Na fotografia, todo mundo fica bem!

Por Tribuna

17/01/2020 às 06h47 - Atualizada 17/01/2020 às 07h27

Há quem diga, e já ouvi essa fala de algumas pessoas da minha convivência, que o melhor lugar para se estar bem com a família é no álbum de fotografias. No retrato de família ou da família. Nesse momento, transporto-me para o belíssimo vídeo clipe, que merece ser visto por mais gente. “No retrato”, direção de Márcio Moreira, música de Luizinho Lopes (grande compositor) em parceria com o poeta Iacyr Anderson Freitas, com a interpretação perfeita de atores e atrizes do Grupo Divulgação, liderados pelo grande diretor e ator, mestre Zé Luiz Ribeiro. Esse vídeo clipe está disponibilizado em YouTube. É uma lindeza!

Se, na fotografia, todo mundo fica bem. No plano real, temos as diferenças. As idiossincrasias. Temos o modo de ser de cada um e de cada uma pessoa do núcleo doméstico. São realidades próprias de nossa convivência: qual família ou que família não tem problemas, percalços íntimos. Infortúnios ocultos, invisíveis aos olhos dos outros? Quem tem a receita ou o manual de instruções de como ser feliz? Faço essa pequena introdução para entrar no assunto sobre o cuidado diário dispensado a um familiar idoso com Doença de Alzheimer ou com outro tipo de demência. Matéria que já abordei nas crônicas iniciais nesse espaço do jornal. E que hoje retorno a ele, porque algumas pessoas, leitores e leitoras, me abordaram nas ruas, dizendo que se identificaram com o que escrevi. Na verdade, com o que eu vivo há mais de dez anos na minha rotina doméstica.

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Tenho aprendido muito da vida. É preciso ter a necessária paciência ativa para levar os dias com essa rotina de idas e vindas da alma humana, de que somos feitos. Ou que estamos em constante processo de autoconhecimento. Tenho assimilado lições cotidianas de que as águas do envelhecimento, necessariamente, não tem nada de tranquilidade e de transparência. Pelo menos na minha experiência. E por que não dizer, do meu laboratório pessoal para o exercício do meu trabalho profissional? E aqui apresento uma grande diferença que, às vezes, é mal compreendida por algumas pessoas. Uma coisa é trabalhar com as dependências e deficiências de algumas pessoas idosas que você atende na sua prática profissional. Outra realidade, completamente diferente, como no meu caso, é lidar diariamente com o meu familiar idoso dependente. O sentimento é o mesmo, a compaixão, mas o envolvimento é muito diferente.

No mundo íntimo de cada um de nós, carregamos muitas incertezas e descobertas. Nessa relação de cuidado diário, que se torna repetitivo e que traz muito sofrimento, a evolução, ou melhor a involução, a queda funcional da pessoa idosa é muito clara – o grau de dependência aumenta muito mais, na direção oposta do encolhimento da tomada de decisão sobre a sua vida. Com a progressão da doença, novas formas de cuidar são gestadas e pensadas. Falta-nos orientação de profissionais da área, recursos familiares e financeiros, proteção social pública para a sequência desse cuidado à nossa pessoa idosa, que é extremamente dinâmica tanto por fora (até demais), quanto por dentro, pelo que a gente vê e pelo que a gente não vê, mas imagina, no canto do nosso espírito que busca em Deus, o consolo e a harmonia para as dores
e alegrias que fazem o nosso coração não parar de bater.

Apresento essa questão do cuidado ao familiar idoso com demência porque precisamos falar mais desse assunto. Não estamos preparados nem para envelhecer, enquanto esfera de nossa vida pessoal, e como estamos muito distantes da realidade, de um dia, não muito longe, cuidar de nossos idosos, os de nossa casa e os de fora dela, que vivem em nossa cidade. Que fazem parte viva de nossa comunidade. Esse cuidado familiar dispensado aos nossos idosos – amanhã poderá acontecer comigo ou com você, também precisa ser revisto. Melhor distribuído entre os familiares. Mais gente de casa deve participar, porque muitas das vezes, nas melhores das intenções das outras pessoas da família, ele recai somente para poucas pessoas da casa. O cuidado precisa ser socializado. Afinal de contas, o pai ou mãe é de todos e de todas.

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