Menos um lugar de encontro na cidade!
A cidade deve ser o lugar para o encontro das pessoas. Oferecer espaços públicos que motivem as pessoas a saírem de casa. É certo e recomendável que em tempo de pandemia, o melhor mesmo é se proteger, ficando em casa. Principalmente as pessoas idosas. Fora dessa realidade, ir à rua é saudável. Apreciar o movimento das pessoas. Me lembro que quando mais novo, ficava em casa, estudando; minha mãe ia fazer compras. Quando voltava. Eu perguntava a ela: – Mãe, como que está a cidade? Ela me respondia: – Tá uma montanheira de gente! E ela gostava porque me dizia que era bom para ver gente. E eu ficava doido para ela chegar porque eu tinha certeza, até porque ela nunca falhava, sempre trazia para mim, doces da Padaria Brasil – que existe até hoje – na Rua Marechal, no Centro. Eu gostava daquele doce que tinha uma rosinha por cima. Não sei o nome. E da “bomba” também.
Nessas memórias afetivas que o mundo da gastronomia nos possibilita, na área dos salgados, esperava ansiosamente pela coxinha da Frangolândia, que tinha na Avenida Rio Branco, perto da lanchonete Oásis. São lembranças gostosas de um passado que só existe dentro da gente. E com a passagem do tempo em nós, mais lembranças e recordações alimentam a nossa memória. Eu sou daqueles que frequentam os mesmos lugares, fiel ao atendimento e acolhimento que recebo nos estabelecimentos comerciais. É assim que ia com frequência ao mesmo salão de cabelereiro. Hoje em dia, não mais, porque resolvi por conta própria cuidar do meu visual, com pouco cabelo e barba sempre feita, não tenho ido ao Salão Solução do Geraldo, na Rua Barbosa Lima. Quando compro roupas, como camisas e calças, por exemplo, busco ser atendido na mesma loja, de preferência com o/a mesmo/a vendedor/a. Sei o nome dele. Que time torce. Tenho essa necessidade de criar cumplicidade, mesmo em ambientes puramente comerciais. No uso de transporte diário, então, parece que o motorista de aplicativo faz parte da minha família. Eu estabeleço (ou procuro ter), não tem jeito, uma relação afetiva com quem eu relaciono. Eu sinto que eu preciso disso. Preciso mesmo.
E foi assim, que nessa busca afetiva, de me relacionar com as pessoas em espaços públicos, mesmo sem ter antecedentes de qualquer intimidade com elas, que eu frequentava semanalmente o Bar du Salim. Na Rua São Sebastião, nº 711, no Centro. Acompanhado de boas amigas e amigos, praticamente todas as sextas-feiras, uma sim e a outra também, íamos para o encontro no Bar du Salim. Eu não tenho dúvida em responder porque gostava de lá. Era por causa dos donos. O casal de pessoas idosas. Seu Salim e Dona Luzia. E também porque tinha o melhor frango à passarinho da cidade. E que eu gostaria que mais pessoas conhecesse. Faço esse registro de mais uma memória que como e bebo na minha alma. Num ambiente acanhado, porém, muito familiar, dividíamos nossas histórias profissionais, desabafos, afetividades e conquistas.
O Bar du Salim, por muito tempo, recolheu de nós, esse grupo de amigas e amigos, muitas experiências, sonhos e planejamentos de nossas vidas. Fez parte de nossa pele. De nossas emoções. Como tudo um dia tem seu fim. Lamentavelmente. Uma amiga desse grupo ao passar na calçada do Bar du Salim, encontra esse comunicado. “Durante 20 anos neste ponto, nossos clientes e amigos nos ajudaram a fazer com que as noites fossem mais animadas, agradáveis e cheias de um bom papo. Foram 20 anos de muita história que hoje relembramos com orgulho e prazer. Várias amizades que ficarão para sempre nas nossas vidas e vários momentos que ficarão para sempre nas nossas memórias. Agradeço a todos os nossos clientes pela companhia e carinho investidos no período que aqui passamos. Na ocasião informamos o encerramento das nossas atividades. Nossos sinceros agradecimentos. Sr. Salim e Sra. Luzia.” Uma despedida com o tempero da cozinha da dona Luzia. Equilibrado, simples e recheado de afeto e de amor. Não deu tempo de marcar um próximo encontro para celebrar a minha aposentadoria. Comendo um maravilhoso, o melhor, frango à passarinho da cidade. E nem para tornar o Bar du Salim um bem imaterial da cidade, como outros bares. Essa orfandade me entristece, porque a cidade perde um bom lugar para o encontro de amigas e amigos. Entre outros. Infelizmente.