Helena Lara: “Gosto de explorar a humanidade dos personagens, seus dilemas, acertos e erros”
Ana Elise cresceu. Não é mais aquela adolescente de 17 anos que vive com o pai em Formiga, pequena cidade de Minas Gerais. Agora, ela experimenta a liberdade. Passa um tempo fora do país e reavalia as decisões que tomou no passado. Essa é a história de “Ainda é cedo – mas o tempo passa… ainda bem”, continuação de “Ainda é cedo”, da petropolitana radicada em Juiz de Fora Helena Lara. Lançado no Dia da Mulher, na Amazon, o novo livro da autora é voltado para aquelas que são aficionadas por narrativas de amor. Não quero adiantar muita coisa, mas já digo que a obra traz o texto entremeado com canções de Milton Nascimento, Marisa Monte, entre outros grandes nomes da nossa MPB, que marcam a vida dos personagens. E, desde já, estou na torcida por Ana Elise e Eduardo.
“O primeiro público dos meus romances sou eu mesma. Escrevo para me agradar, para depois poder voltar a reler histórias que me despertam muitas emoções. Em segundo lugar, são as mulheres que gostam de uma boa história de amor, num mundo muito próximo da nossa realidade, mas totalmente cordial e civilizado, sem violências, que é o mundo onde gostaria que todos nós habitássemos. Acho que essa é a escolha menos real que faço para os meus livros, a de não envolver as dificuldades que a hostilidade do mundo nos apresenta. No mais, gosto de explorar a humanidade dos personagens, seus dilemas, acertos e erros. Mas, num certo ponto, também penso nas outras leitoras dos meus livros, pois tenho a intenção de fazer da leitura um prazer e, quem sabe, com alegria, ser a responsável por despertar esse hábito em algumas pessoas. Também me empenho em usar uma gama de vocabulário que não seja tão rasteira e que contribua, ao menos um pouco, para ampliar o vocabulário das leitoras”, conta a escritora, que é graduada em Línguas, pela Universidade de Uberaba, e atua como professora de inglês há mais de 30 anos.
Helena também é autora do romance “Fé no que virá” e dos infantis, publicados em edição bilíngue “Uma pessoa especial – A special person” e “De frutinha a fruteira”. E quem quiser ficar por dentro das dicas de livros, filmes, decoração e muito mais que ela nos dá, pode acompanhá-la em helenamslara.blogspot.com.
“No início, não gostava muito de ler. Achava chato e odiava o fato de ter que ler algo que eu não tinha escolhido. Aliás, abrindo um parêntese, acho valoroso que as escolas proponham atividades assim, um meio de iniciar a vida de muitos leitores, porém creio que abrir um pouco mais o leque, para que os próprios alunos possam escolher o tipo de livro que querem ler, pode auxiliar numa adesão maior por parte dos iniciantes no mundo dos livros.”
Marisa Loures – Como começou sua história com a literatura?
– Bem, creio que minha história com a literatura tenha se iniciado mesmo um pouco antes ou no início da minha adolescência. Eu me recordo que éramos obrigados a ler alguns livros para fazer tarefas que valiam pontos na escola e daí é que comecei a ter mais contato com os livros. No início, não gostava muito de ler. Achava chato e odiava o fato de ter que ler algo que eu não tinha escolhido. Aliás, abrindo um parêntese, acho valoroso que as escolas proponham atividades assim, um meio de iniciar a vida de muitos leitores, porém creio que abrir um pouco mais o leque, para que os próprios alunos possam escolher o tipo de livro que querem ler, pode auxiliar numa adesão maior por parte dos iniciantes no mundo dos livros. Então, nessa época da escola, alguns dos livros propostos sequer terminei de ler por não terem me interessado nem um pouco. No entanto, um deles foi de primordial importância para que eu começasse a valorizar a leitura como forma de entretenimento: “O Mistério do 5 estrelas”, de Marcos Rey. Ele me envolveu de uma maneira que ainda me recordo com carinho hoje em dia. Daí, minha vontade foi crescente de vencer a preguiça de ler, muito comum entre os alunos da minha época de escola, e me disciplinar buscando mais leituras. Com o passar de alguns anos, o hábito e o prazer na leitura foram se consolidando e continuam crescentes, trazendo a sensação de viajar para os muitos mundos em que mergulho nas diversas histórias lidas. A literatura se tornou uma fiel companheira da qual não pretendo me afastar!
– Seus alunos, de certa forma, influenciam-na ao escolher um livro para ler ou uma história para contar?
– Atualmente meus alunos mais jovens têm 13 anos de idade e, na maioria, são adultos. Tenho a alegria de ensinar pessoas que querem de verdade aprender o inglês, o que facilita e traz muita satisfação ao meu trabalho, que é uma verdadeira higiene mental para mim. Tenho praticado essa atividade por mais de 30 anos, então é comum que nesse contato com os alunos troquemos ideias sobre leituras que fizemos e queremos fazer. Quanto à influência nas histórias que já contei e ainda quero contar, creio que, de uma forma ou de outra, eu seja inspirada pelos relacionamentos que tenho com as pessoas em geral, nos vários âmbitos de convívio, não apenas no relacionamento professora-alunos, pois tudo que produzimos vem do conhecimento e interação de mundo que travamos em nossas experiências e trocas.
– Como foi o processo de construção desse romance?
– Bem, foi uma história dividida em duas fases, separadas por alguns anos. O primeiro livro, comecei a escrever quando tinha cerca de 19 anos de idade, mas só escrevi o equivalente a umas 8 ou 10 páginas do formato atual. Depois disso, fiz algumas tentativas de retomar, que não renderam quase nada para o processo. No ano de 2014, depois de assistir a uma palestra, que me tocou profundamente, na semana cultural da escola dos meus filhos, resolvi que retomaria o projeto, dessa vez para terminar, e iniciei a escrita ainda por aqueles dias de setembro, dando um rumo que não tinha imaginado, anos antes, e com o surgimento de um dos personagens mais importantes da trama. Terminei a história em menos de três meses e autopubliquei o livro em abril do ano seguinte. A minha intenção era fazer um livro só, com a história, porém achei que estava ficando muito longa e, como faltava muito para contar o que eu pretendia, decidi que somente em um segundo momento eu finalizaria a narrativa. A sequência também foi custosa. Nos meses que seguiram o lançamento do primeiro livro, tentei prosseguir a história e avancei em cerca de uns 35% dela, porém não sentia vontade de escrever, então resolvi deixá-la de lado, após algumas tentativas de retomada, e esperar que pudesse fazê-lo com o devido prazer. Daí, em dezembro do ano passado, conversando com uma moça que havia se mudado para um apartamento para morar sozinha, tive uma nova ideia e a vontade de voltar a produzir a história, usando uma abordagem temporal um pouco diferente. Terminei de escrever o que faltava desse livro em menos de três semanas e o lancei no domingo, Dia da Mulher, no site da Amazon, onde também tenho mais três livros à venda, além desse lançamento.
– O livro traz canções de cantores, como Milton Nascimento e Marisa Monte, que embalam a história dos personagens. São músicas que, na verdade, marcaram a vida da autora? O que mais há de semelhança entre a Ana Elise e você?
– Sim, com certeza! São canções que fizeram parte da minha vida na minha juventude e me seguem até hoje. Principalmente, as canções de Beto Guedes e algumas de Milton Nascimento. Outras músicas de que também gosto estão presentes por retratar bem o estado de espírito dos personagens em algumas passagens. As semelhanças entre mim e Ana Elise são múltiplas. Entre elas, o interesse pelos estudos, pelo mundo das artes, e pelas cavalgadas. Porém, esse último só durou para mim nos anos da adolescência. Seguramente, os outros personagens também têm algo de mim, aqui ou ali.
– Boa parte da história se passa na década de 1990, finalizando em 2012. Algum motivo especial para essa escolha temporal?
– Sim. No início eu tencionava que a história trouxesse bastante sobre as circunstâncias políticas no Brasil, principalmente para retratar a época da volta ao regime democrático e o ‘impeachment’ de Fernando Collor. Com o passar dos anos, esse foco deixou de ser importante para mim, mas ele aparece como pano de fundo fazendo ligação com a realidade e a vida daquela época. O restante da passagem de tempo apenas atendeu aos objetivos da história que eu queria contar.
– Nesse segundo livro, o tempo passa, Ana Elise já não é mais aquela menininha de 17 anos que morava em Formiga com o pai e que estava terminando o segundo grau. Ela cresceu, mora fora do país, experimenta a liberdade. Para o leitor que se apaixonou por ela no primeiro livro, a Elise continua a mesma? O que sobrou do passado?
– Ela continua a mesma tanto quanto todos nós, em geral, continuamos os mesmos com o passar dos anos. Nossa essência não costuma mudar muito. No caso dela, ficaram as boas lembranças, os amigos da adolescência, a paixão pelo mundo da arte e, principalmente, o apreço pela liberdade de escolha e decisão, traços muito marcantes de sua personalidade.
– Aliás, você é daquele tipo de escritora que se apega aos personagens que cria? Acha que a vida da Elise e do Eduardo pode render outros desdobramentos?
– Seguramente me apego. Eles passaram a coabitar dentro de mim e falo deles com muito carinho. E sobre a criação dos mesmos, é muito interessante perceber, ao escrever, que eles têm uma essência própria que vai se mostrando a cada linha que se desenrola. É como se eu estivesse em uma viagem de carro, por um lugar que eu não conhecia, que a cada curva me mostra uma nova paisagem e um caminho que vai se construindo, quase que com vida própria. Acredito que qualquer história possa ser continuada, mas no caso dessa sinto que concluí o que eu queria.
“Espero alcançar a emoção das pessoas a ponto de elas sentirem como se os personagens fossem seus amigos, seus vizinhos ou alguém bem factível. Fazer com que sintam amor, ódio, simpatia, confiança e tudo mais que os personagens possam despertar.”
– O que espera alcançar com sua escrita?
– Alcançar mais leitoras, seria maravilhoso! Mas, o fato é que, o que eu esperava alcançar já alcancei e pretendo continuar alcançando sempre que tiver vontade e prazer em escrever uma nova história. Espero alcançar a emoção das pessoas a ponto de elas sentirem como se os personagens fossem seus amigos, seus vizinhos ou alguém bem factível. Fazer com que sintam amor, ódio, simpatia, confiança e tudo mais que os personagens possam despertar. Espero continuar me divertindo tanto como tenho me divertido até hoje ao produzir os livros.
Sala de Leitura – Todo sábado, às 10h15, na Rádio CBN Juiz de Fora (FM 91,3).
“Ainda é cedo”
Autora: Helena Lara
318 páginas
Disponível na Amazon.
“Ainda é cedo – mas o tempo passa… ainda bem”
Autora: Helena Lara
177 páginas
Disponível na Amazon.