Alô, Alô, Alô…. A crise chega na telefonia
No último dia 14, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE destacou a queda de 6,3% do nível de atividade do setor de serviços em novembro de 2015, quando comparado ao mesmo mês de 2014. Em se tratando do principal setor da economia brasileira, com participação de 61% no PIB, a notícia é mais um indício de nossa fragilidade econômica. De acordo com o IBGE, a retração na atividade representa a mais profunda registrada desde o início da PMS, em 2012. Agora, não só a indústria, como também os serviços, dá sinal dos efeitos adversos da conjuntura. Conforme as projeções do Banco Central (BC), o PIB deve diminuir 3,71% em 2015 e 2,95% em 2016. Ou seja, as perspectivas não são nada animadoras e não há portos seguros.
Nesse cenário, as atividades de telecomunicações, antes mais resistentes à retração econômica que os outros serviços, registraram a maior queda da série histórica da PMS. Só em novembro, esse serviço encolheu 4,7%, quando comparado com o mesmo período de 2014, o quinto mês consecutivo de queda. A atividade, que congrega telefonia fixa e móvel (celular), internet fixa e móvel (2G, 3G e 4G) e TV por Assinatura, é classificada como setor-chave para economia brasileira, com capacidade de gerar estímulos acima da média em termos de compra de insumos e venda de produtos no sistema produtivo. Como exemplo, para cada R$ 1 milhão de acréscimo na demanda de serviços de telefonia, o setor de telecomunicações gera, direta e indiretamente, R$ 1,87 milhão de acréscimo na produção econômica.
O IBGE aponta duas razões para o forte resultado negativo nas atividades de telecomunicações. Primeiro, a crise no setor industrial, que em novembro apresentou uma queda de 13,3% no seu faturamento real em relação ao mesmo mês de 2014 (segundo a CNI). As perspectivas pessimistas e as incertezas na indústria promovem revisões no planejamento de produção e custos, entre eles a contratação de linhas telefônicas corporativas e serviços de transmissão de dados e rede.
A segunda razão diz respeito à perda real da massa salarial das famílias, que apenas no último mês de novembro encolheu 12,2% em comparação ao mesmo mês de 2014. Essa retração do poder de compra familiar já repercute no setor de TV por assinatura, que perdeu meio milhão de clientes de julho a novembro de 2015, conforme a Anatel (de 19,65 para 19,16 milhões). Por se tratar de serviços menos essenciais na cesta de consumo das famílias, a queda na renda real tem provocado cortes ou substituição desses serviços.
Nesse movimento de substituição, os serviços Over-The-Top (OTT) passam a chamar mais atenção. Os OTT utilizam a internet, e, portanto, a infraestrutura das teles, para disponibilizarem aplicativos, gratuitos e pagos, capazes de substituir, em parte, serviços mais caros e tradicionais, como os de telefonia (fixa e móvel) e TV por assinatura. Os apps mais usados oferecem comunicação por mensagem, voz e vídeo para milhões de pessoas em qualquer lugar do mundo, além de filmes e séries para smartphones, tablets, PCs e TVs a um preço bem abaixo dos praticados pelas TVs por assinatura. Estimativas indicam que apenas a líder nesse segmento deve alcançar quatro milhões de assinantes no Brasil, com um faturamento de R$ 1,1 bilhão em 2015.
O fato dos apps estarem ganhando importância vem gerando “brigas” por clientes e faturamento. De um lado, as teles acusando os apps de estarem ligados à “pirataria” e, de outro, os apps defendem que seus serviços geram demanda por dados e internet mais veloz, aumentando a receita das teles que oferecem internet fixa e móvel. Por enquanto, numa economia de mercado e sem barreiras à competição, quem leva a melhor é o consumidor.
Por Matheus Lily Serrão Dilon e Admir Antonio Betarelli Junior. Email para cmcjr.ufjf@gmail.com