasileiros. Contudo, existe a consequência de que demandas mais altas de grãos brasileiros elevem o seu preço para todos os consumidores, em decorrência dos preços estarem relacionados ao valor do mercado internacional.
Portanto, se por um lado a maior demanda pelos produtos brasileiros favorece o agronegócio brasileiro gerando riqueza, por outro, irá desfavorecer o bolso do brasileiro que enfrentará uma cesta de bens mais caros, tanto pela dependência do trigo importado, como também em decorrência do aumento dos preços de origem animal – como carne e derivados – que dependem dos grãos para a alimentação dos rebanhos.
Por Mylena Carvalho e Ana Julia Santos