Juiz de Fora: a cidade mineira de espírito vanguardista


Por Cristiano Gomes Casagrande, Professor da Faculdade de Engenharia da UFJF

31/05/2022 às 07h00

Manchester Mineira, Princesa de Minas, Farol da América. Juiz de Fora, conhecida por esses e outros títulos, completa 172 anos. Cada uma dessas denominações, à sua maneira, ressalta o espírito vanguardista da cidade, que permanece intrínseco ao imaginário do juiz-forano. O apelido de Manchester Mineira surgiu pela notável presença de fábricas e suas chaminés entre o final do século XIX e início do século XX, o que marcava em nossa paisagem urbana uma semelhança com a cidade inglesa. Já o título de Farol da América origina-se do fato de que, aqui em Juiz de Fora, foi construída a primeira usina hidrelétrica de grande porte da América do Sul, a Usina Hidrelétrica de Marmelos, em 1889. A usina foi empreendida por Bernardo Mascarenhas para alimentar sua companhia têxtil, e o excedente da eletricidade era destinado à iluminação das vias públicas.

O pioneirismo não para por aí. Juiz de Fora era uma das cidades mais industrializadas do Brasil no início do século XX, com uma arquitetura moderna, de forte influência europeia, bem diferente de outras cidades mineiras. Além disso, o município já possuía uma vida cultural intensa, contando com o primeiro teatro arrojado de Minas, com cinema, inclusive – o Cine-Theatro Central; além do primeiro museu do estado, o Museu Mariano Procópio, que tem um dos mais importantes acervos do período imperial brasileiro.

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O cidadão juiz-forano orgulha-se em falar do pioneirismo da cidade nos mais diversos campos. Além do que já foi mencionado, por aqui surgiu a primeira escola de samba fora do Rio de Janeiro, uma das primeiras emissoras de TV, o estádio de futebol mais moderno na época, o Estádio do Sport, e por aí vai. Talvez alguma coisa ou outra seja exagero dos mais entusiasmados, lendas que se tornaram parte do imaginário coletivo, o que, no entanto, só reforça a identidade de vanguarda da cidade.

Muitas dessas histórias permanecem vivas e se realimentam nos locais que ainda hoje existem e podemos visitar em um passeio pelas ruas da cidade. Podemos sentir o espírito da identidade juiz-forana no Calçadão da Rua Halfeld, na arquitetura de alguns prédios históricos, como os prédios da Prefeitura e da Câmara Municipal, exemplares da influência europeia na arquitetura da cidade no início do século XX, além do Cine-Theatro Central, do edifício do Banco de Crédito Real e do conjunto arquitetônico da Praça da Estação. O complexo do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, onde funcionava a antiga Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, é mais um registro histórico desse espírito de modernidade, além da própria Usina Hidrelétrica de Marmelos, que funciona até hoje.

As muitas galerias do Centro da cidade, conectando diversas ruas, também conferem um ambiente peculiar a Juiz de Fora, formando um shopping a céu aberto. A elegante Galeria Pio X, primeira a ser construída, foi inaugurada em 1925, quando só existia uma galeria desse tipo no Brasil, a Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Mais um pioneirismo.

Juiz de Fora carrega consigo a identidade do espírito pioneiro e da singularidade. Para o juiz-forano, o torresmo do Bar do Bigode é o melhor do Brasil, a pizza de queijo do Bar do Futrica você não vai encontrar em lugar nenhum do mundo, o bolo de glacê da Fábrica de Doces Brasil é incomparável, os cafés ao lado do Cine-Theatro Central lembram Paris, e as galerias e calçadões do Centro se assemelham a Buenos Aires. Parabéns a Juiz de Fora pelos 172 anos de muita História, com seu ar de vanguarda único entre as cidades mineiras.

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