Doctor Angelicus


Por Luís Eugênio Sanábio e Souza Escritor

30/06/2020 às 06h37

Nestes tempos difíceis em que uma enfermidade universal desperta tantas reflexões, parece-me interessante recordar a vida e a obra dos grandes pensadores da humanidade.

Denominado “Doctor Angelicus” = “o Doutor Angélico”, Santo Tomás de Aquino é proposto pela Igreja como o grande mestre do universalismo filosófico e teológico (Concílio Vaticano II: OT, 16; Código de Direito Canônico, cânon 252§ 3).

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Nascido em 1225, perto de Nápoles, Santo Tomás iniciou seus estudos com os mestres beneditinos. Em 1244, ingressou na Ordem dos Dominicanos. No ano seguinte, fiel à sua vocação religiosa, viajou a Paris, onde se tornou discípulo de Santo Alberto Magno, que era um grande sábio medieval. Em Paris, Santo Tomás se formou em teologia e lecionou durante alguns anos, com grande êxito. Voltou à Itália, onde foi nomeado professor na Cúria Pontifical de Roma. Em 1274, foi convocado pelo Papa Gregório X para participar do Concílio de Lyon.

Adoecendo durante a viagem, faleceu no mosteiro cisterciense de Fossanova, aos 49 anos de idade.

Santo Tomás de Aquino amou a verdade. Segundo o memorável Papa São João Paulo II, “nele, o Magistério da Igreja viu e apreciou a paixão pela verdade; o seu pensamento, precisamente porque se mantém sempre no horizonte da verdade universal, objetiva e transcendente, atingiu alturas que a inteligência humana jamais poderia ter pensado” (Encíclica “Fides et ratio” nº 44).

Santo Tomás, “ao mesmo tempo que, como é devido, distingue perfeitamente a fé da razão, une-as a ambas com laços de amizade recíproca: conserva os direitos próprios de cada uma e salvaguarda a sua dignidade” (Papa Leão XIII: Encíclica Aeterni Patris de 04/08/1879). A chamada Suma Teológica é a obra prima de Santo Tomás em que ele defende a capacidade da razão humana de conhecer a Deus a partir da criação: o mundo material e a pessoa humana.

Certa vez, o Papa Pio XI disse que “a Suma Teológica é o céu visto da terra”. O Papa Leão XIII havia recordado que a maior honra, porém, prestada a São Tomás, só a ele reservada e que nenhum dos doutores católicos pode partilhar, provém dos padres do Concílio de Trento que, nessa solene reunião, quiseram colocar aberta sobre o altar, ao lado das Sagradas Escrituras, a Suma Teológica de Santo Tomás para dela extrair conselhos, razões e decisões. Santo Tomás de Aquino foi canonizado em 1323 pelo Papa João XXII e proclamado Doutor da Igreja em 1567 pelo Papa Pio V.

Por fim, quero registrar aqui as seguintes palavras do saudoso Papa São Paulo VI, por ocasião do sétimo centenário da morte do Doutor Angélico: “Sem dúvida, Santo Tomás possuiu, no máximo grau, a coragem da verdade, a liberdade de espírito quando enfrentava os novos problemas, a honestidade intelectual de quem não admite a contaminação do cristianismo pela filosofia profana, mas tampouco defende a rejeição apriorística desta. Por isso, passou à história do pensamento cristão como um pioneiro no novo caminho da filosofia e da cultura universal. O ponto central e como que a essência da solução que ele deu ao problema novamente posto da contraposição entre razão e fé, com a genialidade do seu intuito profético, foi o da conciliação entre a secularidade do mundo e a radicalidade do Evangelho, evitando, por um lado, aquela tendência antinatural que nega o mundo e seus valores, mas, por outro, sem faltar às exigências supremas e inabaláveis da ordem sobrenatural; é, pois, com razão que Santo Tomás pode ser definido ‘apóstolo da verdade'” (Paulo VI, Carta Apostólica Lumen Ecclesiae, 8 de 20/11/1974).

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