Tirando leite de pedra: por que o leite e seus derivados andam tão caros?
O consumidor tem encontrado um verdadeiro cenário de filme ao ir ao mercado nos últimos dias: o aumento expressivo no preço do leite e seus derivados. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador dos lácteos já acumulou alta de 22,38% em 2022, com alguns derivados, como leite longa vida, queijos e leite em pó chegando, no mesmo período, a 41,77%, 10,36% e 7,53%, respectivamente. Nesse sentido, a alta dos preços dos lácteos chamou a atenção e esteve presente em diversas mídias e discussões estratégicas, despertando na população o desejo de compreender a razão do crescimento no valor do leite e de seus derivados.
O aumento de preços no setor pode ser explicado pela forte queda na produção de leite no primeiro trimestre do ano registrada pela Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE, com decréscimo de 10,3% no volume produzido quando comparado ao mesmo período do ano anterior, sendo o maior recuo registrado em toda a série. Ademais, a redução na produção de leite foi caracterizada por uma conjuntura difícil enfrentada pelo setor desde o início da pandemia, momento no qual a ureia e o cloreto de potássio, dois fertilizantes importantes no processo produtivo, tiveram aumento de quase 200% comparando o primeiro semestre de 2022 com 2020, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA).
Ainda segundo a instituição, a arroba do gado teve crescimento de aproximadamente 50% no período, e o milho e a soja, responsáveis pela composição da ração dada ao gado, tiveram aumento de aproximadamente 60% e 40%, respectivamente. Nesse sentido, o leite pago ao produtor aumentou aproximadamente 36% conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA-Esalq/USP).
Em meio a essa conjuntura, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia corrobora para a alta de preços no mercado. A Ucrânia é uma das maiores produtoras de milho do planeta segundo o USDA e, como consequência do conflito, as estimativas de exportação por parte do país diminuíram, o que causou um aumento no preço do insumo no mercado mundial. Não obstante, a Rússia é uma das maiores fornecedoras de fertilizantes e petróleo do Mundo, e como ocorrido com o milho, o preço dos insumos também teve grande escalada. Aliado a isso, as estimativas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) de uma recessão em todo o planeta para 2022 e 2023 geram incerteza a diversos setores da economia, incluindo o lácteo, o que dificulta a realização de previsões futuras para o mercado.