“Trazemos, em nós, histórias de gerações, de ancestralidades”, afirma a escritora Luciane Fontes

Por Marisa Loures

15/03/2022 às 08h18 - Atualizada 15/03/2022 às 14h01

 

Em “Biscoitos da amizade”,  a psicóloga e escritora Luciane Fontes procura levar ao pequeno leitor uma reflexão acerca de amizade, bullying, autoestima e respeito à diversidade – Foto Divulgação

Luciane Fontes já estava acostumada a escrever para o público crescido. Até que, no final de 2020, publicou o primeiro livro voltado para as crianças. Pegou gosto pelo universo dos pequenos e, agora, repete a dose, enviando para as prateleiras a obra “Biscoitos da amizade”(28 páginas). Com ilustrações de Weder Meirelles, o livro vai ser lançado no dia 8 de abril, às 19h30, por meio de uma live transmitida pelo Instagram da Liga de escritores, ilustradores e autores de Juiz de Fora (@ligadeescritoresjf) .

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“Descobri que esse universo infantil é mágico! Na realidade, quanto mais escrevo – e já tenho mais dois livros em fase de ilustração -, mais dou voz à minha criança interior, que sempre foi reflexiva e observadora do mundo. O retorno do público infantil é maravilhoso. A criança se apropria do texto, dialoga com ele e com os personagens, construindo sua própria interpretação, produzindo novos finais”, avalia Luciane, que, na nova publicação, provoca uma reflexão a respeito de amizade entre seres humanos e entre  os animais e os homens, bullying, autoestima e respeito à diversidade.

“A amizade protege, cuida e, sobretudo, respeita os envolvidos nesse elo de amor fraternal. A menina Ayana andava ensimesmada e reflexiva sobre o tema da amizade, e seu tio lhe traz algumas histórias engraçadas e que demonstram fidelidade e entrega. Ao findar das histórias, senti que a menina tinha também uma história para contar, uma história pessoal e de superação pela ajuda da sua melhor amiga. Então, amizade é isso: Mãos de acolher/ Lábios de consolar/ Ouvidos de compreender/ Abraços de apaziguar”.

Luciane também é autora de “A lupa mágica”, “O homem sem memória”,“Paixões do ser”, “Livros na estante”, “Psicanálise versada” e “Quereres”. Além disso, conta com participação em várias antologias. É membro da LEIAJF e da Academia Juiz-forana de Letras e ainda integra a Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas e o Fórum Literário de Juiz de Fora. Na conversa abaixo, ela adianta vários detalhes a respeito de “Biscoitos da amizade”.

Marisa Loures – Existe a história que chega até o leitor, mas também existem as histórias que estão por trás das histórias contadas em um livro, e, normalmente, elas são muito curiosas. Conte-me o que está por trás de  “Biscoitos da amizade”.

Luciane Fontes – Desde que um cãozinho foi incorporado à minha família, passei a observar a relação de afeto e a me sensibilizar pelo carinho que se desenvolve entre o ser humano e os animais. Ouvimos dizer que o melhor amigo do ser humano é o cachorro, mas sabemos que todo aquele que seja cativado no amor tem potencial para tornar-se uma grande amizade.

– Em “Biscoitos da amizade”, temos um porquinho que é cheiroso; uma pata que se senta à mesa na hora do almoço; uma galinha e uma vaca que se comunicam com sua dona; um gatinho ciumento; e um cachorro supercorajoso. Histórias que contam com animais como personagens é uma boa forma de aguçar a imaginação das crianças?

Com certeza. A criança se comunica de forma muito especial com os animais. Eles se entendem com poucas palavras e um tanto de latidas, miados, cacarejos…. E histórias que têm animas como personagens sensibilizam a criança, favorecendo o processo de identificação com a temática abordada, além de instigar a imaginação e a criatividade. Incentivados a escrever ou a contar alguma história que envolva animais, em geral, surgem enredos engraçados, divertidos e cheios de aventura.

– O que você espera despertar no seu leitor mirim com essa história de amizade entre animais e seres humanos?

O desejo de cultivar mais amizades, porque são elas que nos sustentam nos momentos difíceis, nos desafios que precisamos enfrentar. Para além dos nossos interesses pessoais, precisamos enxergar o outro, com suas necessidades e anseios. Então, a amizade pede mão dupla, ida e vinda, reciprocidade. Incita-nos a sair do nosso narcisismo e a descobrir o universo que está para além de nós mesmos.

– A Ayana, sua protagonista, é negra. Sofreu bulliyng por ter cabelos crespos. O tio dela também é negro e é cadeirante. Gostaria que ressaltasse a importância de os livros, não só os que são escritos para crianças, abordarem mais histórias que incentivem o respeito à diversidade.

Não somos nada sozinhos, não somos mais do que ninguém. Trazemos, em nós, histórias de gerações, de ancestralidades. Devemos a todos os que nos antecederam o respeito por suas lutas e sobrevivências. Somos uma mísera parte no todo desse universo infinito. Buscamos no Outro (alteridade) aquilo que nos falta: pode ser amor, pode ser amizade, pode ser carinho, atenção. Trocamos conhecimento, experiência, saberes… Estamos todos aprendendo um pouco mais a cada dia, e esse aprendizado se dá nas trocas sociais, na convivência com os diferentes de nós. Essa diferença pode se apresentar no jeito de cada um ser e estar no mundo, com limitações e especificidades. Na realidade, como grupo social, ainda não conseguimos alcançar a riqueza que a diversidade de gêneros, etnias, raças ou condição física representa. Buscamos narcisicamente no outro, imagens especulares, mas esbarramos sempre nas diferenças. E são elas que nos ajudam a crescer como pessoas e como sociedade também. A literatura nos oferece a possibilidade de abordarmos temas que precisam ser falados e sobre os quais existe tabu ou preconceito. Trazer para o centro da trama personagens negros ou com deficiência é reconhecê-los como cidadãos do mundo, ao mesmo tempo em que se oferece a esse público, representatividade. Quanto maior o número de obras abordando a temática da diversidade, maior o alcance, aumentando também as chances de mudança atitudinal frente aos que, há séculos, sofrem exclusão social.

– Por falar nisso, durante a pandemia, você começou a cursar uma pós-graduação em literatura infantil e juvenil. Essa experiência na academia mudou a maneira como você enxerga a literatura infantil? Trouxe alguma transformação para a sua escrita?

O estudo sempre amplia nosso olhar, aponta novos caminhos. Nessa pós, estamos tendo contato com professores que desenvolvem projetos sociais na área literária, contadores de histórias, autores de livros infantis. Há muita troca com os pares também, através da execução de trabalhos e projetos comuns. Todo conhecimento adquirido se soma à nossa vida e, naturalmente, à nossa escrita.

– É uma preocupação sua fazer com que o livro seja acessível às pessoas com deficiência visual. Com “A lupa mágica”, por exemplo, você lançou um audiolivro.  “Biscoitos da amizade” também vai ganhar um audiolivro? Quais são seus planos para ele?

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Sim, já está sendo produzido o audiolivro que será disponibilizado no meu site. Para ajudarmos a construir uma sociedade mais inclusiva, torna-se essencial a oferta de livro acessíveis. Com o retorno das aulas presenciais, eu e alguns amigos da LEIAJF (Liga de escritores, ilustradores e autores de Juiz de Fora), pretendemos voltar às feiras literárias e a projetos literários nas escolas. Estamos todos vibrando por esse contato mais próximo com nossos leitores mirins.

“Biscoitos da amizade”

Autora: Luciane Fontes

Ilsutrador: Weder Meirelles

Lançamento: 8 de abril, às 19h30, por meio de uma live transmitida pelo Instagram da Liga de escritores, ilustradores e autores de Juiz de Fora (@ligadeescritoresjf).

 

 

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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