Envelhecer: o desafio nosso de todo dia!
Estamos no mês de outubro. Daqui há pouco, estaremos no final do ano. É o rio da vida que corre em nós. Desde já, religiosamente, retomo e refaço planejamentos para o futuro. Mesmo com tantas incertezas e pouca luz no caminho. Cheio de fé e de entusiasmo, sigo em frente. Na esperança teimosa de que dias melhores, virão. O melhor está por vir. Sem uma dose de utopia eu não sei viver. É um fato banal e corriqueiro, que ganha comentários vazios em espaços públicos e inóspitos a sensação de que o tempo passa depressa demais. Quando não se tem nenhum assunto interessante e comum ao grupo, alguém solta essa máxima: nossa, já estamos quase no final do ano; já, já é Natal, de novo!”.
Deixando de lado esse comentário, prezado leitor e leitora, quero dizer que no campo profissional, no trabalho cotidiano com uma fração da população idosa da cidade, minha contribuição em mais de três décadas seguidas, ininterruptas, vem chegando ao fim, na esfera pública, como assistente social que trabalha na PJF. O tempo passou também em mim, naturalmente. Como diria o grande poeta de Itabira/MG, Carlos Drummond de Andrade – que se a gente não falar dele, ficará esquecido – ” ficaram velhas todas as coisas, eu mesmo envelheci”. Na altura do campeonato, como se diz, no comentário de uma partida de futebol, algumas reflexões se impõem à minha trajetória profissional num movimento de olhar para trás. Valeu à pena? O que deixou? O que você levou? Eu tenho um projeto de vida. Eu tenho um sonho. Contribuir para o fortalecimento de uma sociedade mais justa e com melhores índices de civilidade nas relações sociais; valorização da arte e da cultura, de um modo geral; que haja solidariedade intergeracional – encontros de gerações – crianças/jovens/adultos e pessoas idosas.
Uma outra questão que me rouba as horas e que tem a ver com essa que apresentei acima, é a seguinte: ao longo desses mais de 30 anos de trabalho gerontológico na cidade, o que mudou, de fato, nas condições de vida das pessoas idosas, que eu atendo diariamente? Só para esclarecer, é claro, que esse atendimento, não é realizado somente por mim. Não. Sempre atuei em grupo, em equipe.
Quando eu comecei nesse trabalho, final dos anos 80, do século passado, a cidade de Juiz de Fora, logicamente, que tinha pessoas idosas; ou melhor, as pessoas idosas já viviam aqui. Elas sempre existiram, claro! O que elas desejavam para a cidade? A cidade pensava nelas? Essas e tantas outras buscas, eu tive a rica oportunidade de acompanhar e junto delas, das pessoas idosas, pude dar um pouco da minha militância e da minha presença em debates públicos de sensibilização das autoridades locais para o avanço de adoção de medidas direcionadas para o bem-estar da população idosa.
De fato, tivemos muitas conquistas. A criação do Pró-Idoso da Amac, em 1988. Do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, em 1994. Tive a honra de ser o primeiro presidente do conselho, em 1997. E ter a amiga Dilva, como vice. Outros equipamentos de atenção aos idosos são criados na cidade. O polo de enriquecimento cultural da UFJF. Mais recentemente, tivemos a entrada da Comissão Permanente dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara Municipal, em 2011, contando com a Câmara Sênior. Não podemos parar por aqui.
Você foi o primeiro ou um dos primeiros profissionais, que mostrou para a cidade, que as pessoas idosas merecem atenção, me disse, um dia, uma amiga, professora universitária. Acho que ela tem razão. Não fiz outra coisa senão chamar a atenção da cidade para a existência das pessoas idosas em JF. Levar para o debate público, para a cena urbana suas angústias, capacidades, sofrimentos, abandonos e carências. O mundo da falta, que está tão presente na vida dos mais velhos. Tudo isso sem falar no protagonismo dos idosos tão corrente hoje em dia no discurso dos movimentos sociais.
No salto da história, da mudança da dinâmica da sociedade, cada vez mais envelhecida, passados mais de 30 anos, sinto uma grande satisfação e orgulho por ter a matéria sobre o Dia do Idoso, na primeira página do jornal “Tribuna de Minas”, na edição do dia 2/10/19. O que representa, não só simbolicamente, mas, na realidade, a mudança da pauta da sociedade em relação à expectativa de vida das pessoas. De uma população de crianças e jovens em retração de crescimento para o aumento rápido da população idosa em nossa cidade.
Vou continuar na construção da minha carreira no campo do envelhecimento, de outras formas e com outras possibilidades. Na semeadura de afetos com fortes vínculos humanos para a criação de uma outra forma de relacionamento entre as pessoas idosas, com mais respeito, políticas públicas e envolvimento de toda a comunidade nas questões do envelhecimento das pessoas em JF. Uma demanda que é de toda a cidade.