São Lourenço, a fé e o envelhecimento

Por Jose Anisio Pitico

18/04/2019 às 18h30 - Atualizada 17/04/2019 às 21h28

Para usufruir do curto período de férias, escolhi com a esposa ir para a hospedagem na cidade mineira de São Lourenço. Diga-se de passagem, ficamos em um hotel fazenda muito bonito com muitas árvores e animais familiares, o que de imediato me levou a lembrar da casa dos meus avós em Porciúncula (RJ). Encontramos um ambiente rico em belezas naturais e, como não poderia deixar de ser, de uma forte tradição religiosa, expressa no seu artesanato e na relação com as pessoas. Ainda sob os impactos emocionais produzidos pelo “barulho” que acalma – das águas que descem velozmente em filetes da cachoeira – e tendo diante dos olhos um lago pesqueiro, onde, para lembrar meu pai, passei várias horas, me coloco em concentração para refletir sobre o momento da Semana Santa.

Só um parênteses. A cidade vizinha, Baependi, terra de Francisca de Paula de Jesus, mais conhecida como Nhá Chica, leiga religiosa, considerada beata pela Igreja Católica, já estava bem adiantada na organização para receber os visitantes. Retornando a esse pequeno relato da viagem a São Lourenço, vi também idosos no Calçadão, no centro. Lá também tem o seu!. Observei, com o olhar treinado para isso, alguns praticando atividades físicas em aparelhos fixos nas academias ao ar livre. Não foi difícil pensar que São Lourenço é uma cidade que apresenta atrações públicas favoráveis para pessoas idosas em seu cotidiano. Fica o desejo de envelhecer lá. Será?

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Se viajar é trocar a roupa da alma, como escreve o grande poeta Mário Quintana, voltamos de roupa nova. É preciso compartilhar com vocês que foi uma semana de outras vivências e, principalmente, de outra rotina. As refeições mineiramente servidas, com fartura e variedades, adiam qualquer meta de emagrecimento. E aqui, nesse quesito alimentação, desejo homenagear e reconhecer o trabalho bem humorado, eficaz e sempre disposto a agradar o hóspede, do meu querido e abençoado Pedro. Para ele, todo mundo é “meu querido e abençoado”. Não tem como não nutrir por ele, admiração e respeito. Resumindo: Ganha-se mais peso no corpo, mas, certamente, experimentamos a liberdade para ser. Trocamos a roupa da alma, poeta, principalmente, quando, nesses momentos, temos a oportunidade de encontrar outras pessoas, que, como numa metáfora poética, esperassem por nós. Foi o que aconteceu com a gente. Ficamos mais ricos com as companhias de novos vizinhos. Amigos e amigas. Sérgio e Gilda, de São Paulo, capital. Vitor e Carol, também de São Paulo, mas do interior, Bragança Paulista(ganharei, em breve, uma camisa de futebol do Bragantino, sem a marca Redbull). E Robinho e Marina, com os filhos Murilo e Luciana, da vizinha cidade de Rio Novo. No radar, uma agenda para outros encontros.

O que vivenciamos foi um contato direto com a nossa espiritualidade. Penso que tanto em São Lourenço como em outra cidade, a possibilidade de se recolher e estabelecer uma relação com o que nos dá sentido à vida, como a espiritualidade humana, é muito importante para nosso envelhecimento. Pesquisa e sérios pesquisadores demonstram que, com a passagem do tempo em nós, intensifica-se a busca pela transcendência, com a necessidade de acreditar em algo que não se vê, mas que se sente. Espiritualidade é diferente de religiosidade, no sentido de crença religiosa. Para algumas pessoas, a frequência rotineira às reuniões do ambiente religioso escolhido faz toda a diferença diante da dor e da perda de algum ente querido. Para outros, o que vale é o exercício da solidariedade demonstrado em fatos da vida ou a prática, no dia-a-dia, da caridade e da compaixão humana, independente do credo. A temática da espiritualidade é muito pertinente e importante na intervenção da geriatria e da gerontologia e que precisam, cada vez mais, de divulgação e aceitação nos meios acadêmicos e da sociedade. Nos dá orgulho saber e reconhecer o trabalho competente e dedicado do professor Dr. Alexander Moreira-Almeida, da UFJF, e toda a sua competente equipe na produção de conhecimentos científicos no campo dos transtornos mentais, saúde, mente-corpo, religião e espiritualidade. Ciência e fé cada vez mais próximas!

Estar de férias em São Lourenço nos deu a necessária renovação íntima e espiritual para a sequência de nossas rotinas, de nossos compromissos de trabalho e da retomada pública de nosso cotidiano com as pessoas que atendemos em Juiz de Fora. Um bom feriado santo a todos e a todas!

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Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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