Muito mais que 7 a 1

O 7 a 1 começava a ser pequeno, e o placar ia aumentando em ordem exponencial naquela partida sem fim. Algumas entidades tentaram suspender o embate, mas outras argumentavam que bola rolando era algo essencial


Por Juliana Netto

18/03/2021 às 07h02- Atualizada 18/03/2021 às 07h33

“Essa noite eu tive um sonho de sonhador. Maluco que sou, eu sonhei…”. Diferentemente da famosa canção de Raul Seixas, não sonhei que a Terra parou. Até porque ela tem se mantido estagnada há um bom tempo. Talvez, por ter ficado com uma foto do colega Leonardo Costa na cabeça, em uma noite dessas meu subconsciente foi acionado e me transportou para um sonho cujo cenário era de Copa do Mundo.

Um lugar no qual as pessoas, às pressas, deixavam seus empregos para recolherem-se aos seus aposentos. Em que muitos comerciantes baixavam as portas de seus estabelecimentos, entendendo o apelo daquela circunstância. Os pontos e os ônibus, a princípio, estavam cheios. Logo depois, no entanto, cobradores e motoristas circulavam somente na companhia de trabalhadores que não têm o luxo de pararem junto com a cidade. Hospitais e profissionais de saúde enfrentavam um cenário de paz, sossego e pouca demanda.

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Ali, naquele sonho, sozinha dentro da imagem da Rio Branco vazia, no entanto, percebi que a aglomeração das ruas se transformava em salas lotadas, terraços e coberturas regados a churrascos e bares com público barulhento, cheio de abraços, vidrado diante da TV. Tudo de forma bem escancarada.

Foto tirada pelo fotojornalista Leonardo Costa no dia 19 de março e 2020

Comecei a observar também que as camisas e os vários acessórios em verde e amarelo viraram motivo de racha. De Brasil versus alguma outra seleção, o confronto tornou-se um Fla-Flu, daqueles bem acalorados, com muita gente digladiando-se nas redes sociais enquanto o jogo seguia em uma exibição pouco animadora do nosso país.

O 7 a 1 começava a ser pequeno, e o placar ia aumentando em ordem exponencial naquela partida sem fim. Algumas entidades tentaram suspender o embate, mas outras argumentavam que bola rolando era algo essencial.

E aquele enredo foi ficando cada vez mais confuso. Cheguei até pensar que estava no Show de Truman ou em uma Matrix.

Como muitos outros sonhos que vendo tendo, não sei como esse terminou. Acordei exausta, desanimada, desmotivada para levantar e seguir a rotina quarto-sala-cozinha-área-passeio com a cachorra, sala-cozinha-área-quarto de novo. Ao conectar-me à internet, revi a foto que me fez delirar durante a noite.

E torci por um dia reviver um eufórico clima de Copa do Mundo.

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Menos aquele trágico Brasil x Alemanha.

Tópicos: coronavírus

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