O calor das pessoas!
Ah, como eu gostaria de acreditar que a humanidade deixou a pandemia bem melhor do que entrou! Esse é o grande sonho da minha vida. O sonho de muita gente pelo mundo afora. Mas, no fundo, sinceramente, caros leitores e leitoras, eu não acredito. As evidências da realidade do dia a dia, com tanta violência, crimes e mortes, feitos através de nossos comportamentos e decisões políticas, nos mostram que a vida humana nas nossas relações sociais não vale nada. O que vale mesmo é o interesse pessoal: quanto eu vou ganhar com isso?
Não tenho dúvida nenhuma de que será preciso uma outra leitura de como nos enxergamos. Penso também que com a reunião de várias crises que estamos vivendo, será necessário também reconstruir todo o nosso aparato civilizatório. Porque hoje temos um enorme vazio de futuro, de horizonte de civilidade entre as nações e as pessoas. O que queremos de nós, enquanto raça humana? Que projeto de sociedade humana será necessário recriar à favor da vida, de todos os seres vivos?
É preciso nascer. Numa linguagem bíblica, como nos adverte o livro do Apocalipse, “eis que faço novas, todas as coisas!” Essa é a ideia do tempo presente. Fazer tudo de novo. Acreditar que a história efetivamente não acabou. E que nós somos os autores e responsáveis pelas nossas decisões e pensamentos na direção da realização de nossos projetos existenciais e de uma outra forma de convivência social. Por isso que eu acredito tanto no ato do fazer política. Dimensão muito nobre dos atos humanos.
E para a reconstrução do nosso patrimônio humano, convido as pessoas idosas, porque acredito muito nelas, para darem a sua importante contribuição na construção de uma nova arquitetura civilizatória de nossa cidade. O que vocês, pessoas idosas, podem fazer pela cidade? “Já fiz muito e não tive retorno!” Dessa forma, um ou outro leitor ou leitora pode me responder. E na sequência, me dizer o seguinte: “o/as candidato/as só procuram a gente em época de eleição, eu tô cansado disso, chega!” Então, fique esperto, porque esse momento chegou.
Digo esperto no sentido de que você deve se organizar. Na minha opinião. Reunir seu grupo de amigos, vizinhos, colegas de trabalho e conversar com os pretendentes aos cargos públicos: prefeito/a e vereador/as. Ficar indiferente é pior. Penso que as pessoas idosas têm muito o que contribuir para a cidade dos seus sonhos, na convergência de não deixar ninguém de fora. Uma cidade que as atenda em suas necessidades básicas e suas especificidades. As eleições municipais estão colocadas. O número de pessoas idosas habilitadas ao exercício do voto está próximo de cem mil eleitores em Juiz de Fora. Essa é a grande novidade do século XXI. O mundo envelheceu – e só Carolina não viu! -, como na música do Chico. Nossa cidade também.
É muito comum, hoje em dia, a gente conhecer, começando dentro da nossa casa, uma pessoa com mais de 80 anos. Fácil, fácil. Me dirijo às pessoas idosas através dessas mal traçadas linhas para lhes dizer que não se deixem ficar à margem da participação de seu núcleo familiar. A casa é sua! E não se permitam ficar o tempo todo assistindo televisão e reclamando dos outros. Reajam. Não entreguem os pontos. Busquem realizar seus sonhos, por menores que sejam. A vida te pertence.
Não fiquem à margem também do processo municipal das eleições que vão acontecer na cidade. Não se sintam aposentado/as, no sentido mais repugnante e passivo da ideia que essa expressão traz. Afastado da vida. Como é bom para a nossa saúde, em todos os sentidos, ter o calor das pessoas. Ainda mais nesse tempo de pandemia do isolamento social. Dentro do possível, faça a sua parte. Telefone para alguém. Um amigo. Uma amiga. Um familiar. Um vizinho. Uma vizinha. Ter com quem conversar, mesmo que de longe, por enquanto; ter com que dividir sentimentos, alegrias, tristezas, conquistas e possibilidades faz muito bem para a vida da alma da gente.
Desejo compartilhar com vocês, para finalizar, uma reflexão que esse tempo de pandemia me coloca todos os dias: o que eu quero ser no novo contexto pós-pandemia? O que eu quero deixar para trás? Uma curiosidade bem trivial do meu cotidiano, para encerrar: quantos sapatos foram comprados e nunca foram usados?