Ajuda profissional: quando procurar?

Por Jose Anisio Pitico

19/03/2021 às 07h02 - Atualizada 18/03/2021 às 18h15

Meu avô morreu de câncer de próstata. Não tinha, como muitas pessoas do seu tempo, preocupação com os cuidados de sua saúde pessoal. Tenho em mim o registro da mensagem ouvida no círculo familiar, de que ele só procurou o/a médico/a porque estava “nas últimas”. Exemplo típico do comportamento, ainda vigente, da maioria dos homens, diante da necessidade do autocuidado. E de que, quanto que nós, homens, negligenciamos o conhecimento de nossa jornada biológica com a passagem dos anos, a ponto de evitar o encurtamento de nossa vida e esticando um pouco mais, ou bem mais, nosso estágio aqui na terra. Meu pai também repetiu esse comportamento. Não ligava para ele mesmo (não se cuidava). Eu, não. Aprendi com eles, mudando de chave.

Regularmente vou às consultas médicas. Estou saindo do lugar para chegar ao estado desejável de saúde – com menos peso e mais disposição para enfrentar os desafios diários de estar na vida.

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Caros leitores, precisamos fazer diferente do que fez “seu Doca”, meu querido avô, dono da venda de cachaça servida no balcão, mergulhada em várias ervas do mato, que descia queimando goela abaixo. E se colocava como jogador de marimbo com os amigos.

Precisamos cuidar mais da nossa saúde. Seguir o exemplo das mulheres, das leitoras que certamente tem em suas agendas consultas médicas periódicas. A literatura consagra. De um modo geral, as mulheres cuidam mais da saúde do que os homens, o que conta na construção de diferenças do envelhecimento feminino para o masculino. Está mudando esse comportamento? Está. O estímulo social e público à saúde do homem vem ganhando território. A ponto de saber que temos programas
públicos governamentais direcionados para a atenção à saúde masculina.

Não sei se estão funcionando. Mas já ouvi falar. Diante dessas colocações acima, eu estou seguro para afirmar que homens e mulheres envelhecem de formas distintas. E essa diferença no autocuidado à saúde é muito significativa, e talvez possa até justificar, eu imagino, estou deduzindo, que possa ser um dos principais motivos porque a mulher vive mais do que os homens. E começa desde cedo. Diante da primeira menstruação da menina. Que chama a atenção para a atuação do seu corpo.

Entrando na pergunta da Coluna de hoje e buscando uma resposta. Quando procurar ajuda profissional para o meu pai, de 80 anos, por
exemplo, que tem dados sinais concretos de que alguma coisa está fora do lugar, principalmente em sua saúde mental? Uma primeira consideração que desejo compartilhar com vocês é a de que precisamos dar mais atenção às queixas e reclamações de nossos idosos em casa. Não devemos desprezá-las gratuitamente. Comportamento muito diferente, quando se trata de nossos pequenos, quando qualquer febre já nos mobiliza o comportamento para a ação, e logo logo corremos para o hospital mais próximo na busca de intervenção profissional. Por que com os nossos velhos agimos de outra forma? Ou não agimos?

A pandemia do coronavírus tem demonstrado com bastante força a gerontofobia ou o ageísmo presentes em nossas relações sociais. A ojeriza à idade. Quanto mais velho, menos valor humano, social, político, econômico. Até quando essa cultura da morte, ou essa necropolitica? Uma outra consideração que desejo fazer também é a de que toda essa indiferença pública com as pessoas idosas, reproduz também o pouco ou o desconhecido papel e importância dos profissionais da Geriatria e da Gerontologia no cuidado à saúde das pessoas idosas. O que faz um/a médico/a geriatra? O que faz um/a gerontólogo? São profissionais que intervêm para um bom envelhecimento das pessoas. Com promoção de saúde e de qualidade de vida. Quanto mais cedo acontecer a procura por esses profissionais, melhor.

Então, respondendo a questão colocada pela Coluna de hoje. Devemos procurar ajuda profissional ao percebermos mudanças repentinas e que podem ser constantes nos comportamentos, hábitos e ações corriqueiras de nossas pessoas idosas dentro de casa. O que ele fazia religiosamente e hoje deixou de fazer? O que está acontecendo com o meu pai, que parou de frequentar os grupos sociais que fazia parte? Ele está se alimentando pouco ou quase nada. Está mais quieto do que o de costume no cotidiano. Uma dica: não deixa para lá, não. Chega mais perto, com o olho no olho, pergunta para ele – pai tá acontecendo alguma coisa com o senhor? Criar/recriar intimidade é fundamental. Demostrar concretamente interesse no cuidado é essencial porque passa por cima de todas as adversidades e rusgas emocionais nesse momento. O amor nos liberta.

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Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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