Com lançamento previsto para o Dia dos Namorados, antologia traz contos de amores vividos em um inverno passado
“O que aconteceu naquele inverno?” No final de 2019, cerca de 80 escritores, de várias partes do Brasil, encararam o desafio de narrar uma história de amor vivida em um inverno passado. Desse total, 36 foram selecionados para participar de uma antologia de contos, organizada pela juiz-forana Michele Valle, que é membro da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora e que também integra a lista de autores da publicação. O livro “Aconteceu naquele inverno…”, em formato e-book, vai estar disponível na Amazon e chega para os leitores no Dia dos Namorados.
É claro que não existe estação que mais combina com um bom romance, e todo mundo sempre tem uma história de amor vivida em dias frios para contar. Algumas, com finais felizes e açucarados. Outras, com desfechos trágicos, que arrancam lágrimas dos leitores. Acredito, portanto, que os escritores tiveram motivação de sobra para participar do projeto. Ocupam as páginas do livro, nomes veteranos e outros que se iniciam, agora, na arte literária: Alice Gervason, Amândia Rodrigues Mendes, Ana Paula Torquato, Anderson Cley, Bárbara Cristina Pacheco, Carlos Eduardo da Silva, Carlos Eugênio Mendes de Morais, David Clemente, Débora Leidiane, Deia Klein, Denise Doro, Deise Lima, Eduardo Marangoni Canesin, Eloina Ferreira, Emanuelle Ferruggini, Humberto Lima, J.P.L Carmo, JR Amorim, Lobo Alves, Lucas Vilela, Luciane Fontes, Maga San, Marcus Vinícius Bandeira, Marisa Timponi, Maykow de Brito, Michele Valle (também organizadora da antologia), Michelle Oliveira Valle, Paula Nóbrega, Priscilla Thevenet, Ramon Brandão, Regina Madeira, Renan Oliveira, Rosângela Rossi, Sophia Luiza Melo Carneiro, Telma Regina, Vanda Ferreira, Vanessa Nunes.
A meta, segundo a organizadora, também é incentivar e promover novos talentos. ‘Quando iniciei essa fase em minha vida, a pergunta que fiz para mim foi: “como agregar valor e ajudar outras pessoas através da escrita?’ E ser antologista é exatamente isso, dar oportunidade a todos, independentemente do nível em que cada um esteja. A antologia está linda! E o mais interessante é que o leitor poderá conhecer histórias reais e fictícias, mas todas apaixonantes, e se envolver com cada personagem, cada cenário, cada romance. O inverno é propício para o amor, e confesso que, a cada história lida, não consegui não me envolver com a narrativa. Foram tantos amores perdidos, tantas paixões que se acabaram à medida que a neve desaparecia. Mas houve amores que perpetuaram por muitas estações e ainda hoje são capazes de acender a chama do amor. Enfim, sem dúvidas é uma antologia que irá aquecer muitos corações”, garante Michele, que participa deste bate-papo comigo, ao lado de três autoras que integram a antologia.
A pedagoga Débora Leidiane Santos Travnik, já conhecida pelo trabalho de contadora de histórias que desenvolve e pelo personagem que encarna, a Rana Blue; a turismóloga Deise Lima, uma apaixonada por literatura desde a infância e que se entrega, pela primeira vez, à escrita; e a jornalista e mestra em Estética, Redes e Linguagens, pela UFJF, Michelle Oliveira Valle, uma pisciana que “acredita em amor, almas gêmeas e finais felizes”.
Marisa Loures – Débora, já ouvi falar que, como contadora de histórias para crianças, a personagem que você criou, Rana Blue, não a abandona. Desta vez, ela não está presente. Gostaria de conhecer a Rana Blue. Como é ela?
Débora Leidiane Travnik – A Rana Blue foi e é uma das minhas melhores criações, pois é verdadeira, como você bem lembrou, estamos sempre juntas. A mesma alegria que eu tenho, ela também tem, o jeito espontâneo de ser, as risadas. Tudo isso é a Rana Blue. O amor por crianças e por fazer todos sorrirem. Posso dizer que ela é a alegria em pessoa, com seu cabelo azul, seu tapete mágico de Histórias. É encantadora, é uma criança grande.
– Alguns autores alegam que não têm o controle dos seus personagens, eles têm vida própria. Não sei se é o seu caso, mas você ficou feliz com o rumo da história de amor da Madeleine e do Robert?
Débora Leidiane Travnik- Eu sou aquele tipo de pessoa que fica imaginando onde eles foram parar. Penso se eu tenho o controle dos mesmos. Nesse caso, acredito que fizeram suas escolhas, mas as escolhas dos personagens, às vezes, são as mesmas escolhas que eu tenho, como se eu me visse em cada um que escrevo, sendo assim, sou cada um deles e faço minhas escolhas. O final de Robert e Madeleine é algo que acredito estar em nossa realidade. Quando eu escrevi, me perguntei se iria ficar feliz com esse final, e descobri que sim, pois a personagem foi se descobrir, ver quem realmente era.
– Atendendo à proposta da antologia, seu texto traz um romance que aconteceu num inverno passado. Quais são os ingredientes que não poderiam ficar de fora desse conto, já que se trata de uma história de amor?
Débora Leidiane Travnik – Em relação ao meu conto, em se tratando de amor, o que não poderia faltar é a velha “loucura de amor”. Às atitudes inesperadas da juventude, aquele gosto em viver intensamente cada momento.
– Deise, esta é sua primeira experiência como escritora. O que a fez se enveredar pelos caminhos da literatura?
Deise Lima – Sempre gostei muito de ler. Desde a infância, tive incentivo com os livros dos clássicos infantis e gibis. Na adolescência, uma vizinha e amiga me emprestava seus livros, e empresta até hoje, foi uma grande incentivadora para que eu me apaixonasse pela leitura. Foram diversos os temas que li até conhecer os romances irlandeses e os policiais, da escritora Nora Robert e me apaixonar por essa mistura de adrenalina com amor. Leio outros gêneros também, afinal, toda leitura é uma viagem encantadora e não podemos desperdiçar as chances de “conhecer” novos lugares, pessoas, culturas, nem de vivenciar as grandes emoções, os conturbados desencontros do amor ou mesmo o frio no estômago com os suspenses. Seja a leitura através do livro impresso, com aquele delicioso cheiro do papel e da tinta, ou em formato digital, ela é sempre uma ótima companhia.
– E o que espera alcançar com sua escrita?
Deise Lima – Esse conto foi minha primeira experiência como escritora e por isso estou ainda no campo de querer escrever outros contos e participar de outras antologias, até mesmo para aperfeiçoar minha escrita e definir bem o meu estilo. Vou deixar essa nova paixão se desenvolver devagar e quem sabe surge um livro?
– A história que narrou no conto aconteceu com você em um desses invernos congelantes. Lara, sua personagem, estava descansando no refeitório do hotel onde trabalhava, navegava na internet quando, em sua tela, surge uma mensagem. Ela olha e, para sua surpresa, era Carlos, um ex-namorado. Os dois marcaram de se encontrar, renderam-se à paixão por duas noites. O desfecho na vida real é o mesmo do da ficção? Você se arrependeu por ter se deixado levar pelo que sentia?
Deise Lima – Na vida real, nos tornamos grandes amigos. O fato de moramos em cidades diferentes contribuiu para isso. Nós nos falamos sempre por mensagens e ligações. Sinto que, lá no fundo, está velado, em mim e nele, o amor que foi despertado com esse reencontro, mas ele precisava seguir com sua vida. Foi um erro, eu sei, ter cedido aos nossos desejos, porém nunca me arrependi de ter vivido esses dois dias que foram tão intensos. O que aconteceu foi muito além de desejo, de encontro de corpos, envolveu sentimentos, recordações, declarações e lágrimas questionando ao universo o porquê de um reencontro, se não poderíamos ficar juntos. Cheguei, sim, a desejar que o desfecho fosse outro, nos momentos de solidão e insônia nas madrugadas. Além de escrever um poema sobre a saudade, eu quis, por inúmeras vezes, que ele batesse à minha porta, de surpresa, e me dissesse que veio para ficar, mas isso nunca aconteceu. É como eu cito no início do conto: os planos do universo eram outros!
– Você é jornalista, assim como a Bia, personagem do conto que escreveu. Também divide com ela o signo: peixes. Sei que é sua primeira antologia. O que mais você e Bia têm em comum? É mais fácil escrever quando nos identificamos com a personagem?
Michelle Oliveira Valle – Eu projetei na Bia uma parte da minha vida. Na época, não via a história como eu vejo hoje. Eu e Bia somos apaixonadas e acreditamos que nada acontece por acaso. Acreditamos que o universo nos apresenta situações que precisamos viver e tirar ensinamentos. Por mais que tentemos colocar relacionamentos em uma caixinha, a vida vem e insiste em nos mostrar que o sentimento pode florescer onde nem mesmo nós esperávamos, como foi com a Bia. Cada história de amor vem para nos ensinar e mostrar que existem obstáculos, diferentemente dos contos de fadas que crescemos ouvindo, e que nem sempre teremos finais felizes ou como gostaríamos. Quando vivemos uma história e narramos a nossa percepção dos acontecimentos dessa história, torna mais fácil escrever, além de ser mais gostoso colocar uma pimentinha a mais nos fatos que a gente viveu.
– O que a fez encarar o desafio de escrever um conto sobre uma história de amor?
Michelle Oliveira Valle – Histórias de amor são motivadoras, gostosas de ler e não possuem fórmulas. Cada história é diferente. A história que vivi com o marinheiro foi fora da caixinha. Quebrei paradigmas: agi emocionalmente, motivada por amor. É uma história linda, porém tenho vergonha de contá-la, por fugir ao que a sociedade julga certo. O amor não tem explicação lógica. Tentamos fugir do que é moralmente errado, mas nem sempre conseguimos. Encarei o desafio de escrever essa história para reverberar o sentimento, reviver o passado e servir de ponte para quem precisa de um empurrãozinho para ter coragem para viver o hoje. E foi pensando assim que escrevi o conto: para deixar registrada uma gostosa história. Além de ter visto também, na oportunidade, um pontapé inicial de um projeto antigo que almejo. Eu guardo meus antigos diários e agendas e tenho vontade de ressignificá-los em forma de livro.
– E quais são os escritores que despertam em você a vontade de escrever?
Michelle Oliveira Valle – Nicholas Sparks me acompanha há anos. Suas obras têm linguagem simples, de leitura fácil e cativante. Sparks mostra em cada livro que a vida não é um conto de fadas e que tragédias podem acontecer com qualquer um de nós, e o importante é sabermos lidar com isso e tirar um aprendizado da situação. Histórias de amor que nem sempre terminam com finais felizes. Clarice Lispector também é uma referência em bons livros e com linguagem simples. Com romances, como “A hora da estrela”, em que a autora consegue escrever um romance tão poético com uma personagem fora dos padrões, tão simples, humilde e, aparentemente, sem nada a nos oferecer. Outro autora é Jojo Moyes, não apenas pela a história de amor, mas por trazer uma lição de vida sobre como, mesmo nos piores pesadelos, encontramos boas pessoas que nos ajudam a ser melhores. E temos que acreditar nisso. Gosto muito de livros de estratégias, autoajuda, desenvolvimento pessoal também, como os livros do Paulo Vieira, Dale Carnegie, T. Harv Eker. A busca por conhecimento e entendimento de como ser melhor nas diversas áreas é um fator decisivo para que todo o nosso potencial seja explorado.
– Ainda que seja um dos gêneros mais populares, infelizmente, o conto é considerado por muitos como um gênero menor. Já li entrevistas de alguns contistas lamentando o fato de que algumas editoras, inclusive, se recusam a publicá-lo. Desde que estreou, você tem publicado um conto atrás do outro. Existe uma pressão do mercado para “sufocar” esse gênero?
Michele Valle – O conto, como qualquer outra narrativa literária, precisa ser bom. Acredito que, para o mercado editorial, o importante é a publicação de boas histórias e bons temas, sejam elas em forma de romances ou contos. A narrativa breve é impactante, e, se bem desenvolvida, consegue transmitir para o leitor a mesma emoção que a de uma narrativa longa. Desde que iniciei com a linda jornada que é ser escritora, tenho trabalhado, a cada dia, para o desenvolvimento de temas que impactem na vida das pessoas de uma forma clara, livre e reflexiva. Por isso, defendo que bons trabalhos são sempre bem aceitos no mercado editorial.
– O que passa na sua cabeça, como contista, quando ouve declarações como estas de que o conto é um gênero menor?
Michelle Valle – O conto é uma narrativa menor, mas não menos impactante. Como leitora, já li bastante romances que não tiveram um bom desenvolvimento do tema proposto. Livros com mais de 400 páginas que poderiam ser resumidos em bem poucas ou até mesmo em um bom conto. O conto terá seu espaço ainda mais reconhecido quando entendermos que a escrita de uma bela história precisa de preparo, clareza, simplicidade e humildade. E não, necessariamente, de inúmeras páginas.
Sala de Leitura: Segunda-feira, na Rádio CBN Juiz de Fora (FM 91,30)
“Aconteceu naquele inverno…”
Antologia de contos
Disponível na Amazon a partir do Dia dos Namorados
Autores:
Alice Gervason, Amândia Rodrigues Mendes, Ana Paula Torquato, Anderson Cley, Bárbara Cristina Pacheco, Carlos Eduardo da Silva, Carlos Eugênio Mendes de Morais, David Clemente, Débora Leidiane, Deia Klein, Denise Doro, Deise Lima, Eduardo Marangoni Canesin, Eloina Ferreira, Emanuelle Ferruggini, Humberto Lima, J.P.L Carmo, JR Amorim, Lobo Alves, Lucas Vilela, Luciane Fontes, Maga San, Marcus Vinícius Bandeira, Marisa Timponi, Maykow de Brito, Michele Valle (também organizadora da antologia), Michelle Oliveira Valle, Paula Nóbrega, Priscilla Thevenet, Ramon Brandão, Regina Madeira, Renan Oliveira, Rosângela Rossi, Sophia Luiza Melo Carneiro, Telma Regina, Vanda Ferreira, Vanessa Nunes.