Ainda bem que não é comigo… será?


Por Leonardo Parma, colaborador

30/09/2020 às 06h58- Atualizada 30/09/2020 às 07h57

A maioria de nós está metralhando o ano de 2020, como se ele fosse um vilão que merecesse ser derrotado ao final da trama. Logicamente, em grande parte, trata-se de anedotas, visto que não podemos culpar uma marcação cronológica pelas tragédias atuais – e, de fato, uma quantidade considerável de eventos se espremeu num curto espaço de tempo. Outrossim, o calendário é inocente nessa…

Na verdade, se considerarmos apenas os últimos 20 anos, ou seja, do início do século XXI até a presente data, a quantidade de eventos de grande impacto é assustadora: ataques terroristas em 11 de setembro de 2001 (três mil mortes); tsunami na Indonésia em 2004 (300 mil mortes); furacão Katrina em 2005 (quase duas mil mortes); crise econômica de 2008; pandemia de H1N1 em 2009 (284 mil mortes); terremoto no Haiti em 2010 (300 mil mortos); terremoto e tsunami no Japão em 2011 (16 mil mortes); guerra do Afeganistão (2001); guerra do Iraque (2003); guerra da Síria (2011); fortes ondas de calor na Europa; enchentes e inundações cada vez mais intensas (quem se recorda dos deslizamentos na região serrana do Rio em 2011, com 917 mortes?); ataques terroristas em França, Espanha, Oriente Médio, Índia, África, Brasil, etc.; pandemia de Covid-19 (em curso); e, por último, a megaexplosão na zona portuária de Beirute, no Líbano, com centenas de mortos e milhares de feridos até o momento.

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Catástrofes como essas infelizmente continuarão a ocorrer, e, se considerarmos a linha do tempo histórica, com frequência cada vez maior em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Não há o que fazer para deter furacões, terremotos e tsunamis (desastres naturais), e, mesmo nos eventos em que o homem possui condições para fazê-lo, parece não se importar em encontrar o antídoto.

Então, o que quero trazer à reflexão é o seguinte: será que a recorrência de eventos dessa estirpe tem cauterizado a nossa consciência e nos deixado indiferentes às tragédias humanitárias subsequentes? Será que, ao lermos ou ouvirmos as notícias, nosso pensamento (consciente ou não) é: “Ainda bem que não é comigo?”. É certo que, na maioria dos casos, não temos condições de contribuir com alguma ajuda efetiva, mas há de se refletir sobre o nível de compaixão que temos demonstrado diante dessas ocorrências. Para alguns de nós, essa reflexão só ocorre quando uma tragédia nos atinge diretamente (ou nem isso).

Certamente, as coisas seriam bem piores se não existissem pessoas que demonstram compaixão consciente e prática. Em algum momento, pode ser que tenhamos a oportunidade de sermos resposta em algum evento que demande ação efetiva, e não há nada mais realizador que ajudar o próximo em situações onde tudo o que se precisa é de uma mão estendida. Então, que possamos lutar contra a indiferença que nossa alma tende a demonstrar diante da recorrência de flagelos que causam dor e sofrimento aos nossos semelhantes.

 

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