O Natal nos ensina a viver


Por Dom Gil Antônio Moreira Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

29/12/2022 às 07h00

O Natal é a festa da união do Céu com a Terra. É a festa do olhar de Deus para a humanidade. Além disso, cabe-nos dizer que o Natal tem origem na Santíssima Trindade. Afinal, dela vem o Espírito Santo para fecundar o seio de Maria; dela é que nasce Jesus em Belém, Verbo que se fez carne, para ser o nosso Salvador.

Observemos ainda que, na festa do Natal, o número três sempre está evidente. Olhemos para o presépio: ali, nós encontramos três elementos, alguns bíblicos e outros acrescentados pela fé e piedade do povo. Esses acréscimos, contudo, não contradizem o enunciado bíblico.

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Primeiramente, encontramos, na gruta de Belém, José, Maria e o Menino: os três personagens principais da história da Salvação, sendo o Menino o centro de tudo. Ele é a luz que veio brilhar nas trevas, como afirma São João no começo do seu evangelho. “A luz brilhou nas trevas e as trevas não conseguiram dominá-la” (cf. Jo 1,5). A gruta certamente estava na escuridão quando José e Maria chegaram para que ela pudesse dar à luz. Certamente houve o acendimento de alguma chama, alguma candeia que teria sido preparada para o momento. A luz brilhou nas trevas, mas a luz verdadeira era aquela que vinha do céu: o Filho de Deus feito homem.

A piedade popular diz que eram três os pastores, como, geralmente, encontramos no presépio, um com a flauta, outro com as frutas e outro com o cordeiro, que vão oferecer ao Menino Jesus. Também quando contemplamos os magos, a Sagrada Escritura não diz o número deles, mas aos poucos o povo vai venerando-os como três pessoas, por causa dos três presentes – ouro, incenso e mirra. Ademais, três são os elementos presentes naquela noite na gruta de Belém: os anjos, as pessoas humanas e os animais, sobretudo o rebanho, que depois vai servir de comparação para Jesus dizer “Eu sou o pastor do rebanho, as minhas ovelhas conhecem a minha voz” (cf. Jo 10,27).

Nós encontramos, ainda, três outros elementos importantes no presépio: a luz anunciada por João, a Palavra anunciada pelos anjos e a divulgação dos fatos feita pelos pastores. Esses elementos nos conduzem a pensar o que deve significar o Natal para cada um de nós.

Em primeiro lugar, o Natal nos ilumina. Sua luminosidade nos invade. É uma festa de luz, por isso se multiplicam as luzes dos enfeites, das igrejas, casas, cidades e das árvores de Natal. São imagens que recordam que a verdadeira luz é Jesus. Portanto, a primeira atitude do cristão no Natal é deixar-se envolver pela luz que é Jesus. A luz do seu olhar, a luz do seu rosto, a luz das suas palavras, a luz da sua vida, as luzes das suas ações miraculosas devem nos envolver.
Em segundo lugar, nós devemos imitar os pastores e os magos e ir ao encontro do Menino Deus. É uma atitude que deve acontecer sempre, todos os dias. Nos momentos difíceis da nossa vida, Ele é Aquele que veio para nos salvar e também para nos aliviar. Está escrito no evangelho de Mateus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (cf. Mt 11,28-29). Mas não devemos procurá-Lo somente nos momentos difíceis, pois seria uma ingratidão irmos a Ele nestas horas e depois nos esquecermos de sua existência.

Em terceiro lugar, fazer aquilo que os pastores fizeram: anunciar Jesus aos demais. O Papa Francisco tem nos lembrado que a Igreja tem a missão de sair, de ser sempre missionária. É preciso anunciar Jesus neste mundo que muitas vezes quer combatê-Lo. Ele é o centro da festa do Natal. Dá-se muitos presentes, mas se esquece do principal presente que veio do céu, que é Cristo. Preocupa-se com ceias, mas se esquece que o nosso alimento é Jesus. Ele nos alimenta pela Palavra, pela Eucaristia, pela caridade que praticamos, pela paz que semeamos.

Por fim, com o Natal aprendemos que há coisas que são sagradas: que há um homem que é diferente de todos, que é Jesus; que Maria é diferente das mulheres, que embora seja igual no seu corpo e na sua psique, é diferente porque Deus a escolheu para ser a mãe do Salvador e não teve pecado. O Natal nos ensina o respeito do amor pelas coisas de Deus e nos impulsiona a anunciar como os pastores anunciaram, como os reis anunciaram e como os discípulos futuramente irão anunciar, que Jesus nasceu em Belém, nos ensinou o caminho do céu, deu a sua vida por nós e nos ensina a viver.

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