Juliana James aborda o empoderamento feminino em novo livro infantil

Por Marisa Loures

11/09/2018 às 07h00 - Atualizada 10/09/2018 às 22h38

Em “Céu de outono”, Juliana conta a história de Raquel, uma garota que questiona a diferença de oportunidades entre meninos e meninas – Foto Divulgação

Impossível dizer, hoje, que empoderamento feminino não deve ser discutido com crianças. Nos últimos tempos, multiplicam-se os livros que falam sobre o assunto, e a autora de Juiz de Fora Juliana James resolveu, também, conversar com a meninada sobre a temática. “Céu de outono”, parceria entre Juliana e a ilustradora Márcia Evaristo, será lançado dia 15 de setembro, às 11h, no Sesc (Av. Barão do Rio Branco 3090 – Centro). Quem passar por lá, vai poder conferir a exposição dos desenhos criados para a obra usando a técnica de fotocolagem, além de outros trabalhos de Márcia.

Na publicação, a dupla dá vida e cor à história de Raquel, uma garota que vive em uma época em que as mulheres não podiam votar. Curiosa, ela aprendia tudo muito rápido e não ficava nada contente com as diferenças de oportunidades entre meninos e meninas. Apaixonada pelo verde e azul, aguardava com ansiedade o dia em que ganharia um trenzinho de presente, mas sempre e sempre recebia bonecas, panelinhas e acessórios cor-de-rosa. Por que “as leis do mundo limitavam o sexo feminino de fazer diversas coisas”? Ela buscava respostas, e não se satisfazia com as que lhe davam. “O livro aborda a luta das mulheres através dos tempos e encoraja meninos e meninas a buscarem sempre o conhecimento e liberdade para todos”, conta Juliana.

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Produtora cultural e professora de teatro, Juliana já acumula experiência com a garotada. Ela também é autora de outros seis títulos voltados para esse público, entre os quais estão “Qual a cor da sua vida?”, “Sobre as coisas que a gente vê” e “Ser diferente é legal”. Na conversa de hoje, vamos conhecer um pouco mais do universo dessa menina chamada Raquel.

Marisa Loures – Quem é o leitor de “Céu de outono”?
Juliana James – Já estou contando essa história por aí. Tive a oportunidade de contá-la através do projeto Sesc Costurando Vidas, só para mulheres adultas e da terceira idade, e o livro abriu uma discussão muito interessante. Contei para as turmas do PHE (Projeto de Habilidades Específicas), do Sesc, que tem crianças de 6 a 12 anos. Penso que não tem um limite de idade para ler o livro, mas esse é o público-alvo. Meninos e meninas a partir de 6 anos.

– Normalmente, suas histórias são inspiradas em alguém da vida real. A Raquel existe de verdade?
Como em todas as histórias, meus personagens carregam os nomes de pessoas muito queridas. Mas essa Raquel mora mesmo na minha imaginação, ela carrega o nome de uma grande amiga, assim como Ângela e Cadija (outras personagens da história). Acredito que todas temos uma Raquel dentro de nós, uma criança inquieta, que tem muita vontade de aprender e descobrir coisas novas.

“É na infância que se ensina a diferença entre meninos e meninas, essa coisa de azul ser pra menino, rosa pra menina. Menino é força, e menina, fragilidade. Isso não é ensinado pensando na infância e, sim, no lugar que eles vão ocupar na sociedade no futuro. Essas imposições limitam o crescimento de meninos e meninas.”

– Por que abordar o empoderamento feminino com as crianças?
A história do empoderamento feminino é muito antiga. Empoderar uma mulher engloba tudo o que qualquer pessoa pode fazer para fortalecer o, outrora, sexo frágil e para desenvolver a igualdade de gênero. É na infância que se ensina a diferença entre meninos e meninas, essa coisa de azul ser pra menino, rosa pra menina. Menino é força, e menina, fragilidade. Isso não é ensinado pensando na infância e, sim, no lugar que eles vão ocupar na sociedade no futuro. Essas imposições limitam o crescimento de meninos e meninas. As mulheres do passado sofreram muito e ainda hoje vivemos o reflexo dessa história. Desejo, verdadeiramente, que meninas e meninos possam ser como a Raquel: o que eles quiserem, que busquem sempre conhecimento, que possam sonhar e realizar.

“Gostaria que meu filho crescesse numa sociedade justa, onde meninos e meninas tivessem liberdade de escolha, liberdade para pensar e questionar. Escrevo sobre o que gosto de falar, sobre o que acredito.”

– A discussão sobre o estereótipo de gênero em livros infantojuvenis é polêmica. Critica-se que os livros voltados para crianças são, muitas das vezes, sexistas. Sua intenção é contribuir de alguma forma para acabar com a desigualdade de gênero?
Se alguém achar que esse livro poderá ajudar, ficarei muito feliz. Sou mulher. Tenho um menino de 7 anos, e, abordar temas assim, muito me interessa. Gostaria que meu filho crescesse numa sociedade justa, onde meninos e meninas tivessem liberdade de escolha, liberdade para pensar e questionar. Escrevo sobre o que gosto de falar, sobre o que acredito. Não me importo sobre assunto polêmico, penso que é um assunto que deve é ser falado. Ainda mais em tempos onde o preconceito é visto das mais variadas formas em todas as camadas da sociedade.

– Sua história se passa em outro tempo, uma época em que as mulheres ainda não podiam votar. Qual a importância desse retorno ao passado para a sua história? Por que não retratá-la hoje?
Pensei que, voltando ao passado e revelando certas coisas às crianças através de Raquel, elas pudessem pensar e conversar sobre o assunto. Ter curiosidade de saber mais e compreender que muitas coisas mudaram e melhoraram, mas nossa sociedade ainda está impregnada por ideais machistas e misóginos. Isso é muito triste e é aprendido.

– Você tem lançado livros em um intervalo curto de tempo. “Ser diferente é legal” chegou aos leitores em fevereiro deste ano. O que tem te instigado nessa empreitada?
O mais difícil foi o primeiro. Encontrar uma editora, ter coragem de mostrar minhas histórias. Com as aulas de teatro, acabo escrevendo muito mais do que o que é visto, e, talvez por isso, publicações tenham vindo mais rápido. Tenho oportunidade de todos os dias conversar com pessoas de várias idades, classes sociais distintas e ouvir suas histórias. Trabalhar com pessoas é algo realmente inspirador.

– Quais outros títulos que tratam do empoderamento feminino com crianças você nos indica?
Quando contei para uma amiga (Michele Ramos) que queria escrever uma história com esse tema, ela me indicou alguns livros que adorei e passo a indicação para frente: “O poder das garotas” (várias autoras), “Para educar crianças feministas” (Chimamanda Ngozi Adichie) e “Breve história do feminismo do Brasil” (Maria Amélia de Almeida Teles).

Sala de Leitura: Quinta-feira, às 9h40, na Rádio CBN Juiz de Fora (AM 1010).

“Céu de outono”

Lançamento: 15 de setembro, às 11h, no Sesc (Av. Barão do Rio Branco 3090 – Centro).

 

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Trecho de “Céu de outono”

Por Juliana James

“Nas páginas deste livro, palavras formarão frases
com pontos, vírgulas, muitas reticências e
exclamações que irão tecer no papel a história de
uma menina chamada Raquel.
Era um outro tempo que não o agora. Ainda assim: tempos
difíceis! O mundo estava, como sempre, em constante
transformação. Havia por toda parte, como ainda existe
hoje, muito preconceito e injustiças por todo globo terrestre.
Mas num canto do planeta, rodeada de amor, nascia a nossa
personagem… Sol, chuva e um lindo arco-íris cortava o céu
até fincar suas cores numa linda montanha de grama fofinha!
A casa de Raquel ficava logo ali, num pequeno vilarejo
rodeado de muito verde com vista para o mar, em um lugar
quase secreto.”

 

 

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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