Juliana James aborda o empoderamento feminino em novo livro infantil
Impossível dizer, hoje, que empoderamento feminino não deve ser discutido com crianças. Nos últimos tempos, multiplicam-se os livros que falam sobre o assunto, e a autora de Juiz de Fora Juliana James resolveu, também, conversar com a meninada sobre a temática. “Céu de outono”, parceria entre Juliana e a ilustradora Márcia Evaristo, será lançado dia 15 de setembro, às 11h, no Sesc (Av. Barão do Rio Branco 3090 – Centro). Quem passar por lá, vai poder conferir a exposição dos desenhos criados para a obra usando a técnica de fotocolagem, além de outros trabalhos de Márcia.
Na publicação, a dupla dá vida e cor à história de Raquel, uma garota que vive em uma época em que as mulheres não podiam votar. Curiosa, ela aprendia tudo muito rápido e não ficava nada contente com as diferenças de oportunidades entre meninos e meninas. Apaixonada pelo verde e azul, aguardava com ansiedade o dia em que ganharia um trenzinho de presente, mas sempre e sempre recebia bonecas, panelinhas e acessórios cor-de-rosa. Por que “as leis do mundo limitavam o sexo feminino de fazer diversas coisas”? Ela buscava respostas, e não se satisfazia com as que lhe davam. “O livro aborda a luta das mulheres através dos tempos e encoraja meninos e meninas a buscarem sempre o conhecimento e liberdade para todos”, conta Juliana.
Produtora cultural e professora de teatro, Juliana já acumula experiência com a garotada. Ela também é autora de outros seis títulos voltados para esse público, entre os quais estão “Qual a cor da sua vida?”, “Sobre as coisas que a gente vê” e “Ser diferente é legal”. Na conversa de hoje, vamos conhecer um pouco mais do universo dessa menina chamada Raquel.
Marisa Loures – Quem é o leitor de “Céu de outono”?
Juliana James – Já estou contando essa história por aí. Tive a oportunidade de contá-la através do projeto Sesc Costurando Vidas, só para mulheres adultas e da terceira idade, e o livro abriu uma discussão muito interessante. Contei para as turmas do PHE (Projeto de Habilidades Específicas), do Sesc, que tem crianças de 6 a 12 anos. Penso que não tem um limite de idade para ler o livro, mas esse é o público-alvo. Meninos e meninas a partir de 6 anos.
– Normalmente, suas histórias são inspiradas em alguém da vida real. A Raquel existe de verdade?
– Como em todas as histórias, meus personagens carregam os nomes de pessoas muito queridas. Mas essa Raquel mora mesmo na minha imaginação, ela carrega o nome de uma grande amiga, assim como Ângela e Cadija (outras personagens da história). Acredito que todas temos uma Raquel dentro de nós, uma criança inquieta, que tem muita vontade de aprender e descobrir coisas novas.
“É na infância que se ensina a diferença entre meninos e meninas, essa coisa de azul ser pra menino, rosa pra menina. Menino é força, e menina, fragilidade. Isso não é ensinado pensando na infância e, sim, no lugar que eles vão ocupar na sociedade no futuro. Essas imposições limitam o crescimento de meninos e meninas.”
– Por que abordar o empoderamento feminino com as crianças?
A história do empoderamento feminino é muito antiga. Empoderar uma mulher engloba tudo o que qualquer pessoa pode fazer para fortalecer o, outrora, sexo frágil e para desenvolver a igualdade de gênero. É na infância que se ensina a diferença entre meninos e meninas, essa coisa de azul ser pra menino, rosa pra menina. Menino é força, e menina, fragilidade. Isso não é ensinado pensando na infância e, sim, no lugar que eles vão ocupar na sociedade no futuro. Essas imposições limitam o crescimento de meninos e meninas. As mulheres do passado sofreram muito e ainda hoje vivemos o reflexo dessa história. Desejo, verdadeiramente, que meninas e meninos possam ser como a Raquel: o que eles quiserem, que busquem sempre conhecimento, que possam sonhar e realizar.
“Gostaria que meu filho crescesse numa sociedade justa, onde meninos e meninas tivessem liberdade de escolha, liberdade para pensar e questionar. Escrevo sobre o que gosto de falar, sobre o que acredito.”
– A discussão sobre o estereótipo de gênero em livros infantojuvenis é polêmica. Critica-se que os livros voltados para crianças são, muitas das vezes, sexistas. Sua intenção é contribuir de alguma forma para acabar com a desigualdade de gênero?
– Se alguém achar que esse livro poderá ajudar, ficarei muito feliz. Sou mulher. Tenho um menino de 7 anos, e, abordar temas assim, muito me interessa. Gostaria que meu filho crescesse numa sociedade justa, onde meninos e meninas tivessem liberdade de escolha, liberdade para pensar e questionar. Escrevo sobre o que gosto de falar, sobre o que acredito. Não me importo sobre assunto polêmico, penso que é um assunto que deve é ser falado. Ainda mais em tempos onde o preconceito é visto das mais variadas formas em todas as camadas da sociedade.
– Sua história se passa em outro tempo, uma época em que as mulheres ainda não podiam votar. Qual a importância desse retorno ao passado para a sua história? Por que não retratá-la hoje?
– Pensei que, voltando ao passado e revelando certas coisas às crianças através de Raquel, elas pudessem pensar e conversar sobre o assunto. Ter curiosidade de saber mais e compreender que muitas coisas mudaram e melhoraram, mas nossa sociedade ainda está impregnada por ideais machistas e misóginos. Isso é muito triste e é aprendido.
– Você tem lançado livros em um intervalo curto de tempo. “Ser diferente é legal” chegou aos leitores em fevereiro deste ano. O que tem te instigado nessa empreitada?
– O mais difícil foi o primeiro. Encontrar uma editora, ter coragem de mostrar minhas histórias. Com as aulas de teatro, acabo escrevendo muito mais do que o que é visto, e, talvez por isso, publicações tenham vindo mais rápido. Tenho oportunidade de todos os dias conversar com pessoas de várias idades, classes sociais distintas e ouvir suas histórias. Trabalhar com pessoas é algo realmente inspirador.
– Quais outros títulos que tratam do empoderamento feminino com crianças você nos indica?
– Quando contei para uma amiga (Michele Ramos) que queria escrever uma história com esse tema, ela me indicou alguns livros que adorei e passo a indicação para frente: “O poder das garotas” (várias autoras), “Para educar crianças feministas” (Chimamanda Ngozi Adichie) e “Breve história do feminismo do Brasil” (Maria Amélia de Almeida Teles).
Sala de Leitura: Quinta-feira, às 9h40, na Rádio CBN Juiz de Fora (AM 1010).
“Céu de outono”
Lançamento: 15 de setembro, às 11h, no Sesc (Av. Barão do Rio Branco 3090 – Centro).
Trecho de “Céu de outono”
Por Juliana James
“Nas páginas deste livro, palavras formarão frases
com pontos, vírgulas, muitas reticências e
exclamações que irão tecer no papel a história de
uma menina chamada Raquel.
Era um outro tempo que não o agora. Ainda assim: tempos
difíceis! O mundo estava, como sempre, em constante
transformação. Havia por toda parte, como ainda existe
hoje, muito preconceito e injustiças por todo globo terrestre.
Mas num canto do planeta, rodeada de amor, nascia a nossa
personagem… Sol, chuva e um lindo arco-íris cortava o céu
até fincar suas cores numa linda montanha de grama fofinha!
A casa de Raquel ficava logo ali, num pequeno vilarejo
rodeado de muito verde com vista para o mar, em um lugar
quase secreto.”