A moça da ópera!

Por Jose Anisio Pitico

26/02/2021 às 07h00 - Atualizada 26/02/2021 às 07h52

O trabalho social e público desenvolvido com as pessoas idosas da cidade, me possibilita cultivar muitas memórias. E elas me aquecem o coração. São verdadeiras riquezas para minha alma. Algumas delas, eu já trouxe para cá, nesse compartilhamento semanal, de todas as sextas-feiras, nessa Coluna, com vocês prezadas leitoras e leitores. É o caso, por exemplo, de uma senhora que definiu muito bem para mim, a nossa função de servidor público municipal. Ela, ao entrar na recepção do Pró-Idoso, programa social da AMAC, um pouco perdida, desejando se orientar; quando a vi, cumprimentei-a, e ela, num impulso da fala, disse assim: você que é o “tomador de conta” daqui? Imediatamente, eu disse, sim. Lição aprendida, sob o ponto de vista da ética pública e cidadã.

Eu tive também outras aprendizagens para a minha vida em outros campos. O título dessa crônica de hoje, me leva ao registro de que algumas pessoas idosas – muito poucas – me aproximaram do gosto cultural de “curtir” obras musicais inusitadas, principalmente para os dias de hoje, que é a predileção por óperas. O gênero de músicas clássicas, eu já tinha conhecimento (pouco), e já gostava. Entrar no mundo das óperas foi uma grande novidade. E quem me apresentou esse palco foi o seu Arnaldo. Um senhor de poucos cabelos, de estatura pequena, sempre bem humorado, dono de uma grande partitura humana, de enorme sensibilidade, e claro, conhecimento e saber musical refinados. Apaixonado por óperas. Seu Arnaldo era dessas pessoas que adoravam uma prosa, uma conversa; bastava apenas que eu esticasse as orelhas para ouvir suas histórias familiares e de vida, que ele ia longe. Hoje eu imagino que ele buscou na ópera, nas vozes dos artistas, a expectativa de ouvir a sua composição de dentro.

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Como se fosse um filme, um outro personagem que me chamou a atenção e que se impõe aqui nessa lembrança é a presença do seu Antônio. De gosto clássico, não só no apetite musical, mas também no vestuário, na fala e no penteado do cabelo. O seu Antônio estava sempre muito bem arrumado, como se a qualquer hora, recebesse um convite para ir a uma ópera e já estivesse pronto para assisti-la. Diferente do seu Arnaldo que era um pouco o “patinho feio” da família, eu percebia nele uma reclamação de ser discriminado, com o seu Antônio era diferente. O gosto pela ópera estava registrado nos nomes que deu às filhas: Carmen, Aida e Valquíria. Demais, né!

Como eu disse a vocês, minha cultura musical é muito baixa, principalmente, em relação aos clássicos e óperas, que é o nosso prato principal aqui. Eu gosto muito da música feita pelas artistas e pelos artistas da nossa cidade. Só para citar um dos muitos músicos talentosos que temos na cidade, fiquei muito feliz e orgulhoso pela indicação do clarinetista e saxofonista Caetano Brasil ao Grammy Latino 2020, com o premiado álbum “Cartografias”. Conhecer esses dois senhores com suas preferências pela ópera alargou muito a minha alma. Tenho para mim que mais à frente vou apreciar ópera. Assim como adoro canto gregoriano: que coisa maravilhosa! Para a minha higiene do sono, não dar para ficar sem ouvir no YOU TUBE – Cantos Gregorianos Católicos – CD Ilumination – é muito bom! É uma sensação muito próxima da que tenho no relaxamento do final da aula de hidroginástica com o Professor Luizir da Academia Arkadyas.

A ópera assim como a chamada “música clássica”, precisam chegar a um número maior de pessoas. Penso que música – não tem idade, e é para todas as pessoas. Independentemente do tipo ou gênero musical. Eu trouxe o gosto pela ópera dos idosos que participaram do Pró-Idoso. E de alguma forma, desejei homenageá-los. E também jogar um pouco de luz nesse gênero artístico teatral dramático em que se combinam música instrumental e canto, com presença ou não de diálogo falado. Isso é a ópera. Recentemente, eu percebi que perto de mim, eu tenho uma conhecida que canta ópera. Sempre pela manhã, no começo do dia, escuto seus cantos e vozes que, por pouco, não fazem a mobília da sala sair do lugar. À princípio, achei que fosse um som artificial, mecânico. Mas, o que torna mais bonito esse instante é que a voz vem de sua alma. Viva e altamente expressiva. É a moça da ópera!

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Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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