Esperançar em 2020!
Prefiro escrever esperanças ao invés de falar em expectativas. Desejo utilizar um termo menos mecânico e mais orgânico, humano. Porque ter esperança é muito próprio do ser humano. Expectativa me parece estar ligado a ser imparcial, a não se implicar com o que aquilo que a pessoa, de fato, deseja.
O que eu espero então para 2020? Espero continuar trabalhando com as pessoas idosas na/da minha cidade. Mesmo já aposentado, a partir do segundo semestre, vou me entregar ainda mais ao estudo da Gerontologia. E peço à Deus, que encaminhe as possibilidades existentes para a realização do que tenho visto. Entrar na docência. Na sala de aula. Me qualificar para ser um bom professor. Realizar o sonho da minha mãe, que desde pequena, queria ser professora. Dedicarei minha nova vida profissional a ela.
Somos resultados de nossas frustrações mais íntimas. De nossas motivações infantis. E penso que em qualquer tempo, a gente pode nascer para um projeto de vida há muito tempo desejado. É o que eu busco para o ano que vem. Busco também a realização de algumas metas aqui apresentadas para o tempo da minha aposentadoria. Uma delas que vou perseguir é viver mais leve. No corpo e na alma. Com menos quilo e mais energia para o alcance de comportamentos atingíveis.
Nesse intervalo de um ano que termina e um outro ano que se inicia há um apelo da sociedade para que nós paremos um pouco de tocar nossa vida, de uma forma míope, motivada pelas biometrias que nos regulam o tempo do capital para o real tempo da nossa vida. É tempo de reflexão: a vida que tenho levado tem sido gratificante e tem propósitos que me alargam como pessoa? O que eu busco é mesmo ser uma pessoa melhor. Ir ao encontro do Deus que mora em mim. É por pra fora esse Deus. Ter uma relação com as pessoas com as quais convivo, com um pouco mais de serenidade, compaixão e solidariedade. E todo período do ano, como o que estamos vivendo agora, é propício para o exercício de prospecção, de projetar nossa vida para o futuro. No futuro de nossos dias. Um dia atrás do outro. Construir um futuro sequenciado de dias vividos.
Devo dizer que em sã consciência afirmo que tenho medo do que vem por aí, na verdade, do que já está instalado em nós ou para nós. Há uma regressão instalada na promoção dos direitos sociais. Há uma diminuição intencional no tamanho do ser humano. Resistir tem sido a nossa palavra de ordem. Nesses tempos fechados e sombrios para a vida humana, sobreviver representa um grande castigo, como é envelhecer no país. A luz no fim do túnel está cada vez mais longe, distante. Que brilhe a nossa luz. Nos pequenos círculos de nossa convivência diária. Nas miudezas dos nossos gestos, atitudes e universo particular. Para 2020, desejo colocar mais gente para dentro de casa. Mais gente se sentindo gente. Mais respeito. Mais amor.
Eu não vou deixar de ter esperanças, entra ano, sai ano. Faça o vento que fizer. E digo mais, trabalho com as pessoas idosas porque tenho esperanças, porque alimento sonhos. E elas me ensinam que nas rugas da idade há espaços para o afeto, amizade, amor. E realização pessoal. Feliz 2020, caro leitor, prezada leitora.
PS. Em janeiro esse colunista não estará de férias.