A (incerteza) política por trás da (estagnada) economia

Por Por Wilson Rotatori e Vinícius Nardy

13/06/2017 às 07h00 - Atualizada 12/06/2017 às 14h52

As delações dos executivos da JBS abalaram o país no último mês e colocaram em cheque a continuidade do ambiente de austeridade propagado pelo atual governo. Conseguindo números positivos na economia – como crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre de 2017 na comparação trimestre/trimestre anterior, avanço do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBCBr), que, na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, acumula duas variações positivas seguidas, e desaceleração da inflação, que atingiu 4,08% a.a. em abril – o governo central vinha conquistando a confiança do mercado e, com isso, alavancando cortes cada vez mais significativos na Taxa Selic, base para a fixação dos juros cobrados das famílias e das empresas. O último deles, de 1% a.a., a fez chegar a 10,25% a.a., criando expectativa de que a taxa chegaria ao final do ano abaixo de um dígito. Após as delações, entretanto, a prioridade do Planalto deixa de ser a economia e passa a ser a continuidade de Temer.

Apesar das projeções do Boletim Focus ainda apontarem certa confiança no governo e não apresentarem alterações drásticas nas expectativas para 2017 – projeções para o PIB seguem em 0,5% e, para inflação, na casa dos 3,9% – as consequências políticas das revelações de Joesley Batista inevitavelmente afetam a economia. Por enquanto, com a não saída de Michael Temer do poder, a rejeição popular ecoou no Congresso e deve levar, se não à derrocada, pelo menos à alteração significativa das reformas, principalmente a previdenciária, gerando consequências severas para o ajuste fiscal imposto pela PEC do Teto dos Gastos. Tal resultado atrapalharia também a condução da política monetária, como já sinalizado pelo Copom na última reunião (05/06/17), na qual a incerteza política foi apontada como motivo para a desaceleração do ritmo de corte dos juros básicos. Sem credibilidade para levar adiante a política econômica proposta, o Governo deverá ter que conviver ainda com alta do dólar (uma medida do enfraquecimento da atividade econômica no Brasil) e redução dos investimentos no país – desestimulados pela própria incerteza e pelo ritmo menor de queda nos juros – o que dificultará ainda mais a recuperação do emprego, do consumo das famílias e, consequentemente, atrasará a já tardia recuperação da economia.

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Por outro lado, uma saída breve de Michel Temer da presidência, embora também represente inúmeras incertezas (desde quem assumirá seu lugar, até seus atos), poderia levar o Brasil a caminhos mais rápidos para a prosperidade. Durante os primeiros anos da atual década, o país acumulava 17,95% de crescimento (2014 contra 2009). Apenas na recessão dos dois últimos anos (2015 e 2016), conseguimos perder 8,52% desse avanço, e isso só será recuperado com crescimentos de, pelo menos, 3,56% a.a. em 2018 e 2019 (considerando a alta de 0,5% no PIB para 2017). O desejável seria que um novo presidente, com credibilidade e apoio, encontrasse maior facilidade para dar prosseguimento às ideias austeras que vinham sendo aprovadas pelo mercado, atraindo investimento e possibilitando crescimento. Por ora, resta-nos torcer por bom senso político e um atalho até a recuperação.

E-mail para cmc.ufjf@gmail.com

Luciane Faquini

Luciane Faquini

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