Relações perigosas

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr.

08/12/2015 às 07h00 - Atualizada 07/12/2015 às 18h47

A recente prisão de André Esteves, presidente e acionista majoritário do banco BTG Pactual, trouxe à baila o perigo das relações espúrias entre empresas e Governo. No anúncio da prisão, as ações do banco caírem vertiginosamente – cerca de 40% em um  único dia, algo não visto desde o caso OGX. Nos dias que se seguiram, a queda continuou, a despeitos das tentativas da empresa de acalmar o mercado. O Banco Central teve que atuar preventivamente para conter a corrida bancária aos depósitos mantidos no BTG. Esteves já se absteve da presidência do banco, a empresa já apresentou vários comunicados à imprensa dizendo que a situação corporativa é sólida, mas, ironicamente, o mercado parece ter dificuldade em “destriangularizar” o conjunto empresa-acionista majoritário-Governo. Caso semelhante ocorreu com a Alpargatas no mês passado. A empresa, dona da marca Havaianas (entre outras), embora consolidada, viu suas ações caírem 8% ao simples anúncio de que poderia ser comprada pela J&F, controladora da JBS. O motivo? JBS utiliza grandes recursos provenientes do BNDES, recursos esses que estão agora sob investigação.

Relações opacas entre empresas privadas e o Governo devem ser observadas com atenção. O professor Sérgio Lazzarini (Insper) estuda a evolução do “entrelaçamento” societário no Brasil desde 1996, início das privatizações de empresas estatais. A princípio, esperava-se que esse movimento culminasse em menor intervenção do Governo nas empresas, tornando o setor produtivo no Brasil mais dinâmico e pró-mercado. Surpreendentemente, o que se viu posteriormente foi um aumento da interferência estatal nas empresas privadas. Duas explicações são dadas para o fenômeno: houve maior concentração de proprietários e de empresas sob um mesmo grupo. Além disso, ganharam força agentes de elevada centralidade (denominados ‘conectores’), tais como BNDES e  fundos de pensão de empresas ex-estatais.

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As privatizações executadas seguiram um modelo em que o controle era vendido em bloco a poucos grupos nacionais, com estímulo à criação de consórcios envolvendo os fundos de pensão das ex-estatais, associados a empréstimos subsidiados pelo BNDES. Com isso, ao invés de arrecadar recursos privados, o Tesouro Nacional imobilizou mais recursos públicos no setor produtivo. Em troca, o Governo estendeu seus tentáculos a um número maior de empresas e grupos controladores. Em 2003, com a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores, de inclinações mais nacionalistas, a participação pública nas empresas privadas aumentou ainda mais vigorosamente. O resultado é o que se vê hoje: um setor privado à mercê da ingerência governamental. Ao pequeno investidor, o alerta: procure conhecer a fundo a empresa em que está investindo. É isso ou ficar com a conta inteira para si ao final.

Por Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli e Henrique Miranda. Email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

Luciane Faquini

Luciane Faquini

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